Campus Party: Mulheres buscam mais espaço e menos preconceito no mercado de TI

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 06/02/2015 às 15:17

Mubarik Ilam, do WhatsApp e Gabriela Viana, da Xiaomi: "as mulheres são mais cobradas". (Divulgação). Mubarik Ilam, do WhatsApp e Gabriela Viana, da Xiaomi: "as mulheres são mais cobradas". (Divulgação).

A questão da equidade de gênero sempre pautou discussões nas diversas áreas do trabalho. Mas agora o mercado de tecnologia e inovação começa a ser debater o assunto com mais afinco. A presença de mulheres CEO em gigantes de tecnologia é bastante baixo, mas o número de executivas vem aumentando a cada ano, assim como a quantidade de meninas que ingressam em cursos de engenharia e programação. Mas ainda assim, é um número menor que os homens. Mas além da representatividade há ainda outra questão: o preconceito.

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Na Campus Party diversas iniciativas deram uma maior visibilidade às mulheres e buscaram reparar a baixa representação delas na TI. A Fundação Telefonica em parceria com a Fundação Lemann criaram um hackathon exclusivo para elas, o Techinovation/Programaê. A ação global espera estimular jovens mulheres a criarem aplicativos para solucionar problemas sociais. As vencedoras irão participar de um pitch internacional, no Vale do Silício, para concorrer a um prêmio de U$ 10,000 em financiamento para o projeto.

"Quando criamos o projeto do Programaê vimos que os jovens brasileiros tinham muito interesse em criar aplicativos e soluções, mas tinham pouco incentivo", explicou Gabriella Bighetti ao NE10. "Ou seja, tínhamos um cenário positivo com muitas barreiras. E dentro desse panorama, ainda havia outro ponto que era o baixo número de meninas interessadas". As fundações decidiram criar dois programas para incentivar a programação de código, sendo um deles para as mulheres.

"A questão de gênero é algo cultural e não está ligado apenas ao mercado de TI. As mulheres não podem ficar longe desse momento e por isso é necessário incentivar seu ingresso e crescimento. Uma mulher programadora traz um olhar feminino que, em geral, o homem não possui. Esse equilíbrio é benéfico para a indústria".

Gabriela Bighetti: Incentivo para as meninas (Divulgação). Gabriela Bighetti: Incentivo para as meninas (Divulgação).

"Cale a boca", nada

Uma mesa na Campus Party deste ano discutia a presença das mulheres no mercado de tecnologia. Com um tom entre o político e o motivacional foi debatido questões como a dupla jornada e as pressões sofridas por elas quando estão em uma posição de liderança dentro de uma grande empresa.

Laura González-Estéfani, mãe de três filhos e diretora de parcerias na América Latina do Facebook diz que as mulheres são muito cobradas quando precisam se dedicar ao trabalho tanto quanto os homens. "Saiba dizer não e se posicionar quando perceberem uma injustiça, quando forem cobradas pelo fato de mudarem de cidade ou passarem mais tempo longe da família", disse. "As mulheres precisam ser valentes". Laura acredita que a representatividade das mulheres na tecnologia vem aumentando e que elas precisam lutar por esse espaço.

Já Mubarik Mubarik Imam, diretora de desenvolvimento do Whatsapp disse que vivenciou episódios de claro preconceito. O segredo, segundo ela, é se agarrar à autoestima e perceber que o erro do machismo é dos outros. "Estive uma vez em uma mesa de diretoria de uma certa empresa e todos eram homens. Eles pareciam não muito confortáveis em ouvir o que eu tinha a dizer", disse. "Em outro momento um diretor passou por trás de mim e disse 'cale a boca tá bom'?

Gabriela Viana, diretora de marketing da Xiaomi diz que os desafios são grandes para administrar uma carreira de executiva com a maternidade, mas não é algo proibitivo. No caso dela, se mudar para a China, é um desafio ainda maior. "Sofria muito quando meu filho dizia 'quando vamos voltar para a casa'".

https://www.youtube.com/watch?v=IuJPX_JL_bs

O olhar feminino como um feature

A importância da mulher no mercado de tecnologia precisa ser melhor entendido por empreendedores. Na construção de um produto, o olhar feminino é uma vantagem competitiva. "Quando programamos trazemos um olhar feminino, com suas especificidades, diferenças. Isso acaba gerando um produto mais completo", disse Imam. "Todas as empresas querem atingir todas as pessoas".

"Os homens são mais competitivos e possuem mais autoconfiança, em geral. Já as mulheres são mais colaborativas. Temos que acreditar em nós mesmas para passar por cima do preconceito", disse Luciana Caletti, da startup Love Mondays durante outra mesa da Campus, voltada para mulheres empreendedoras. "Temos que trabalhar melhor nossa autoestima pois somos mais julgadas neste mercado de tecnologia", explica. Ela disse ainda que a mulher precisa provar o tempo inteiro sua capacidade e valor. "Quando estamos em uma reunião de trabalho é comum ouvirmos algum desenvolvedor dizer 'agora vamos falar de uma parte técnica', presumindo que não temos noção do que iremos ouvir a partir dali".

Vale a pena conhecer a rede Mulher Empreendedora.

Mesa discutiu a mulher empreendedora. (Divulgação). Mesa discutiu a mulher empreendedora. (Divulgação).