Bicicletas fazem sucesso, mas indústria reclama de falta de incentivo do Governo

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 22/02/2014 às 10:47

Foto: Fábio Jardelino/NE10. Foto: Fábio Jardelino/NE10.

Com o trânsito cada vez mais insuportável e uma maior demanda por qualidade de vida nas cidades, as bicicletas vão ganhando cada vez mais prestígio como meio de locomoção. E a indústria já começou a perceber isso - no Brasil e no mundo.

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O Brasil é hoje o terceiro maior fabricante de bicicletas no mundo, em uma lista de 32 países, atrás apenas da China e Índia. Foram 5 milhões de unidades fabricadas em 2013, segundo dados da Aliança Bike, associação brasileira do setor. No Grande Recife, o uso desse transporte se popularizou por conta de políticas públicas de acesso, como o Porto Leve e o Bike PE, que disponibilizam aluguéis em diversos pontos de Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes.

Desde maio de 2013 foram mais de 120 mil viagens. Atualmente são mais de cinquenta estações e pelos menos outras 20 estão previstas para este ano. Na quinta (19), o prefeito do Recife, Geraldo Júlio divulgou uma ação para transformar em passeio público a avenida Rio Brando, no Bairro do Recife, fechando o acesso aos carros e aumentando o espaço para pedestres e ciclistas.

Bicicleta mais cara do mundo

Mas há uma contradição entre tantas boas notícias. O Brasil ainda tem a bicicleta mais cara do mundo. Apesar do incentivo do Governo, o imposto que incide sobre a fabricação de uma bike é de 40,5%, enquanto que um carro popular paga de tributos o valor de 32%. Em novembro do ano passado, a Associação Brasileira da Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Bicicletas, Peças e Acessórios (Abradibi), propôs um projeto de Imposto Zero para as bikes durante o evento Brasil Cycle Fair.

"Nós da Abradibi acreditamos que com a mobilização de quem conhece essa dissonância provocada pela ausência de uma política de incentivo econômico ao setor de bicicleta, suas peças e acessórios, poderemos reverter essa situação. Hoje, a bicicleta brasileira é a mais cara do mundo", disse em comunicado. A diretora executiva da Abradibi, Ana Lia de Castro, criticou os altos impostos. "É lamentável que o governo federal, que por um lado promove saudáveis políticas públicas em prol da mobilidade, seja o mesmo governo que tem adotado uma política protecionista extrema neste setor, aprovando soluções restritivas às necessárias e indispensáveis importações, e medidas antidumping por extensos períodos, que aumentam o custo das importações, além de impedir que o Congresso Nacional avance nos inúmeros Projetos de Lei que propõem a isenção de IPI e PIS/COFINS para as bicicletas e suas peças."

Esse também é um dos motivos que fazem o brasileiro ter uma das piores taxas per capita de uso da bicicleta. Apesar de ser o terceiro maior produtor mundial, somos o 22º na utilização (entre 32 países). Quem lidera são Eslovênia, Dinamarca e Japão, lugares que são conhecidos por terem um trânsito bastante amigável para quem pedala.

O Grande Recife se prepara para ter a maior malha cicloviária do País. Em um projeto apresentado no início deste mês, diversos bairros e também estradas receberão ciclofaixas, ciclovias e ciclorotas até 2024, totalizando 590 Km. A chamada "rede metropolitana", com 244 quilômetros de ciclovias será implantada pelo Governo do Estado e será responsável pela articulação intermunicipal. A "rede complementar" fará conexão com os terminais de transporte coletivo e ficará a cargo da Prefeitura do Recife. Também estão previstos 60 bicicletários, com 19 mil vagas.

Hoje no Brasil quem detém o título de maior malha ciclovia urbana é o Rio de Janeiro, com 240 Km. Foi também o Rio quem primeiro implantou o sistema de aluguel de bikes, o Bike Rio, criado pela empresa pernambucana Samba Mobilidade, do grupo Serttel.