Relação entre sua cintura e altura pode indicar risco de doenças do coração

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 18/01/2019 às 11:38
A relação cintura-estatura é obtida pela divisão da circunferência da cintura pela estatura (Foto: Freepik/Banco de Imagens)
A relação cintura-estatura é obtida pela divisão da circunferência da cintura pela estatura (Foto: Freepik/Banco de Imagens) FOTO: A relação cintura-estatura é obtida pela divisão da circunferência da cintura pela estatura (Foto: Freepik/Banco de Imagens)

Da Agência Brasil

O acúmulo excessivo de gordura na região abdominal já é um conhecido indicador de risco para doenças cardiovasculares. A medida, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não deve ultrapassar 94 centímetros nos homens e 90 centímetros nas mulheres. Um novo estudo, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no entanto, identificou que pessoas fisicamente ativas e sem sobrepeso, mas com valores de relação cintura-estatura próximos ao limite do risco também têm maior probabilidade de desenvolver distúrbios no coração.

Leia também:

Recife ganha centro para driblar as ameaças da obesidade e diabetes

Sentar com a carteira no bolso de trás da calça pode provocar problemas na coluna

A relação cintura-estatura é obtida pela divisão da circunferência da cintura pela estatura. "Até então, os valores acima de 0,5 indicavam alto risco de desenvolver alguma doença cardiovascular ou metabólica. Os valores abaixo de 0,5 indicavam que a pessoa tinha aparentemente menor risco", explica o professor da Unesp de Marília, Vitor Engrácia Valenti, coordenador da pesquisa. Para o estudo, foram selecionados 52 homens saudáveis e fisicamente ativos, com idade entre 18 e 30 anos.

Segundo Valenti, estudos recentes sugerem que a relação cintura-estatura fornece informações mais precisas de riscos cardiovasculares do que o índice de massa corporal (IMC), que avalia a distribuição de gordura pelo corpo. "O resultado que encontramos chama a atenção daquelas pessoas que acham que estão fora dos grupos de risco por não ter barriga, mas não fazem atividade física ou mantêm hábito alimentar saudável. Mesmo sem barriga, pode ser um risco, alerta o professor, com base no trabalho.

O estudo, que tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi feito em colaboração com a Oxford Brookes University, na Inglaterra, e publicada na revista Scientific Reports.

Avaliação

Os participantes do trabalho foram divididos em três grupos: o primeiro, composto por homens com menor percentual de gordura corporal e com relação cintura-estatura entre 0,40 e 0,449; o segundo, formado por homens entre 0,45 e 0,50, próximo ao limiar de risco; e o terceiro, por homens acima do limite de risco, entre 0,5 e 0,56. "Nós avaliamos parâmetros fisiológicos do sistema nervoso autônomo, por meio do ritmo do coração, antes e durante uma hora após a recuperação do exercício", explicou Valenti.

Eles foram avaliados durante dois dias. No primeiro exercício, os participantes tiveram que permanecer 15 minutos sentados e em repouso. Em seguida, fizeram uma corrida com esforço máximo em uma esteira ergométrica. O objetivo era constatar que todos eram fisicamente ativos. Embora não fossem atletas, mantinham atividades regulares. Em seguida, teriam que ficar em repouso por 60 minutos.

No segundo dia, foram submetidos a um exercício físico moderado: uma caminhada de 30 minutos em uma esteira. A intensidade seria de aproximadamente 60% do esforço máximo. A intenção era observar, durante o repouso e a primeira hora após os exercícios, a velocidade de recuperação cardíaca autonômica. "Quanto mais tempo o organismo demora para se recuperar após o exercício, isso é indicativo de que essa pessoa tem probabilidade maior de desenvolver doença cardiovascular, como hipertensão, infarto, AVC", diz o pesquisador.

Os resultados mostraram que os grupos com relação cintura-estatura próximo e acima do limite de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas apresentaram recuperação cardíaca autonômica mais lenta, tanto no esforço máximo quanto no moderado. "Mesmo aqueles saudáveis e fisicamente ativos, que não tinham sobrepeso e nem obesidade, mas que tinham valores de normalidade mais próximos dos valores de risco, tinham risco maior do que aquele grupo que era composto por indivíduos com menor tamanho de cintura e estatura", destaca Valenti.

O pesquisador acrescenta que esse é um estudo inicial, mas com "fortes evidências" da necessidade de se rever os valores de referência. "Vamos sugerir agora que ele seja feito em outros países, com outra população, em outras condições. Aqui verificamos na população brasileira. Se pensarmos na população da China, do Japão, que tem cultura diferente, costumes diferentes, não podemos generalizar com base nos resultados apenas dos brasileiros", adverte.

Obesidade

A obesidade é considerada uma epidemia global pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Estima-se que 1,9 bilhão de adultos tenham sobrepeso - entre eles, 600 milhões estariam obesos. No Brasil, a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2017, do Ministério da Saúde, mostrou que 18,9% dos brasileiros estão obesos. Além disso, mais da metade da população das capitais brasileiras (54%) têm excesso de peso.