Exercícios físicos ajudam no controle da diabetes, diz estudo

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 19/03/2015 às 11:03

Células pancreáticas com a insulina marcada em vermelho. (Foto: Agência Fapesp). Células pancreáticas com a insulina marcada em vermelho. (Foto: Agência Fapesp).

Um novo estudo conduzido por cientistas brasileiros mostraram que uma substância secretada pelos nossos músculos como resposta aos exercícios físicos pode aumentar a sobrevivência das células do pâncreas produtoras de insulina.

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descobriram que a substância interleucina 6 (IL-6), produzida nos músculos após exercícios aumenta a sobrevivência das células pancreáticas produtoras de insulina em um modelo de diabetes do tipo 1. Os resultados foram divulgados em artigo publicado no The FASEB Journal. Também mereceram destaque na seção “Research Highlights” da revista Nature Reviews Endocrinology.

“Além de reforçar a importância da atividade física no controle do diabetes, a descoberta abre caminho para o desenvolvimento de drogas que simulem a ação da IL-6 no pâncreas”, disse Claudio Cesar Zoppi, pesquisador do Laboratório de Pâncreas Endócrino e Metabolismo do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional da Unicamp e um dos autores do artigo.

O diabetes do tipo 1 é provocado pelo ataque autoimune às células beta produtoras de insulina, explicou o pesquisador. À medida que as células morrem, a produção do hormônio vai se tornando insuficiente para controlar os níveis de açúcar no sangue.

Estudos recentes já haviam mostrado que, em portadores de diabetes do tipo 1 e também do tipo 2 (casos em que a produção de insulina é elevada, porém há resistência de certas células à ação do hormônio), a adoção de um programa de treinamento físico melhora tanto a sobrevivência como a função das células beta.

Resultados da literatura científica também indicam que a atividade física não apenas torna o ambiente do pâncreas mais favorável à sobrevivência das células – reduzindo, por exemplo, a glicemia, a inflamação e os triglicérides – como também induz adaptações diretas nas células beta.

“A pergunta que tentamos responder neste estudo foi: quais mecanismos moleculares e intracelulares são alterados nas células beta pelo exercício físico e como esse sinal chega até o pâncreas?”, disse Zoppi.

Para desvendar o enigma, diversos experimentos foram realizados durante o pós-doutorado de Flávia Maria Moura de Paula, realizado com Bolsa da FAPESP e supervisão do professor Antonio Carlos Boschero, da Unicamp. Boschero e Zoppi também estão ligados ao Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC, na sigla em inglês), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP.

Em um dos modelos, camundongos saudáveis foram submetidos durante dois meses a um programa de treinamento físico de resistência, ou seja, de longa duração e baixa intensidade. Após esse período, os pesquisadores coletaram amostras de ilhotas pancreáticas, estrutura nas quais se situam as células beta produtoras de insulina.

As ilhotas dos camundongos treinados apresentaram taxa de mortalidade 50% menor que as dos camundongos sedentários, pertencentes ao grupo controle. Veja o estudo completo.