Após votar por abstenção, Marília Arraes pede 'desculpas ao PT e ao Brasil' e admite 'erro' em votação sobre empresas comprarem vacinas

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José Matheus Santos

Publicado em 07/04/2021 às 12:31
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Em nota divulgada no início da tarde desta quarta-feira (07), a deputada federal Marília Arraes (PT-PE) pediu desculpas ao partido e ao Brasil e disse reconhecer "o erro" que teria cometido na votação desta terça na Câmara dos Deputados, quando votou pela abstenção no projeto que flexibiliza regras para compra de vacinas contra a covid-19 por empresas.

"Em nenhum momento fui contrária à valorização, autonomia e fortalecimento do SUS, um sistema que eu sempre defendi e sempre defenderei. Naquele momento, mesmo com as dificuldades do distanciamento e o pouco tempo de discussão, eu deveria ter votado e me posicionado conforme todo nosso campo fez, em vez de problematizar e deixar de votar. Após a votação, recebi várias manifestações e refleti sobre todas elas", afirmou Marília.

"Dessa forma venho aqui reconhecer meu erro e me desculpar com a nossa militância, com o PT, com o Brasil. Sigo firme na defesa da ciência, do SUS, da vacinação universal, do auxílio emergencial de R$ 600,00 até o final da Pandemia e de toda e qualquer medida que proteja e ampare nossa população e nosso Brasil", acrescentou.

Veja a íntegra da nota de Marília Arraes

"Na noite de ontem, ao analisar o PL 948/21 (aprovado por 317 x 120 votos) - que trata sobre a possibilidade de aquisição de vacinas contra a Covid-19 com a garantia de doação do mesmo quantitativo adquirido pela iniciativa privada/entidades para o SUS – eu cometi um erro de avaliação.

A responsabilidade que carrego é muito grande. E é por isso que fiz questão de vir a público deixar claro que em nenhum momento fui contrária à valorização, autonomia e fortalecimento do SUS, um sistema que eu sempre defendi e sempre defenderei. Naquele momento, mesmo com as dificuldades do distanciamento e o pouco tempo de discussão, eu deveria ter votado e me posicionado conforme todo nosso campo fez, em vez de problematizar e deixar de votar. Após a votação, recebi várias manifestações e refleti sobre todas elas.

Dessa forma venho aqui reconhecer meu erro e me desculpar com a nossa militância, com o PT, com o Brasil. Sigo firme na defesa da ciência, do SUS, da vacinação universal, do auxílio emergencial de R$ 600,00 até o final da Pandemia e de toda e qualquer medida que proteja e ampare nossa população e nosso Brasil."

Entenda o caso

O posicionamento da deputada federal Marília Arraes (PT-PE), ao votar pela abstenção sobre o projeto que flexibiliza regras para compras de vacinas contra covid-19 por empresas privadas, deixou grupos do PT em polvorosa na noite desta terça-feira (06).

Mas o que potencializou os questionamentos não foi o voto em si, mas sim um vídeo publicado por Marília em que ela diz não ter opinião formada sobre o tema, mas ventila a possibilidade de empresas e associações, como sindicatos, adquirirem doses.

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"Ainda não tenho opinião formada sobre isso. A princípio acho que a gente deveria permitir que empresas vacinassem seus funcionários sim para manter essas empresas funcionando, tem muitas empresas fechando", afirma a deputada na publicação.

"A gente tem que pensar na realidade, a gente gostaria que num momento como esse tudo fosse público, que o público tivesse funcionando e gerenciando todas as prioridades que têm que ser tomadas, mas o que a gente precisa hoje é inclusive suprir a ineficiência do governo federal e parece que é de propósito. Quanto mais gente tiver acesso à vacina, melhor. Quanto mais trabalhadores, entidades de classe, sindicatos, associações. Por isso até agora estou esperando e ouvindo mais argumentos", acrescentou.

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Na manhã desta quarta-feira, após a repercussão negativa do vídeo, Marília Arraes apagou os vídeos nas contas do Twitter e do Instagram.

O vídeo foi o estopim para grupos de WhatsApp com integrantes do PT de Pernambuco e Nacional entrarem em polvorosa, com críticas à Marília, que foi a única da bancada petista que se absteve na votação. No PT, apenas o deputado federal Merlong Solano, do Piauí, votou a favor do projeto.

Além de Marília, apenas outro deputado federal, de outro estado, votou por abstenção.

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Aliados e adversários criticam

Segundo apurou o Blog, adversários de Marília no PT de Pernambuco estão usando a votação e o vídeo, agora apagado, para reforçar as críticas internas à deputada. Eles compartilham uma imagem com a seguinte frase: "se você é neutro em uma situação de injustiça, você escolhe o lado do opressor".

Até aliados têm feito críticas à posição de Marília Arraes, inclusive assessores parlamentares reconhecem, reservadamente, o desgaste causado no PT e com apoiadores.

Um aliado de Marília avaliou à reportagem que a situação de Marília se complicou nas últimas horas: "Está muito grave e os adversários internos se aproveitando. Eu acho que ela tem que admitir publicamente o erro".

"O vídeo é ruim. Cheio de contradições. Marília jogou muito alto confiante na sua popularidade", frisou um petista próximo a Marília Arraes.

Após o voto de Marília pela abstenção e o vídeo, agora apagado, o PT de Pernambuco deverá divulgar uma nota ainda nesta quarta em defesa da vacinação contra a covid-19 feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

"Quem votou a favor do projeto e, nesse caso, como abstenção se equivocou. Enalteço o voto do deputado federal Carlos Veras (PT-PE) e lamento o voto de Marília ter sido uma abstenção, isso é muito ruim", afirmou um integrante do diretório estadual do PT. Apesar disso, a tendência é de que a nota seja em prol da vacinação no SUS, sem citar diretamente o voto de Marília como abstenção.

Segundo apurou a reportagem, a possibilidade de punição interna a Marília é remota porque a bancada do PT não fechou questão sobre o tema. "Debatemos este tema na reunião da Bancada na segunda e ninguém defendeu voto favorável ao projeto. Então não foi necessário votar fechamento de questão", afirmou um deputado federal petista sob reserva.

Recentemente, a deputada descartou sair do PT e defendeu a candidatura à presidência em 2022 do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agora elegível após as anulações das condenações na Operação Lava Jato.

Em fevereiro, outro episódio gerou desgaste interno de Marília no PT. A deputada lançou candidatura avulsa à Segunda Secretaria da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados e venceu na votação o candidato oficial do partido, o deputado federal João Daniel (PT-SE). O caso é analisado internamente pela sigla petista.

Câmara aprova texto-base sobre compras de vacinas por empresas

A Câmara dos Deputados aprovou na noite desta terça-feira (6) o projeto de lei que flexibiliza as condições para a iniciativa privada comprar vacinas contra a covid-19.

O texto-base foi aprovado por 317 votos a 120, com 2 abstenções. Ainda falta votação, nesta quarta-feira, de destaques ao texto, o que pode alterar itens do projeto.

Entre os deputados federais de Pernambuco, foram 13 votos a favor do projeto, 10 contrários e uma abstenção, além de uma ausência.

Veja os votos dos deputados de Pernambuco

André de Paula (PSD) - Ausente

André Ferreira (PSC) - Sim

Augusto Coutinho (Solidariedade) - Sim

Carlos Veras (PT) - Não

Daniel Coelho (Cidadania) - Sim

Danilo Cabral (PSB) - Não

Eduardo da Fonte (PP) - Não

Felipe Carreras (PSB) - Sim

Fernando Filho (DEM) - Sim

Fernando Monteiro (PP) - Sim

Fernando Rodolfo (PL) - Sim

Gonzaga Patriota (PSB) - Não

Luciano Bivar (PSL) - Sim

Marília Arraes (PT) - Abstenção

Milton Coelho (PSB) - Não

Ossesio Silva (Republicanos) - Sim

Pastor Eurico (Patriota) - Sim

Raul Henry (MDB) - Não

Renildo Calheiros (PCdoB) - Não

Ricardo Teobaldo (Podemos) - Sim

Sebastião Oliveira (PL) - Sim

Silvio Costa Filho (Republicanos) - Sim

Tadeu Alencar (PSB) - Não

Túlio Gadêlha (PDT) - Não

Wolney Queiroz (PDT) - Não

Entenda a proposta

A proposta permite que pessoas jurídicas de direito privado comprem substâncias aprovadas pela Anvisa “ou por qualquer autoridade sanitária estrangeira reconhecida e certificada pela Organização Mundial da Saúde”.

Atualmente, as empresas que adquirirem imunizantes são obrigadas a doar todas as doses para o sistema de saúde público enquanto não forem vacinados todos os integrantes dos grupos prioritários. Atingida essa marca, as doações passam a ser de 50% das doses.

O texto aprovado pela Câmara nesta terça retira a obrigatoriedade a doação de todas as doses. Se a proposta passar a vigorar, a doação será de 50% das doses independentemente de os grupos prioritários do programa público terem sido imunizados ou não.

A proposta determina que a substância adquirida por empresas seja destinada à aplicação gratuita em seus empregados e outros grupos de trabalhadores que lhes prestem serviço. Os critérios de prioridade de aplicação do sistema público devem ser usados dentro do universo das empresas.

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