Danilo Gentili presidente
Por Vítor Diniz, estrategista e mestre em Ciência Política pela USP.
Você acharia absurda a vitória de Danillo Gentili em 2022?
Poderia um humorista vencer as eleições, derrotando Lula e Bolsonaro, dois líderes com apoio cristalizado de quase metade do eleitorado?
Ao redor do mundo, humoristas começam a aparecer como forças políticas poderosas, sendo o exemplo mais recente o apresentador Slavi Trifonov, da Bulgária.
Antes de analisar com mais detalhes a possível candidatura Gentili, é preciso dizer que as pesquisas indicam um caminho aberto para a construção de uma terceira via política no Brasil.
Pesquisa recente do IPE Estratégia, aponta que 38% dos entrevistados não querem votar nem em Bolsonaro nem em Lula no primeiro turno em 2022. É um percentual bastante razoável e deve servir de combustível V-power para os possíveis competidores.
Ninguém está dizendo que a 3º via vencerá, que será fácil pavimentá-la.
A questão, como está claro a partir da análise fria dos dados, é que o brasileiro está pronto para pelo menos ouvir o que um candidato fora do bolsonarismo-lulismo tem a dizer.
Esse já é um fato muito importante.
Voltemos ao humorista Danilo Gentili.
Antipetista ferrenho há quase uma década, Gentili percebeu já no começo de 2019 que o bolsonarismo é um movimento que exige 100% de alinhamento, sem espaço para críticas construtivas.
O humor político, sem limites, sempre marcou a carreira do humorista. Na política, posicionamentos contundentes e exagerados têm repercussão muito maior, ainda mais em ambientes de extrema radicalização do discurso.
Não é exclusividade do Brasil: é um movimento mundial de radicalização, em que praticamente todos os assuntos do cotidiano viram palco de disputas políticas, de narrativas.
É assim que tem funcionado.
O caminho para uma 3º via passa necessariamente pela construção de um discurso firme e que chame a atenção do eleitorado. Contundência e clareza não devem ser confundidas com disparates, xingamentos ou gritaria.
Não está claro se o humorista e apresentador está fazendo piada ou se de fato pensa em se candidatar.
Na verdade, isso pouco importa no momento.
Gentili está aproveitando para testar sua popularidade e, mais importante, o alcance de seus posicionamentos. A mídia tradicional não leva a candidatura a sério, mas as redes passaram a tratar do assunto quase que diariamente.
Mais importante do que a possível candidatura, é o discurso que embala a empreitada: a aposta no antipetismo e no antibolsonarismo como plataforma política.