Vacinar os adultos é um desafio, dizem os especialistas

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 11/03/2019 às 10:44
Pessoas com vacinas desatualizadas colocam em risco não só a própria saúde, mas também podem se tornar um transmissor de doenças (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem)
Pessoas com vacinas desatualizadas colocam em risco não só a própria saúde, mas também podem se tornar um transmissor de doenças (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem) FOTO: Pessoas com vacinas desatualizadas colocam em risco não só a própria saúde, mas também podem se tornar um transmissor de doenças (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem)

O segundo dia da série de reportagens, iniciada ontem, alerta para a imunização além da infância. Na terça-feira (12), a última reportagem apresenta o calendário para pessoas com condições de saúde especiais e debate ações previstas para barrar as baixas coberturas.

Vacina dada é sempre aquela que se comprova. Se não há registro no cartão, significa que é preciso imunizar. Essa é uma mensagem que a enfermeira Ana Catarina de Melo, coordenadora do Programa de Imunização em Pernambuco, faz questão de compartilhar, especialmente entre os adultos, que geralmente não se lembram das doenças que já tiveram nem têm a caderneta guardada. “Todos nós devemos compreender que esse cartão é um documento. É a comprovação da imunidade”, declara Ana Catarina. Em tempos de baixas coberturas, ela tem como amuleto um pensamento do médico americano Stanley Plotkin, 86 anos, consultor de empresas fabricantes de vacinas. “Com exceção da água limpa e potável, nenhuma outra intervenção humana, nem mesmo antibióticos, é mais benéfica que a imunização no combate às doenças infecciosas e na redução das taxas de mortalidade.”

A reflexão de Plotkin reforça o argumento de que as pessoas com as vacinas desatualizadas colocam em risco não só a própria saúde, mas também podem se tornar um transmissor de doenças, em especial para as crianças e idosos, que são mais vulneráveis. “A questão é que vacinar adultos é mais difícil do que imaginamos. Geralmente eles só se protegem quando precisam apresentar comprovação de imunização por causa do tipo de função que exercem no trabalho ou porque pretendem fazer viagem internacional ou nacional (para áreas de recomendação para vacina febre amarela, por exemplo)”, diz Ana Catarina.

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A vacina contra hepatite B é uma das que estão também no calendário do adulto. É uma doença infecciosa, sexualmente transmissível e que tem, na lista das causas de transmissão, as relações sexuais sem camisinha com uma pessoa infectada e o compartilhamento de materiais como seringas, agulhas, alicates de unha, lâminas de barbear e depilar.

“A vacina contra a doença está disponível, na rede pública, do nascimento aos 100 anos. O imunizante tem uns 30 anos de uso no Brasil, mas atualmente temos observado um aumento no número de casos da doença entre pessoas a partir dos 50 anos, pois compreendem uma faixa etária que não tomou a vacina na infância. Essa ascensão está mais relacionada a relações sexuais desprotegidas”, esclarece o médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, integrante do Comitê de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria. Em Pernambuco, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), foram confirmados 50 casos de hepatite B, em 2018, a partir dos 50 anos. Entre 20 e 29 anos, foram 30 registros; dos 30 aos 39 anos, 43 casos; de 40 a 49 anos, foram 39 notificações. Os dados ainda estão sujeitos à atualização.

Na adolescência, dos 10 aos 19 anos, a recomendação também é verificar a situação vacinal da hepatite B e, se necessário, atualizar a caderneta. Ainda para esse público, outro desafio listado pelos especialistas é conscientizar os pais sobre a importância da vacinação contra o HPV – sigla para o papilomavírus humano, que causa verrugas genitais e câncer de colo do útero. “Manter adequada a cobertura da segunda dose da vacina contra o HPV é um desafio”, reconhece o pediatra Jailson Correia, secretário de Saúde do Recife. Para exemplificar, no ano passado, a cobertura da primeira dose para as meninas da capital, aos 9 anos, foi de apenas 35,7%. A segunda aplicação foi baixíssima: 9,3%.

“As baixas coberturas levam a um dilema que está sendo debatido nacionalmente. Não é uma situação exclusiva do Recife. Quando entrou no calendário, a vacina contra HPV teve uma boa adesão. Mas o alcance foi caindo com o passar do tempo. Consideramos que uma estratégia particularmente para esse grupo de adolescentes é levar os vacinadores até às escolas. A realização dessa e outras ações para ampliação das coberturas estão sendo avaliadas em parceria com a Educação”, acrescenta Jailson.