Novo aplicativo Tubby é tão machista quanto o rival Lulu (mas um pouco mais perverso)

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 02/12/2013 às 18:03

Ilustração: Bruno de Carvalho/NE10 Ilustração: Bruno de Carvalho/NE10

O aplicativo Tubby abriu nessa segunda (2) a possibilidade das usuárias bloquearem seus perfis para que homens não consigam avaliá-las. O app é uma retaliação ao Lulu, em que mulheres dão nota e criam hashtags aos ex-parceiros baseado na performance na cama, cordialidade, dinheiro, entre outros quesitos.

No Tubby, os homens baseiam suas avaliações basicamente no quesito sexo. Criado por três desenvolvedores brasileiros que não revelam a identidade, o app permite que homens classifiquem mulheres com quem já se relacionaram usando hashtags como "#GemeNaCama", "#EngoleTudo" e "#CurteTapas", entre outras bem mais pesadas.

Ao solicitar o descadastramento do perfil, aparece a mensagem "Fulana arregou e não está mais no Tubby". Como lembra o BlueBus, é recomendado que depois da remoção seja revogado o acesso ao Tubby de sua conta do Facebook. O aplicativo estará disponível para uso a partir do dia 4 de dezembro. Ele usa informações do usuário no Facebook para levantar informações das usuárias e é gratuito (disponível no iOS e Android).

Segundo um dos desenvolvedores, o aplicativo não tem medo de ser chamado de machista. "Ele é um app para homens relatarem suas experiências, apenas. Não o consideramos machista e nem queremos passar esta imagem", disse em entrevista ao OlharDigital. Ele afirmou que também será desenvolvido um algoritmo para garantir que as hashtags não sejam tão ofensivas.

A polêmica dessa "retirada" é que ele segue uma lógica reversa. Os criadores dizem que se trata de um "direito" da usuária, mas para poder sair do aplicativo é necessário conceder acesso ao seu perfil no Facebook. Parte da premissa da participação automática, mesmo que não tenha concedido tal acesso.

Dentro das configurações do Facebook essa função está dentro das normas de privacidade e faz parte do campo "Aplicações que outras pessoas utilizam". É possível reverter essas permissões nas configurações.

Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Lulu e o falso poder das mulheres

O Lulu surgiu dias atrás e movimentou a internet ao sugerir um suposto empoderamento das mulheres contra os homens. No entanto, tanto o Tubby quanto o Lulu são machistas a seu modo.

A blogueira Clarissa Wolf, do Catárticos, escreveu que o Lulu, apesar de incomodar alguns meninos, não dá nenhum poder às mulheres. "[O app] dá espaço pra premiar ou punir homens segundo critérios completamente dentro do padrão machista que a nossa sociedade vive mergulhada. Quer dizer, ao avaliar o cara no quesito 'Educação', a pior resposta é 'pede para você pagar o motel'". Laís Montagnana, no blog Casal Sem Vergonha (que mantém um blog e um canal no YouTube) escreveu que o Tubby apenas leva para o virtual o tratamento que as mulheres recebem de alguns homens.

"Por exemplo, se você escuta um 'ô lá em casa' ou 'gostosa', é o equivalente no Tubby a uma nota 9,0 acompanhada de #ComeriaTodinha #JeitoDeSafada #ChupariaInteira. Agora, se você escuta um “linda” (tipo nota 8,0), mas responde pro cara, manda ele cuidar da vida dele, tomar no cu e etc., aí você perde uns três pontos e ainda ganha #MalAmada #MalComida #DormiuDeCalçaJeans no seu perfil porque o patriarcado não gosta de mulheres respondonas." Vale a pena ler o texto completo.

Mais do que uma guerra dos sexos com propósito de diversão, o Lulu e o Tubby podem estar servindo para dar vazão à forma distorcida como lidamos com a questão de gênero na internet. Diferentemente de aplicativos mais pragmáticos como o Tinder e o pioneiro Grindr no caso dos homens gays, esses novos apps podem ser pura objetificação e machismo.