Representatividade das mulheres na política em Pernambuco está abaixo da média nacional, aponta IBGE

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José Matheus Santos

Publicado em 04/03/2021 às 15:02
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O estado de Pernambuco tem representatividade na política e nos cargos públicos abaixo da média do Brasil. É o que aponta o levantamento "Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil – 2ª edição" divulgado nesta quinta-feira (04) pelo IBGE.

Em 2020, foram eleitas 291 vereadoras em todos os municípios pernambucanos, o que representa 13,8% das 2.116 vagas disponíveis nas câmaras municipais das 184 cidades do estado. É a quinta pior posição do Brasil, superada pelo Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rondônia e Bahia. O resultado também é inferior à média nordestina (16,7%) e à média nacional (16%).

Em ambientes de tomada de decisão no estado de Pernambuco, 45,1% das 90 mil pessoas em cargos gerenciais é composta por mulheres, enquanto a maioria desses postos (54,9%) é ocupada pelos homens. Ainda assim, a proporção feminina no estado é maior do que a média nacional, de 37,4%, e do Nordeste (40,9%).

Das 361 candidaturas registradas nas eleições de 2018 para representar Pernambuco na Câmara dos Deputados, 117, ou 32,4% do total, foram de mulheres.

Das 25 vagas para deputado federal reservadas a Pernambuco, apenas uma mulher foi eleita e está com mandato em exercício, Marília Arraes (PT), o que representa 4% do total de parlamentares. É a menor proporção entre todos os estados que tiveram deputadas federais eleitas, à frente apenas do Amazonas, Maranhão e Sergipe, que não elegeram nenhuma parlamentar. Além disso, entre as candidaturas para o cargo de deputado federal que contaram com receita superior a R$ 1 milhão no estado, apenas 8% eram de mulheres.

marilia arraes pt Marília Arraes é a única deputada federal de Pernambuco. Foto: Ricardo Labastier/Divulgação

A respeito da representação feminina na segurança pública, entre os mais de 25 mil policiais civis e militares de Pernambuco em 2019, 3.912, ou 15,6% do total, era composta por mulheres.

Na PM, a proporção de policiais mulheres era de 11,7% no período, próxima à média brasileira, de 11%; já na Polícia Civil, o percentual sobe para 28,6% do efetivo, ligeiramente superior à média nacional, de 27,6%.

O levantamento do IBGE, cuja primeira edição ocorreu em 2018, analisa as condições de vida das brasileiras a partir de um conjunto de indicadores proposto pelas Nações Unidas, e reúne informações de pesquisas do IBGE e de fontes externas sobre cinco temas: estruturas econômicas, educação, saúde e serviços relacionados, vida pública e tomada de decisão e direitos humanos das mulheres e meninas.

As informações compiladas no estudo são de pesquisas do IBGE junto a dados do Ministério da Saúde, Presidência da República, Congresso Nacional, Tribunal Superior Eleitoral e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP.

Mulher pernambucana gasta mais que o dobro de tempo dos homens em tarefas domésticas e tem piores índices de desemprego

Em Pernambuco, de acordo com o IBGE, as mulheres dedicaram, em comparação aos homens, mais que o dobro de horas semanais em tarefas domésticas ou cuidado de pessoas: 22,3 horas para elas, contra 10,8 horas para eles no ano de 2019.

Por grupos de idade, segundo o levantamento, a maior diferença entre os gêneros está na faixa de 50 a 59 anos: as mulheres dedicaram 24,2 horas semanais a essas atividades, frente a 10,7 horas dos homens. 

Ainda sobre as tarefas domésticas e cuidado de pessoas, quando se considera o recorte por cor ou raça, as mulheres pretas ou pardas gastaram 22,7 horas por semana fazendo as mesmas tarefas, contra 21,3 das mulheres brancas. O contraste entre os gêneros se mantém mesmo entre as pessoas que trabalham: as mulheres ocupadas gastam 18,8 horas em atividades domésticas ou cuidado de pessoas, contra 10,4 dos homens.

Mulheres pretas ou pardas são as mais atingidas pelo desemprego

No mercado de trabalho, enquanto a taxa geral de desocupação foi de 15,1% em Pernambuco no ano de 2019, para as mulheres o mesmo indicador foi ainda maior, de 17%, contra 13,6% dos homens, segundo o IBGE.

A situação é ainda pior para as mulheres pretas ou pardas, cuja taxa de desocupação foi de 18,8% no período, contra 14,2% para os homens pretos ou pardos, 13,2% para as mulheres brancas e 12% para os homens brancos, de acordo com o instituto.

O levantamento ainda revela que, na educação, a proporção de mulheres entre os 15,3 mil professores do ensino superior é de 48,3%, acima da média brasileira, de 46,2%, mas abaixo da média nordestina, de 49,3%.

Mulheres tem menor taxa de mortalidade e maior expectativa de vida

O levantamento também mostra que a taxa de mortalidade das pessoas menores de cinco anos é menor entre as mulheres de Pernambuco: de cada mil crianças nascidas em 2019, 13,5 provavelmente não completarão cinco anos de vida. Entre as mulheres, a estimativa é de 12,3 por mil, contra 14,7 por mil dos homens, segundo o IBGE.

Conforme o instituto, as mulheres também apresentam maior longevidade em comparação aos homens: entre as pernambucanas que completaram 60 anos em 2019, a estimativa é de que eles vivam mais 23,1 anos, contra 19,6 anos dos homens que chegaram à terceira idade no ano retrasado.

2,4% dos casamentos em Pernambuco envolvem adolescentes de até 17 anos

Das uniões oficializadas em 2019 no estado, 1.189, ou 2,4% do total, envolviam pessoas do sexo feminino de até 17 anos de idade. Foram registrados ainda nove casamentos de garotas com menos de 16 anos. Já entre os homens, o percentual de casamentos na adolescência cai para 0,2%, segundo os dados do levantamento.

O estudo também demostrou que a taxa de fecundidade entre jovens menores de 20 anos em Pernambuco no ano de 2019 era de 65,2 nascimentos a cada mil garotas na faixa dos 15 aos 19 anos de idade. Essa média é idêntica à nordestina, mas ainda superior aos números do Brasil, de 59 nascimentos por mil. Essa taxa vem diminuindo gradativamente a cada ano, tendo alcançado 72,7 nascimentos por mil mulheres em 2011.

Aproximadamente um terço dos homicídios das mulheres pernambucanas ocorrem no domicílio

Utilizada para a análise do fenômeno do feminicídio – homicídio contra a mulher por razões da condição do sexo feminino, violência doméstica ou familiar e menosprezo ou discriminação à condição de ser mulher, a informação sobre local de ocorrência da violência mostra que a proporção de homicídios cometidos no domicílio tem maior vulto entre as mulheres.

De acordo com os dados mais recentes levantados sobre o tema, de 2018, enquanto aproximadamente um terço (32,9%) dos homicídios de mulheres ocorreram no domicílio, para os homens a proporção foi de 10,4%.

Os pretos e pardos morrem mais, independentemente do sexo e do local do óbito. Nas mortes que ocorreram no domicílio, foram registrados 1,9 homicídios por mil habitantes cujas vítimas foram mulheres pretas e pardas, contra 0,8 por mil de óbitos de mulheres brancas nas mesmas circunstâncias.

Nas mortes fora do domicílio, a proporção se repete, com 3,8 mortes por mil habitantes entre as mulheres pretas e pardas e dois homicídios por mil entre as mulheres brancas.

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