Avião não tripulado vai coletar dados atmosféricos da Amazônia

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 14/10/2015 às 8:02

Foto: Divulgação. Foto: Divulgação.

Um avião solar não tripulado vai coletar dados atmosféricos de maneira inédita na Amazônia. O objetivo é levantar informações em área de difícil acesso que ajudam a entender a dinâmica da floresta. A empreitada será feita por cientistas do Laboratório de Sistemas Autônomos da universidade ETH, de Zurique, na Suíça.

O equipamento, batizado de AtlantikSolar, vai sobrevoar um trecho da floresta saindo de Barcarena em direção a Melgaço, onde fica uma parte da Floresta Nacional de Caxiuanã, no dia 22 de outubro.

O avião vai levantar, por meio de sensores, informações atmosféricas sobre ventos, umidade, temperatura e radiação em trechos da floresta antes nunca estudados. O voo do AtlantikSolar foi autorizado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e pelo Cindacta IV de Manaus (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo).

Hoje, o Brasil coleta esse tipo de informação na floresta por meio de redes de estações meteorológicas de superfície e por meio de balões. “A Amazônia tem extensas áreas de floresta densa, fechada, cujo acesso é dificílimo e a logística é muito complicada. Por isso, a instalação de sensores de superfície e, principalmente, a sua manutenção, são um desafio muito grande e dispendioso”, diz Carlos Alberto Freitas, Gerente Regional de Belém do Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), um dos parceiros locais do projeto.

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Informações meteorológicas são importantes para entender a dinâmica da floresta. Muitos estudos já realizados na Amazônia mostram, por exemplo, que grande parte da umidade do Oceano Atlântico é transportada pelos ventos para a floresta amazônica, interage com os ciclos biogeoquímicos da floresta e continua sendo transportada até as regiões Sudeste e Sul do país, levando chuva. “Toda informação adicional passível de ser obtida permite que avancemos no conhecimento e nos possibilita compreender melhor como a natureza e a sociedade podem ser influenciadas pela variabilidade natural do clima”, diz Freitas.

Para os suíços, o voo servirá como um teste para averiguar a autonomia e a resistência da aeronave em condições climáticas diferentes das encontradas nas Europa. Todos os dados coletados no voo, no entanto, ficarão a cargo do Censipam, que cuidará da disponibilização das informações aos parceiros. Os dados podem ajudar na condução de novos estudos sobre a região amazônica.

O equipamento também possui uma câmera de alta resolução capaz de criar imagens em 3D e em infravermelho, o que pode ajudar a encontrar pessoas e animais em situações de desastre ou de difícil acesso –como refugiados no mar.

Em teste recente, os criadores do AtlantikSolar já tinham conseguido uma autonomia de voo de 81 horas seguidas, de 14 a 17 de julho, na Suíça, um recorde mundial para aeronaves não tripuladas com menos de 50 kg. “Agora, a ideia é sobrevoar uma região completamente desconhecida”, diz Oettershagen. A longo prazo, os cientistas planejam cruzar o Oceano Atlântico –daí vem o nome do equipamento.