Malaysia Airlines: A tecnologia usada nos aviões comerciais está obsoleta?

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 12/03/2014 às 10:25

Foto: AFP. Foto: AFP.

O mundo hoje possui tecnologia para saber praticamente tudo sobre todos: nossos dados são coletados quando acessamos o email, fazemos compras e pesquisamos na rede. E em um mundo hiper-conectados, o desaparecimento repentino de um avião levanta um debate sobre as tecnologias atuais usadas na aviação civil. Como o avião da Malaysia Airlines sumiu sem deixar nenhum rastro?

O debate sobre as caixas-preta, equipamento que faz um registro físico de tudo o que acontece no avião, começou após o sumiço da aeronave, na última semana. Fontes da indústria da aviação civil concordam que já existe a tecnologia necessária para as empresas aéreas começarem a usar informações transmitidas via satélite, substituindo o sistema de registro físico usado hoje.

Mas resta a dúvida de se as empresas, sempre buscando reduzir os gastos por estarem em um mercado altamente competitivo, estarão dispostas a investir o dinheiro necessário - e até mesmo se o investimento valeria a pena. "Não existem barreiras técnicas (...) E as barreiras financeiras podem ser superadas", explicou à AFP Peter Goelz, ex-diretor do NTSB, órgão do governo americano que investiga acidentes aéreos e faz recomendações de segurança para o setor. "Mas, na realidade, as empresas aéreas não querem fazer nada além do que são obrigadas", acrescentou.

Os aviões geralmente carregam duas caixas-pretas - que são, na verdade, laranjas. Uma delas capta as conversas dentro da cabine, enquanto a outra registra uma série de dados, desde a velocidade da aeronave até o funcionamento das turbinas. As caixas vêm sendo um ótimo instrumento para entender acidentes, mas são difíceis de localizar quando o desastre acontece no mar.

Alto custo

Outra fonte importante são os ACARS, sistema de mensagens curtas enviadas digitalmente, contendo informações limitadas sobre a localização e a velocidade do avião. Não se compara, entretanto, ao montante de dados guardado por uma caixa-preta.

A Malaysia Airlens informou que todas suas aeronaves são equipadas com ACARS, mas se recusou a liberar as informações que tem sobre o voo 370. Há 12 anos, a empresa americana L-3 estimou em US$ 300 milhões o custo anual para uma companhia aérea transmitir dados em tempo real, segundo a revista "Bloomberg Businessweek".

Mas Goelz diz que "não há razão para transmitir todas as informações o tempo todo". Os sistemas poderiam ser programados para emitir um percentual limitado de dados em situações normais e aumentar esse número quando anormalidades no voo fossem detectadas.

Para incentivar as empresas aéreas a investir nessa tecnologia, Goelz sugere pressão do governo, como aconteceu na implementação de detectores de fumaça e de um sistema que evita colisões entre aviões. "A tecnologia existe, mas a questão é: por que gastar o dinheiro?", opinou John Cox, ex-piloto e presidente da consultora aérea Safety Operating Systems.

Não apenas haveria um "número massivo de dados" para se lidar, como também a possibilidade de que sejam mal-interpretados, ou usados de maneira incorreta, afirmou Cox à AFP. "Historicamente, não é como se nós tivéssemos um grande número desses aviões desaparecidos (...) E não é como se nós não estivéssemos descobrindo a causa dos acidentes com a tecnologia que nós temos", insistiu.

Principais teorias

As principais teorias para o acidente com o Boeing da Malasyan são os seguintes:

Uma falha estrutural: Problemas na fuselagem foram descartados, pois os Boeing 777 não tem histórico de corrosão ou desgastes na sua estrutura de alumínio. Pressurização e despressurização também foram descartados, pois a aeronave é usada em voos longos, menos sujeitos a decolagem e aterrisagem.

Mau tempo: Assim como aconteceu no desastre de junho de 2009 com o avião da Air France, fortes temporais poderiam ter comprometido a aeronave. Seria algo tão forte que não teria dado tempo para os pilotos pedirem ajuda. Mas, segundo a Malaysia Airlines, não houve registros de mau tempo na rota.

Sequestro ou ataque à bomba: A opção de terrorismo chegou a ser descartada no início dessa semana, mas já voltou a ganhar força.

Falha dos motores: Formação de gelo no sistema de combustível ou uma pane pode ter comprometido os motores. Mas, ainda assim o avião teria planado por cerca de 20 minutos, o que daria tempo para uma chamada de emergência.

Desorientações dos pilotos ou suicídio: Falha humana já causou outros acidentes no passado. Uma hipótese levantada indica que um dos pilotos teria saído de rota sem perceber. Nos anos 1990, dois aviões caíram intencionalmente, segundo a Reuters. Mas um suicídio nunca constou nos relatórios. [Com AFP e Visão.PT]