Estudo descarta vínculo entre uso de talco nos genitais e câncer de ovário

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 08/01/2020 às 16:52
Nos Estados Unidos, quatro em cada 10 mulheres usam ou já usaram talco na região genital para absorver a umidade ou perfumar o local (Foto: Freepik/Banco de Imagens)
Nos Estados Unidos, quatro em cada 10 mulheres usam ou já usaram talco na região genital para absorver a umidade ou perfumar o local (Foto: Freepik/Banco de Imagens) FOTO: Nos Estados Unidos, quatro em cada 10 mulheres usam ou já usaram talco na região genital para absorver a umidade ou perfumar o local (Foto: Freepik/Banco de Imagens)

Da AFP

A síntese de uma pesquisa que envolveu 250 mil mulheres americanas mostrou não ter encontrado vínculos estatísticos entre o uso de talco nos genitais e o risco de desenvolvimento de câncer de ovário. O estudo foi publicado na terça-feira (7) no periódico científico The Journal of the American Medical Association (Jama). Nos Estados Unidos, quatro em cada 10 mulheres usam ou já usaram talco nessa parte do corpo como forma de absorver a umidade ou perfumar o local, colocando diretamente o produto nos genitais ou aplicando o talco na roupa íntima, toalhas ou no absorvente.

Embora esse uso seja mais recorrente entre as mulheres mais velhas, o hábito também é comum entre as mais jovens. A discussão sobre a existência de amianto, um tipo de mineral contaminante, nos talcos surgiu na década de 1970. Estudos posteriores alertaram sobre um maior risco no desenvolvimento do câncer de ovário por mulheres que usavam talco, porque acreditava-se que ao ser usado o material poderia chegar aos ovários por meio da vagina e do útero.

No entanto, existiam dúvidas sobre essa associação, já que poucos estudos sobre o assunto foram realizados ao longo de cinco décadas e os seus resultados não foram conclusivos. O efeito do uso do talco é difícil de ser identificado de forma isolada, pois o número de casos de câncer de ovário são baixos: apenas 1,3% das mulheres correm o risco de desenvolvê-lo.

Assim, um grupo de pesquisadores de vários locais do Estados Unidos produziu uma síntese a partir de quatro grandes estudos que avaliaram 250 mil mulheres entre os anos de 1982 e 2017. Nos questionários das pesquisas, a cada dois anos as participantes respondiam perguntas sobre vários aspectos da saúde, incluindo o uso de talco e outros tipos de produtos.

Ao aumentar a amostragem, os cientistas buscaram detectar com mais respaldo estatístico os possíveis efeitos prejudiciais à saúde, que não poderiam ser vistos em uma quantidade menor de participantes.

Do total de mulheres que responderam a pesquisa ao longo dos 11 anos, cerca de 2,2 mil apresentaram câncer de ovário. Para a comunidade científica, o resultado importante se trata de que não foram observadas diferenças estatísticas entre as mulheres que disseram usar talco e aquelas que nunca usaram o material. O mesmo é válido ao comparar a frequência ou a duração do uso do produto.

"Não existe uma comprovação estatística significativa entre o uso do talco nos genitais e o risco de câncer de ovário", ressaltou um dos autores da análise.

Nos Estados Unidos, a empresa Johnson & Johnson foi processada por várias mulheres que acusaram os seus produtos com talco de ser cancerígenos. Em 2018, a empresa foi condenada a pagar US$ 4,7 bilhões (cerca de R$ 19 bilhões) a 22 mulheres.

Em outubro do último ano, a Johnson & Johnson teve que retirar de circulação um lote de talco para bebês depois que foram detectados rastros de amianto no produto.