Edward Snowden, o homem por trás dos vazamentos sobre a ciberespionagem americana, revela sua identidade

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 10/06/2013 às 11:47

snowden

Ex-funcionário da CIA de 29 anos mora hoje em Hong Kong e tem consciência que os EUA irão puni-lo. Agora, ele espera encontrar asilo

Nesse domingo, a fonte que vazou o esquema de ciberespionagem dos EUA revelou sua identidade em uma longa entrevista ao jornal inglês The Guardian. Edward Snowden é um jovem de 29 anos que trabalha em uma empresa que presta serviço à Agência de Segurança Nacional (NSA). Hoje, ele se refugia em Hong Kong e diz que não está arrependido do que revelou ao mundo. "Não tenho intenção em esconder quem sou pois sei que não fiz nada de errado".

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Ao Guardian, Snowden contou detalhes de sua vida atualmente. Ele mora em hotéis e vive um cotidiano restrito para não ser descoberto. Ele acredita que revelar sua identidade ao mundo trará mais segurança. Ao se refugiar em Hong Kong, ele citou "a sólida tradição de liberdade de expressão" da cidade e disse esperar que as autoridades não o extraditem para os Estados Unidos. Também revelou que pretende pedir asilo ao governo da Islândia, país com reputação de apoiar "os que defendem a liberdade na internet".

O consulado americano e as autoridades de Hong Kong se recusaram a confirmar nesta segunda-feira a presença no território de Edward Snowden. "Não temos nada neste momento", declarou à AFP Scott Robinson, diretor adjunto de Assuntos Públicos do consulado dos Estados Unidos em Hong Kong. O Departamento de Segurança de Hong Kong, responsável por temas como imigração, polícia e serviços de inteligência, também se recusou a fazer comentários.

Estados Unidos e Hong Kong assinaram um tratado de extradição em 1996, um ano antes da administração do território, uma ex-colônia britânica, retornar à China. Mas qualquer tentativa americana de aplicar o acordo no caso será delicada, já que Pequim tem a possibilidade de vetar uma extradição quando envolve a "defesa, os assuntos estrangeiros, o interesse público ou a política" da China. O consulado islandês em Hong Kong também não comentou o caso e se recusou a informar se Snowden entrou em contato com a representação.

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Ideológico

Snowden disse ao Guardian que não se considera um herói, já que, de certa forma, agiu em interesse próprio. "Não quero viver em um mundo onde a vigilância foi banalizada", disse. "Quero que o foco de atenção sejam os documentos e o debate que espero que gerem entre os cidadãos de todo o mundo sobre o tipo de mundo em que querem viver. Minha única motivação é informar o público do que fizeram em seu nome e o que se faz contra ele". Ele está em Hong Kong há 20 dias desde que saiu de sua casa no Havaí, onde mora com a namorada. Snowden teme por sua família - chega a chorar nessa parte da entrevista - e disse que oficiais da inteligência americana já foi duas vezes em sua residência em sua procura.

Snowden já serviu nas forças armadas americanas no Iraque, quando segundo ele, se decepcionou com o tratamento dado aos árabes. Depois, ele trabalhou no departamento de tecnologia da informação da CIA. Durante uma missão em Genebra, ele se surpreendeu com os métodos usados pelos espiões americanos para obter informações. Já com posse de documentos confidenciais, ele pensou à época em fazer vazamentos. Desistiu pois acreditava que iria causar mais danos já que os documentos envolviam pessoas. Outro fato foi a eleição de Obama em 2008, que lhe deu esperança que uma nova era mais transparente e justa iria chegar. O que, segundo sua opinião, não aconteceu.

Nesta manhã de segunda, a Casa Branca emitiu um documento afirmando que abriu uma investigação criminal para apurar os vazamentos. Há a possibilidade de Snowden ser extraditado para os EUA onde seria indiciado por crime de traição. "Sei que o governo fará de tudo para me punir", disse o jovem. Ainda durante a entrevista, Snowden afirmou que fez tudo por ideologia, já que as informações que tinha em mãos poderiam ser vendidas para empresas ou países, o que lhe renderia muito dinheiro.

O que foi o Prism

Na semana passada, os jornais Washington Post e Guardian divulgaram um esquema de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) com participação de nove gigantes de tecnologia, entre elas Google, Facebook, YouTube e Apple. O alvo seriam estrangeiros fora dos EUA. O programa foi instituído no governo Bush e foi ampliado durante a gestão Barack Obama. O escândalo repercutiu em todo o mundo.

O vazamento de um power point mostrando detalhes do Prism partiu do Brasil. O ex-advogado e jornalista Glenn Greenwald recebeu o documento de Edward Snowden e publicou as informações. A Casa Branca criticou a revelação das informações e disse que isto é um perigo para a segurança dos EUA. Toda essa história foi péssima para a popularidade de Obama, que foi eleito prometendo mais transparência em seu Governo. [Via The Guardian, AFP, EFE]