Cientistas usam impressão 3D para criar "blocos de construção" de células-tronco

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 04/11/2015 às 15:45

celulas-tronco

Promessa para o futuro da medicina regenerativa por sua capacidade de se transformarem em qualquer tipo de tecido do corpo, o que teoricamente permitiria que sejam usadas, por exemplo, para produzir novos órgãos para uma pessoa que necessite de um transplante de rim ou coração, as células-tronco ainda precisam superar muitos obstáculos rumo a efetivas aplicações clínicas neste sentido. Um deles é conseguir que formem grupos homogêneos, mas separados, que possam ser submetidos a um processo de diferenciação controlado, em que cada um destes “blocos”, tal qual peças de um brinquedo de montar, se torne um pedaço do músculo cardíaco, de um vaso sanguíneo, uma cartilagem ou qualquer outra estrutura biológica cujo conjunto forma um coração de fato.

Esta possibilidade, no entanto, agora está mais próxima graças a trabalho de pesquisadores das universidades Tsinghua, na China, e Drexel, nos EUA. Eles desenvolveram um método de impressão em 3D destes blocos básicos de construção biológica em que as células-tronco embrionárias continuaram a proliferar de maneira uniforme, denominados por eles de “corpos embrióides”.

"Foi realmente muito excitante ver que podíamos cultivar estes corpos embrióides de uma maneira tão controlada", conta Wei Sun, primeiro autor de artigo que relata o método, publicado na edição de hoje do periódico científico “Biofabrication”. "Os corpos embrióides produzidos são uniformes e homogêneos, servindo como um ponto de partida muito melhor para o posterior cultivo de tecidos.

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Homogeneidade

Segundo os pesquisadores, seu método se diferencia de outras técnicas mais comuns nas tentativas de produzir estes blocos de construção biológicos — o cultivo bidimensional em placas de Petri ou por “suspensão”, em que as células se acumulam via gravidade, como as estalagmites em uma caverna — justamente por esta homogeneidade e proliferação.

"Creio que produzimos um microambiente em 3D que é muito mais parecido com o encontrado in vivo, o que explica o nível maior de proliferação celular", destaca Sun.

Ainda de acordo com os cientistas, antes mesmo de chegar a ser fonte de matéria-prima para uma hipotética linha de produção de órgãos e tecidos, o método já é produtivo e confiável o suficiente para ser usado no fornecimento de material para outros pesquisadores realizarem experimentos com regeneração de tecidos ou testes de novos medicamentos.

"O próximo passo é descobrir como podemos variar o tamanho dos corpos embrióides com alterações nos parâmetros estruturais e de impressão, e como esta variação pode levar à “manufatura” de diferentes tipos de células", acrescenta Rui Yao, coautor do artigo.

Já no longo prazo os cientistas esperam desenvolver um método para produzir corpos embrióides que sejam heterogêneos de uma maneira controlada, ou seja, que cada uma de suas partes possa se diferenciar em variados tipos de células, replicando de forma ainda mais aproximada as condições de trabalho de uma eventual futura “fábrica de órgãos”.

"Isso vai permitir que diferentes tipos de células se desenvolvam umas ao lado das outras, o que abrirá caminho para o início do cultivo de micro-órgãos em laboratório do zero", conclui Sun.

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