Médicos idosos: 90% permanecem na atividade profissional, revela estudo

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 21/07/2019 às 12:17
"Gosto bastante de cuidar das minhas crianças", diz a neuropediatra Ana Van der Linden, 79 anos. Ela se destacou na ciência mundial por perceber, a frequência aumentada de bebês nascidos com microcefalia associada ao zika (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)
"Gosto bastante de cuidar das minhas crianças", diz a neuropediatra Ana Van der Linden, 79 anos. Ela se destacou na ciência mundial por perceber, a frequência aumentada de bebês nascidos com microcefalia associada ao zika (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem) FOTO: "Gosto bastante de cuidar das minhas crianças", diz a neuropediatra Ana Van der Linden, 79 anos. Ela se destacou na ciência mundial por perceber, a frequência aumentada de bebês nascidos com microcefalia associada ao zika (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)

O Brasil tem 414.831 médicos em atividade. Desses, 84.310 estão na faixa etária a partir dos 60 anos. Os números são do levantamento Demografia Médica no Brasil 2018, coordenado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com apoio do Conselho Federal de Medicina. No trabalho, não há dados de Pernambuco por faixa etária. Mas um estudo realizado recentemente, no Estado, revela que, entre médicos idosos a partir dos 65 anos, 90,8% ainda exercem atividades médicas. A pesquisa foi conduzida pelo psiquiatra Rodrigo Cavalcanti Machado da Silva, preceptor da Residência Médica em Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. O estudo destaca ainda que 92,3% dos 65 médicos idosos entrevistados consideraram que tiveram um envelhecimento bem-sucedido.

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Esse cenário reflete o aumento da expectativa de vida da população, estimada em 76 anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. "Percebemos que a maioria continua a trabalhar por questões financeiras, mas também pela identidade forte com a profissão médica. Eles relatavam que não queriam parar. Quase 100% dos participantes estavam aposentado de algum vínculo profissional, mas mantinham pelo menos uma atividade médica", diz Rodrigo, que é especialista em psicogeriatria. De acordo com a pesquisa, entre os que acreditam ter envelhecido bem, prevalece a resiliência, que é a capacidade que pessoas têm de lidar melhor com adversidades.

"Os médicos idosos ativos na profissão revelaram realizar também atividades sem relação com trabalho, além de cultivarem um bom círculo social", diz o psiquiatra Rodrigo Silva (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)

Os achados do estudo de Rodrigo espelham a rotina, a saúde emocional e os hábitos de médicos que iniciaram o ofício sem nem contar com métodos diagnósticos avançados, como tomografia e ressonância magnética. Construíram uma carreira com maestria, multiplicando discípulos - e também adquirindo conhecimento com eles. "Nunca pensei em parar; minha cabeça ajuda demais. Eu me sinto bem como médica. Tenho contato com residentes e aprendo demais com todos. Isso me estimula", conta a neuropediatra Ana Van der Linden, 79 anos.

Diariamente pela manhã, ela faz atendimentos no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro dos Coelhos, área central do Recife. Ao consultório particular, ela se dedica um dia por semana.

"Gosto bastante de cuidar das minhas crianças", diz. No segundo semestre de 2015, ela se destacou na ciência mundial por perceber, ao lado da filha, a também neuropediatra Vanessa Van der Linden, a frequência aumentada de bebês nascidos com microcefalia associada a características atípicas. Eram os casos da síndrome congênita do zika, que acometeu pelo menos 467 crianças em Pernambuco, considerando os casos confirmados até agora. A rotina profissional de Ana Van der Linden é aliada a um tempo para si mesma. "Vou à academia. Faço exercícios orientada por um personal trainer. Gosto de ler e adoro jardinagem", relata a neuropediatra, que inspira por mostrar que o envelhecimento bem-sucedido também pode estar atrelado a um desempenho produtivo e prazeroso no trabalho.