Vírus tipo 2 da dengue reaparece e exige mais vigilância em Pernambuco

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 27/06/2019 às 10:29
Nunca é tempo de baixar a guarda contra os problemas carregados pelo Aedes (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)
Nunca é tempo de baixar a guarda contra os problemas carregados pelo Aedes (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem) FOTO: Nunca é tempo de baixar a guarda contra os problemas carregados pelo Aedes (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

Em Pernambuco, foi identificada este mês a circulação do sorotipo 2 da dengue (DEN-2), um subtipo que não foi encontrado ano passado no Estado e que tem colocado em alerta autoridades de saúde por circular de maneira mais consistente em diversos municípios brasileiros. Em território pernambucano, o tipo 2 da dengue foi detectado em amostra de paciente da cidade de Custódia, no Sertão do Moxotó.

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“Essa constatação requer vigilância mais reforçada porque, além do sorotipo 2, Pernambuco tem em circulação o subtipo 1 (DEN-1). Quando mais um se dispersa ao mesmo tempo, muda o cenário de gravidade (da doença), pois sabemos que o sistema imunológico é mais suscetível a complicações quando ocorre uma segunda infecção”, explica o epidemiologista George Dimech, diretor-geral de Controle de Doenças Transmissíveis da Secretaria Estadual de Saúde.

O depoimento dele faz lembrar que existem quatro sorotipos de dengue (ou seja, é possível ter a doença quatro vezes ao longo da vida) e que geralmente, de acordo com registros médicos, a segunda infecção é mais grave do que a primeira.

O tipo 2 da dengue exige maior cuidado porque, segundo especialistas, há possibilidade de se repetir a situação que se enfrentou anos atrás (na década de 1990, o DEN-2 trouxe os casos de dengue com hemorragia). “Um detalhe importante é que atualmente são poucas as pessoas imunes ao sorotipo 2 em Pernambuco, pois já se passou bastante tempo do período em que ele circulou com intensidade no Estado. Certamente, há um número grande de pessoas com menos de 20 anos que nunca foram expostas a esse subtipo, revelando maior chance de adoecimento”, explica o médico Ernesto Marques Júnior, pesquisador da Fiocruz Pernambuco.

Ele acrescenta que o DEN-2 tem algumas cepas mais virulentas do que outras e que, por isso, há risco maior de desenvolvimento da forma grave de dengue a partir da infecção com esse sorotipo do que com o tipo 4 da dengue. “Mas é difícil de quantificar essa diferença.”

Além de detectar o DEN-2 em circulação, após um ano sem identificar a presença desse subtipo, Pernambuco verificou o DEN-1 em 22 municípios e em Fernando de Noronha. Isso não significa que, em outras cidades, sorotipos não circulam; apenas podem não ter sido identificados. Também não se pode excluir a possibilidade de outros sorotipos de dengue (3 e 4) não estarem circulando no Estado.

Este ano, até o último dia 15, Pernambuco notificou quase 30 mil casos suspeitos de dengue – um aumento de 110,5% em relação ao mesmo período de 2018. Desse total, 5.481 casos foram confirmados, e outros 17.638 permanecem em investigação. “Além disso, 56 cidades apresentam alta incidência de dengue, o que representa uma intensa infestação de mosquitos e a presença dos vírus em circulação”, alerta George Dimech.