Fake news dificultam trabalho de pesquisadores para 'censo' das arboviroses

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 23/01/2019 às 12:52
Equipe tem enfrentado dificuldade de acesso aos imóveis (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem)
Equipe tem enfrentado dificuldade de acesso aos imóveis (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem) FOTO: Equipe tem enfrentado dificuldade de acesso aos imóveis (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem)

Pesquisadores da Fiocruz Pernambuco estão preocupados com o compartilhamento de notícias falsas (também chamadas fake news) que podem induzir usuários de aplicativos de troca de mensagens a não abrirem as portas das residências para receber a equipe que realiza o “censo” das arboviroses no Recife – como é conhecido popularmente o mapeamento cuja missão é fazer o primeiro retrato fiel de zika, chicungunha e dengue na cidade.

“A mensagem que vem sendo disseminada não cita especificamente o nosso estudo, mas menciona que a população tenha cuidado com mulheres que passam nas residências fazendo uma pesquisa sobre a vida das famílias e que usam farda azul e crachá. Essa é a forma como nos apresentamos nos domicílios. Mas a nossa pesquisa é séria e ajudará a responder muitas questões sobre zika e chicungunha”, informa a médica Cynthia Braga, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco e coordenadora do estudo.

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Na reta final, ‘censo das arboviroses’ enfrenta dificuldades e resistência de moradores do Recife

A especialista acrescenta que, antes de compartilharem mensagens, as pessoas devem checar a veracidade do conteúdo que recebem, a fim de evitar conturbações capazes de comprometer a saúde pública. Ainda segundo Cynthia, a mensagem falsa desponta num momento em que a pesquisa mais precisa da colaboração dos moradores do Recife. O mapeamento está na reta final (a coleta de dados termina este mês), e a equipe enfrenta dificuldades para ter acesso aos domicílios, especialmente onde há maior concentração de prédios. Fazem parte desta lista Boa Viagem (Zona Sul), Espinheiro, Graças e Parnamirim (Zona Norte).

“Nesses bairros, há um percentual maior de casos em que famílias se negam a participar do estudo, apesar de termos conversado inicialmente com os síndicos e orientarmos sobre a importância do trabalho. São locais onde a recusa chega a 30%.” Ou seja, de dez residências, três não abrem as portas para o “censo”. Nos demais bairros, a negativa é menor: 10%.

Além de lidar com as rejeições, o grupo tem dificuldade de encontrar moradores na residência. A visita é feita de segunda a quinta-feira (das 17h às 21h) e também aos sábados pela manhã. A resistência levou os pesquisadores a recalcularem a amostra (pessoas selecionadas para o estudo), realizarem mais um sorteio e fazerem nova inclusão aleatória das residências. Na terça-feira (22), a equipe visitou Boa Vista (Centro), Paissandu, Ilha do Leite (ambos na área central) e Espinheiro. Ainda esta semana a equipe passará por bairros das Zonas Norte (Graças, Parnamirim e Tamarineira) e Oeste (Madalena e Torre). As pessoas com dúvidas sobre o estudo podem receber orientações, de segunda a sexta-feira, pelo telefone: 2101-2577.

Há locais onde a recusa dos moradores para a participação da pesquisa chega a 30% do total de domicílios sorteados (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem)

Entenda a pesquisa

O estudo pretende revelar a magnitude e o real impacto dessas doenças na população, além de avaliar a suscetibilidade e o risco de epidemia futuras, com a finalidade de propor estratégias de controle mais eficazes. O levantamento será capaz de identificar os segmentos da população recifense mais vulneráveis a arboviroses, de acordo com o sexo, faixa etária e condição socioeconômica. Ou seja, o mapeamento é essencial para identificar a proporção de pessoas susceptíveis ao adoecimento (aquelas que nunca tiveram zika, chicungunha e/ou dengue) porque se trata de um grupo que não desenvolveu imunidade e, na presença de nova epidemia, pode ser infectado. “A partir desse estudo, saberemos quem é essa população. Isso ajuda o governo a formular políticas de enfrentamento das arboviroses e a fazer uma vigilância mais precisa", explica Cynthia Braga.

Além de realizarem entrevistas, os pesquisadores coletam amostra de sangue em quem não apresenta sintomas de arboviroses no momento da visita. Já os participantes que tiverem sinal de alguma das doenças, durante a entrevista (ou nos últimos 30 dias), são submetidos a testes de saliva, urina e fio de cabelo para um diagnóstico confiável. No fim do estudo, todos terão acesso aos exames. A previsão é de que, em até dois meses, sejam liberados os resultados dos testes.