Governo brasileiro quer criar e-mail nacional contra espionagem

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 02/09/2013 às 17:10

Embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon segue pressionado (Agência Brasil) Embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon segue pressionado (Agência Brasil)

O Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse nessa segunda (2) que vai solicitar aos Correios a criação de um email nacional. A ideia é que esse novo serviço seja protegido contra espionagem. Esse anúncio é uma clara resposta às denúncias de espionagem da presidente Dilma Rousseff pelo serviço de inteligência dos EUA, a NSA.

Bernardo não deixou claro como funcionaria esse email e quais garantias ele teria contra a espionagem. A previsão para lançamento é para o segundo semestre de 2014. Ele será vendido como um sistema seguro contra bisbilhotices. É também uma alfinetada em serviços que mantém servidores fora do Brasil e não garantem a total privacidade do usuário.

Segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência, as duas reuniões previstas para esta segunda já terminaram. A primeira foi às 10h e contou com a presença dos ministros José Eduardo Cardozo, do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito e da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho. Depois, logo em seguida, Dilma falou com os ministros das Comunicações, Paulo Bernardo, da Defesa, Celso Amorim, e das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, além de Cardozo.

Brasil seria um dos principais alvos da espionagem americana (Foto: AFP) Brasil seria um dos principais alvos da espionagem americana (Foto: AFP)

Segundo a secretaria, nenhum ministro falou. E também hoje, o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, foi ao Itamaraty falar com o chanceler Figueiredo Machado. Ele saiu sem falar com a imprensa.

Esse assunto da espionagem foi discutido na visita do secretário de Estado americano, John Kerry, em agosto, após a qual o Brasil considerou que as explicações não eram satisfatórias.

O ministro brasileiro da Justiça viajou semana passada aos Estados Unidos para abordar o assunto e se reuniu com o vice-presidente Joe Biden. Cardozo informou que o governo americano rejeitou uma proposta brasileira de negociar um acordo bilateral relativo às atividades de espionagem.

Reportagem da Globo usou documentos vazados por Snowden (Reprodução) Reportagem da Globo usou documentos vazados por Snowden (Reprodução)

Entenda as novas denúncias

As denúncias fazem referência a um documento atribuído à Agência Nacional de Segurança (NSA na sigla em inglês), segundo o qual comunicações da presidente Dilma Rousseff foram monitoradas, assim como as do mexicano Enrique Peña Nieto, então candidato à presidência.

Caso as informações sejam confirmadas, seria uma situação "inaceitável", disse o ministro da Justiça do Brasil, José Eduardo Cardozo. A reportagem contou com a colaboração do jornalista Glen Greenwald, do jornal britânico The Guardian, que divulgou os documentos do ex-técnico de informático Edward Snowden, procurado pelos Estados Unidos.

Greenwald vive no Rio de Janeiro e se reuniu com Snowden em junho em Hong Kong. Procurada pela AFP, a embaixada americana não quis comentar a convocação do embaixador em Brasília. Um porta-voz da Presidência mexicana consultado pela AFP também indicou que não comentará o caso no momento. Dilma fará uma visita de Estado a Washington em outubro.

A presidente, Peña Nieto e Barack Obama são esperados na cúpula do G20, que reunirá as maiores nações industrializadas e emergentes no final desta semana em São Petersburgo, na Rússia.

O governo brasileiro já havia pedido explicações aos Estados Unidos e indicado que poderia levar o caso a organismos internacionais, depois que o jornal O Globo divulgou em julho que o Brasil fazia parte de uma rede de 16 bases de espionagem operadas pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos, que monitoraram milhões de chamadas telefônicas e e-mails. [Com informações da AFP e Agência Brasil]