Sonda Rosetta encontra material orgânico no cometa e revela que ele flutuaria na água

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 23/01/2015 às 15:54

Primeiras descobertas no cometa 67P começaram a sair. (Divulgação/ESA). Primeiras descobertas no cometa 67P começaram a sair. (Divulgação/ESA).

Os cientistas fizeram descobertas impressionantes no cometa 67P Churyumov-Gerasimenko, onde o robô Philae pousou em novembro do ano passado. As observações foram publicadas em sete artigos científicos publicados nessa quinta no jornal Scince. Entre os temas abordados estão a baixa densidade do cometa, suas formações rochosas estranhas e material orgânico em sua superfície.

A mais impressionante de todas é a revelação de que o cometa possui dunas e declives semelhantes aos encontrados em Marte ou na Terra. Mas o que intriga os cientistas é o seguinte: como é possível que um asteroide sem atmosfera ou vento e apenas uma fração de gravidade pode abrigar tais formações rochosas?

Em algumas partes do asteroide há até mesmo formações circulares. "É muito, muito bizarro", disse Dr. Nicolas Thomas, professor de física teórica da Universidade de Berna, na Suíça e parte da equipe da sonda Rosetta, ao NYTimes.

O cometa 67P possui uma formação irregular, parecido com um pato de borracha, com duas regiões grandes nos polos e um centro mais estreito. Até então os cientistas acreditavam que o astro se formou do choque de dois objetos grandes que se aglutinaram. Agora com as descobertas reveladas pela Philae, diversas outras teorias estão sendo consideradas.

Como todo asteroide, o 67P é formado por gelo e poeira. Conforme se aproxima do sol e se aquece, ele emite jatos de água. Isto pode ter gerado as formações estranhas fotografadas pela sonda-robô. Esses jatos poderiam atuar como vento e as partículas se uniriam por uma atração intermolecular conhecida como "força de van der Waals" em vez de gravidade. Mas ainda é cedo para dizer isso. "É o plausível, ao menos para este momento", disse o professor Thomas.

67P pode guardar informações da formação do Sistema Solar. (Foto: AFP). 67P pode guardar informações da formação do Sistema Solar. (Foto: AFP).

Material orgânico

Outra descoberta, esta já esperada, foi a presença de material orgânico em toda a superfície do cometa. Alguns são semelhantes aos aminoácidos que formaram a vida no Planeta Terra. "A formação desses compostos requer a presença de gelo de moléculas voláteis, como metano, metanol ou monóxido de carbono, que congelam em temperaturas muito baixas. Por isso, eles devem ter se formado a uma grande distância do Sol. Nós podemos estar diante de um cometa que traz, em seu interior, traços dos compostos químicos primordiais que datam da formação do Sistema Solar ou até mesmo antes", disse o italiano Fabrizio Capaccioni, da Missão Rosetta.

Outras descoberta foi sobre a densidade do cometa, que é bem menor do que se esperava. Acreditava-se que ele tinha de 1.500 a 2.000 quilogramas por metro cúbico. No entanto, os cientistas observaram apenas 470 kg/m³, bem menor do que a densidade da água, que é de 999,97 kg/m³. Ou seja, caso o cometa caísse no oceano da Terra, ele flutuaria. O 67P tem um interior poroso como uma esponja.

Ele também é bem escuro. Sua superfície reflete cerca de 7% do que a Lua reflete, para efeitos comparativos. Isso o torna um dos objetos mais escuros em todo o nosso sistema solar. Segundo os artigos publicados isso se dá por conta da presença de sulfato de ferro e outros minerais à base de carbono que recobrem sua superfície.

Rosetta possui formações rochosas que desafiam cientistas. (Divulgação/ESA). Rosetta possui formações rochosas que desafiam cientistas. (Divulgação/ESA).

Longa viagem

A sonda Rosetta, da Agência Espacial Europeia, percorreu 4 bilhões de quilômetros em uma viagem de 10 anos para alcançar o cometa 67P. Em novembro do ano passado ela lançou o módulo Philae no cometa. No entanto, o pequeno robô caiu em um declive e ficou impossibilitado de recarregar as baterias com energia solar.

Por isso, os cientistas o colocaram em modo suspenso à espera de uma nova possibilidade para usar a energia do Sol para recarregá-lo. Antes disso, Philae realizou diversas fotografias e fez análises que foram enviadas à Terra. Uma pequena parte dessas informações foram divulgadas agora pelos cientistas.

A Rosetta está atualmente a 29 quilômetros do cometa, mas a Agência Espacial Europeia espera que em fevereiro ela se aproxime a seis quilômetros da superfície para registrar mais imagens. [Via Science, NYTimes]