Vírus mayaro, 'primo' da chicungunha: o que você precisa saber

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 17/05/2019 às 10:51
O vírus mayaro é transmitido por meio de picada de mosquitos silvestres, principalmente os Haemagogus janthinomys, que vivem em matas e vegetações à beira dos rios (Foto: Divulgação)
O vírus mayaro é transmitido por meio de picada de mosquitos silvestres, principalmente os Haemagogus janthinomys, que vivem em matas e vegetações à beira dos rios (Foto: Divulgação) FOTO: O vírus mayaro é transmitido por meio de picada de mosquitos silvestres, principalmente os Haemagogus janthinomys, que vivem em matas e vegetações à beira dos rios (Foto: Divulgação)

Pesquisadores da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram que o vírus mayaro, parente do chicungunha, está circulando no Rio de Janeiro. O novo vírus causa doença com sintomas semelhantes às de infecções por outros arbovírus como o chicungunha. Os sintomas são febre alta, dores musculares, de cabeça e nas articulações. O vírus mayaro é um arbovírus da família Togaviridae, gênero Alphavirus, cujo vetor principal é o mosquito Haemagogus, que vive em áreas mais silvestres, como as florestas ou matas fechadas.

Selecionamos abaixo as principais informações sobre mayaro em artigo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Confira:  

Como a doença se manifesta?

Apesar de pouco conhecida pela população, a febre mayaro é uma doença antiga. É caracterizada por febre branda ou moderada, de início abrupto e curta duração, acompanhada principalmente de calafrios e dores musculares, nas articulações e de cabeça.

Onde é mais frequente?

O vírus atinge principalmente a região Norte. No estado do Pará, por exemplo, já foram reportadas epidemias, e casos da doença são frequentes.

Só o homem tem a doença?

Até o momento, sabe-se que doença se manifesta apenas no homem. Animais, como cavalos, ovelhas e jacarés, também podem se infectar com o vírus, porém sem desenvolver a febre.

Como o vírus mayaro é transmitido?

O principal vetor do vírus mayaro é o mosquito da espécie Haemagogus janthinomys, um animal silvestre de hábitos predominantemente diurnos encontrado principalmente nas copas de árvores de matas úmidas. Por isso, a febre mayaro ocorre principalmente em áreas de floresta conservada. Estudos recentes, porém, sugerem uma potencial transmissão do vírus em áreas de floresta degradada na Amazônia. Também já foram encontradas evidências do vírus em população humana de grandes cidades, como Cuiabá e Manaus, o que pode indicar uma possível mudança da doença, com a ampliação para áreas urbanizadas.

Primatas do gênero Callithrix, o mesmo do mico-estrela, atuam como os hospedeiros amplificadores mais comuns do vírus mayaro. Isso significa que, quando infectados, esses animais podem apresentar grande carga viral na corrente sanguínea e, assim, servir como um amplificador do vírus, em que os vetores se ‘abastecem’ para infectar outros vertebrados.

Qual o risco de urbanização de mayaro?

Estudos recentes alertam para uma potencial urbanização da doença. Para isso, dois fatores são fundamentais: o contato da população urbana com insetos transmissores e a presença de hospedeiros amplificadores nas grandes cidades. Com relação aos vetores, existem três possibilidades. A primeira está relacionada ao próprio Haemagogus janthinomys e ao crescimento das cidades próximas a áreas silvestres no Norte e Centro-Oeste do Brasil. Como o mosquito pode circular abaixo das copas das árvores, ele seria capaz de infectar moradores de regiões próximas da mata.

A segunda estaria associada à transmissão por pernilongos, insetos comuns nas grandes cidades e que concentram sua atividade durante a noite. Essa é a hipótese dos estudos que apostam na transmissão do vírus mayaro em localidades com floresta degradada na Amazônia. Outro inseto que poderia surgir como potencial vetor do vírus em áreas urbanas é o Aedes aegypti, pois estudos anteriores, realizados em laboratório, já demonstraram a capacidade de o mosquito da dengue também transmitir o vírus mayaro.

Já o papel de hospedeiros amplificadores poderia ser desempenhado por primatas que vivem em áreas urbanas, como micos e saguis, muito comuns em grandes cidades brasileiras. Uma outra possibilidade seria, em um futuro difícil de precisar, a adaptação do vírus à amplificação em população humana: nesse cenário, as pessoas passariam a servir como hospedeiros amplificadores do vírus. Acredita-se que foi isso que ocorreu, há muito tempo, com o vírus chicungunha, que, antes de ter o homem incluído em seu ciclo de transmissão, circulava principalmente entre macacos e mosquitos em copas de árvore na África.

O que você precisa também saber sobre o vírus mayaro:

- É transmitido pelo mosquito Haemagogus, o mesmo do vírus da febre amarela. O mayaro que está no Rio de Janeiro, assim como o de febre amarela, ainda é silvestre. Ou seja, ele está nas altas matas, ainda não se transformou eminentemente urbano.

- Após a picada do mosquito infectado, os sintomas iniciam geralmente de um a três dias após a infecção. Esse tempo pode variar de pessoa a pessoa, dependendo da imunidade individual, quantidade de partículas virais inoculadas e cepa viral, entre outros fatores.

- A febre do mayaro não é contagiosa. Portanto, não há transmissão de pessoa a pessoa ou de animais a pessoas. Ela é transmitida somente pela picada de mosquitos infectados com o vírus mayaro.

Com informações do Estadão Conteúdo