Brasil reforça o não à gordura trans; Câmara dos Deputados debate restrição

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 17/06/2019 às 10:48
A gorduras trans está presente em salgados, sorvetes, outros doces e assados (Foto: Freepik)
A gorduras trans está presente em salgados, sorvetes, outros doces e assados (Foto: Freepik) FOTO: A gorduras trans está presente em salgados, sorvetes, outros doces e assados (Foto: Freepik)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) defende a eliminação da gordura trans nos alimentos até 2023. A entidade alertou recentemente que ao menos 5 bilhões de pessoas no mundo convivem com riscos de desenvolver doenças associadas ao uso das gorduras trans – produzida industrialmente para melhorar o sabor e aumentar a durabilidade dos alimentos. Está presente em salgados, sorvetes, outros doces e assados.

Em sintonia com a restrição do consumo do ingrediente, a Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), em parceria com o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), lançou a campanha Pela saúde do coração, gordura trans não. O projeto tem como meta mobilizar profissionais da saúde e a população em geral para uma ação conjunta, que desperte o poder público para a gravidade do tema.

Na Câmara dos Deputados

Na quarta-feira (12), a Câmara dos Deputados realizou audiência pública para debater medidas de restrição à gordura trans. A iniciativa, do parlamentar pernambucano Felipe Carreras, abriu espaço para discussões sobre a regulação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a substituição da gordura trans e os riscos da substância para a saúde. "Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que a gordura trans pode aumentar o risco de doenças cardíacas em até 30%, fora todos os outros riscos que causa para a saúde. Precisamos agir para garantir que o alimento que entrará na casa do consumidor brasileiro não prejudicará a família", alertou.

"O Brasil vive momentos decisivos, e não podemos deixar de pautar um assunto que influencia a saúde de todos", destaca Felipe Carreras (Foto: Genilson Frazão/Divulgação)

Na ocasião, o deputado aproveitou para reforçar a importância do debate equilibrado. “O País vive momentos decisivos, e não podemos deixar de pautar um assunto que influencia a saúde de todos os brasileiros. O parlamento é um espaço para debatermos o tema de uma forma justa, envolvendo as classes e a população”, defendeu Carreras.

O limite de gordura trans adequado foi uma questão levantada por todos os participantes da mesa. A nutricionista Isabela Sattamini, que representou o Conselho Federal de Nutrição (CFN), explicou que 1% é o limite seguro. “Nós temos esse valor como segurança e, se ele puder ser menor, é melhor ainda. Infelizmente, a população já consome quase o dobro do que é ideal, fazendo com que as medidas de regulação sejam urgentes”, disse.

Defesa do consumidor

"Já existem evidências científicas suficientes mostrando que o consumo de gordura trans está diretamente associado ao risco aumentado de doenças cardiovasculares. Não existe limite seguro de consumo desse tipo de gordura. Portanto, ela deve ser evitada”, explica a nutricionista Laís Amaral, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Pesquisa feita pela instituição, em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), identificou que, de 11 mil produtos analisados, 18,7% contêm ou podem conter gordura trans na sua composição, segundo informações da lista de ingredientes. Contudo, apenas 7,4% dos produtos identificam a presença do ingrediente em seus rótulos.

Pesquisa identificou que 8,4% dos biscoitos que apresentam a alegação "zero gordura trans", em seus rótulos, na verdade, contêm gordura trans na lista de ingredientes (Foto: Freepik)

Essa discrepância, segundo o Idec, ocorre porque as atuais normas brasileiras permitem mensagens como “zero gordura trans” em embalagens de produtos com teores do ingrediente igual ou inferior a 0,1 grama por porção, o que permite que a indústria possa manipular o tamanho da porção para que o valor de gordura trans seja declarado como zero. Além dessa mensagem, a tabela nutricional do alimento pode trazer a informação “0 g de gordura trans” se a presença desse ingrediente for igual ou inferior a 0,2 gramas por porção.

Pelos resultados da pesquisa, ao separar os alimentos analisados em categorias, foi identificado que 11% de salgadinhos, 9% de produtos de panificação e 8,4% dos biscoitos que apresentam a alegação de marketing “zero gordura trans” em seus rótulos, na verdade, contêm gordura trans em sua lista de ingredientes.

Etapas futuras

O próximo passo do deputado federal Felipe Carreras é realizar novas reuniões para definir ações que contribuam com as necessidades apontadas na audiência pública da última quarta-feira (12). “O debate foi muito importante. Existe uma convergência sobre a importância do assunto, e ficaram claras quais são as medidas que precisam ser tomadas. Agora precisamos continuar atuando em parceria para alcançar os resultados”, frisou o parlamentar.