Sífilis: 30 bebês menores de 1 ano morreram pela doença em 2018 no Estado de Pernambuco

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 07/11/2019 às 16:04
As pessoas esquecem que a camisinha protege não só contra a aids. Ela é a prevenção mais eficaz para sífilis, HPV, gonorreia e clamídia (Foto: Bernardo Soares/Acervo JC Imagem)
As pessoas esquecem que a camisinha protege não só contra a aids. Ela é a prevenção mais eficaz para sífilis, HPV, gonorreia e clamídia (Foto: Bernardo Soares/Acervo JC Imagem) FOTO: As pessoas esquecem que a camisinha protege não só contra a aids. Ela é a prevenção mais eficaz para sífilis, HPV, gonorreia e clamídia (Foto: Bernardo Soares/Acervo JC Imagem)

Infecção sexualmente transmissível (IST), a sífilis se tornou uma epidemia que só faz avançar, o que demonstra a dificuldade que todo o Brasil tem para frear a expansão de uma doença curável, mas que pode agravar-se e levar a óbito se não houver tratamento. Somente em Pernambuco, no ano passado, foram 30 mortes por sífilis congênita (transmitida para o bebê durante a gestação), o que leva o Estado a ser o segundo no País com maior taxa de mortalidade (22,1) pela infecção em menores de um ano por 100 mil nascidos vivos, atrás apenas do Rio de Janeiro (23,3), com 52 óbitos. Os dados estão no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, que reconhece como os “números de casos da infecção (no Brasil) são preocupantes, e a infecção precisa ser controlada”.

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Outro recorte dos números traz mais uma preocupação em Pernambuco, que desponta como a segunda unidade federativa com maior taxa (8,4%) de gestantes com informação de tratamento não realizado, atrás somente do Distrito Federal (9,8%). Em terceiro lugar, vem o Rio Grande do Sul, com 7,9%. “A má qualidade da adesão ao pré-natal é uma realidade preocupante”, diz a infectologista Andrezza de Vasconcelos, professora do curso de medicina da Universidade Católica de Pernambuco. O depoimento da médica demonstra o quanto a falta de assistência adequada na gravidez faz a mulher perder a oportunidade para fazer o teste capaz de detectar a sífilis durante o pré-natal e, diante de resultado positivo, ser tratada adequadamente para evitar complicações para o bebê.

A sífilis congênita pode se manifestar logo após o nascimento, durante ou após os primeiros dois anos de vida da criança. “O óbito acontece por um diagnóstico tardio e geralmente ocorre intraútero ou logo após o nascimento”, destaca Andrezza.

Números

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) lançou, na terça-feira (5), o novo boletim epidemiológico da doença em Pernambuco. Os números revelam que, em 2018, foram mais de 12,9 mil diagnósticos de sífilis, incluindo dados do público em geral, de gestantes e dos casos passados da mãe para o bebê. O volume é 33,7% superior ao total de casos registrados em 2017, com 9.652 diagnósticos. “Incrementamos o treinamento dos profissionais de saúde para que estejam alerta à sífilis. Também aumentamos a oferta dos testes rápidos, o que pode explicar a ampliação da detecção”, informa a gerente do Programa Estadual de IST/Aids/HIV da SES, Camila Dantas.

No caso da sífilis em gestantes, foram 3.275 casos no Estado em 2018, um quantitativo 103% maior que em 2017, com 1.611 detecções. Entre 2005 e 2018, nota-se que mais da metade dos casos (52,9%) são em mulheres de 20 a 29 anos, seguido das jovens de 15 a 19 anos (24,7%). “Durante a gestação, a sífilis pode provocar abortamento, óbito fetal e morte neonatal. No bebê, podem aparecer sequelas irreversíveis, como surdez, cegueira, deficiência mental e malforma-ções. Com o tratamento em tempo oportuno, tudo isso pode ser evitado. Além disso, é fundamental o uso da camisinha durante toda a gestação”, acrescenta Camila.

Em relação aos casos de sífilis congênita, Pernambuco teve 1.836 casos em 2018, uma diminuição de 3,8% em relação a 2017. Ainda assim, o Estado é o segundo com maior taxa (14,3) de incidência por 1.000 nascidos vivos na transmissão durante a gestação, atrás só do Rio de Janeiro, com taxa de 18,7.