Dois anos depois, mistério sobre óleo nas praias do Nordeste continua

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jamildo

Publicado em 17/04/2021 às 11:10
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Uma das principais instituições da região Nordeste a conduzir uma pesquisa emergencial a respeito do derramamento de petróleo nas praias nordestinas, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) segue trazendo à tona a discussão sobre o desastre do vazamento do óleo, ocorrido em agosto de 2019.

O tema “O desastre do petróleo e as atividades litorâneas no Nordeste do Brasil” entrará em pauta no segundo webinário do “Ciclo de Debates Virtuais de Frente Pra Costa 2021”, no dia 30 de abril, às 10h, com transmissão ao vivo no canal da Fundaj no YouTube.

Realizado pela Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes) e pelos Centros de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) e de Cultura, Identidade e Memória (Cecim), o evento virtual receberá quatro palestrantes: Luís Henrique Romani, diretor da Dipes; Carlos Alberto Pinto dos Santos, da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (Confrem); Marcelo Soares, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC); e Claudio Sampaio, professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL – Penedo). A mediação fica sob comando do pesquisador da Fundaj Tarcisio Quinamo.

Devido ao desastre, resquícios de petróleo chegam até hoje às praias, deixando marcas, dúvidas e questionamentos. “O desastre causou grande impacto no ambiente costeiro e na vida de milhares de pessoas que de alguma forma dependem desses ambientes como fonte de renda e alimento. Isso impactou profundamente na dinâmica dos ambientes costeiros, repercutindo de forma grave em atividades humanas que direta ou indiretamente deles dependem, como as associadas ao turismo e lazer e, notadamente, a pesca artesanal”, disse Tarcisio.

O derramamento de óleo atingiu fortemente, em curto prazo, as populações que dependem dos recursos pesqueiros ou dos atrativos turísticos proporcionados pelo extenso litoral nordestino. Os prejuízos socioeconômicos, como a queda da demanda por pescado e no turismo, serão justamente abordados pelo professor Marcelo Soares no encontro. “Vou tratar sobre os principais impactos ambientais e socioeconômicos do derrame do petróleo que afetou o Nordeste, que é até hoje o maior desastre ambiental do Brasil. Irei mostrar o que a ciência já produziu sobre o assunto”, enfatizou.

Os impactos causados nos ecossistemas marinhos e lacustres – mangues e corais submersos – ainda não estão completamente mapeados porque parte do petróleo pode ter se depositado, o que vai gerar consequências a médio e longo prazo. A situação tem preocupado, mas o professor Claudio Sampaio ressaltou que há esforços para o combate ao óleo no Nordeste. “Apresentarei os esforços da Força Tarefa da UFAL, composta por uma equipe multidisciplinar de professores, para avaliar os impactos causados pelo derramamento de petróleo em Alagoas, bem como as ações de monitoramento, capacitação de voluntários e articulação com parceiros institucionais”, afirmou.

O coordenador geral do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) da Fundaj, Neison Freire, enfatizou que mesmo com a pesquisa em fase de conclusão dos seus resultados ainda não se sabe a origem do desastre. “O que sabemos é que surgiu de um aparato tecnoindustrial, mas o que originou não é algo concreto. Não temos definido a quantidade de óleo que vazou, logo não sabemos o quanto ainda não apareceu nas praias. Existe essa incógnita que traz uma incerteza não só científica, mas também para as populações que habitam e dependem dessas atividades litorâneas”, comentou.

A Fundaj já publicou dois artigos sobre a temática, compostos por um banco de dados com quase 4 mil entrevistas, tendo a participação de pescadores artesanais, marisqueiras, ambulantes, profissionais do setor do turismo e da pesca artesanal, além de grupos sociais. A Instituição também está finalizando o atlas das praias afetadas, com mais de 400 mapas (imagens de satélite).

“Cabe agora às pesquisas gerarem informações que subsidiem e provoquem ações para que a sociedade brasileira esteja mais preparada caso um novo desastre aconteça e cobre dos responsáveis providências. A pesquisa da Fundaj, por exemplo, mostra que os pescadores e pescadoras foram os mais atingidos pelo desastre. Quais as ações compensatórias? E o mais importante: o que precisa ser feito para fortalecer essa classe que convive com os mares e praias para o seu bem viver?”, pontuou a pesquisadora da Fundaj Beatriz Mesquita.

Nesse sentido, o “De Frente Pra Costa” reunirá representantes de pescadores artesanais de uma área afetada pelo desastre e pesquisadores da área de geociências e ciências marinhas, biologia marinha e socioeconomia para discutir sob diferentes visões questões relativas às ações emergenciais, impactos ambientais e socioeconômicos e enfrentamento desses impactos, além de medidas preventivas.

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