Na reta final, 'censo das arboviroses' enfrenta dificuldades e resistência de moradores do Recife

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/01/2019 às 12:39
Pesquisadores tentam fazer primeiro retrato fiel de zika, chicungunha e dengue no Recife (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)
Pesquisadores tentam fazer primeiro retrato fiel de zika, chicungunha e dengue no Recife (Foto: Diego Nigro/JC Imagem) FOTO: Pesquisadores tentam fazer primeiro retrato fiel de zika, chicungunha e dengue no Recife (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

Quatro meses após os primeiros passos do estudo que começa a traçar um panorama dos casos novos e antigos das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti no Recife, pesquisadores da Fiocruz Pernambuco fazem um apelo para que moradores da capital pernambucana abram as portas para participarem do “censo”, como é conhecido popularmente o mapeamento cuja missão é fazer o primeiro retrato fiel de zika, chicungunha e dengue na cidade. Nesta reta final (a coleta de dados termina este mês), a equipe enfrenta dificuldades para ter acesso aos domicílios, especialmente nos onde há maior concentração de prédios. Fazem parte desta lista Boa Viagem (Zona Sul), Espinheiro, Graças e Parnamirim (Zona Norte).

“Nesses bairros, há um percentual maior de casos em que as famílias se negam participar do estudo, apesar de termos conversado inicialmente com os síndicos e orientarmos sobre a importância do trabalho. São locais onde a recusa chega a 30%”, destaca a médica Cynthia Braga, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco e coordenadora do Inquérito de Arboviroses do Recife. Ou seja, de dez residências contactadas, três não abrem as portas para o “censo”. Nos demais bairros, a negativa é menor: 10%. “Estamos revisitando os bairros com maior índice de recusa para resgatarmos as entrevistas”, complementa.

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Além de lidar com as rejeições, a equipe tem dificuldade de encontrar moradores na residência. A visita é feita de segunda a quinta-feira (das 17h às 21h) e também aos sábados pela manhã. A resistência levou os pesquisadores a recalcularem a amostra (pessoas selecionadas para o estudo), realizarem mais um sorteio e fazerem nova inclusão aleatória das residências.

"Já entrevistamos 800 pessoas. A meta é 1,2 mil. Ou seja, ainda precisamos chegar a mais 400 moradores para o estudo não ter a qualidade comprometida. Dessa maneira, temos a chance de precisar a dimensão das epidemias (anteriores) de zika e chicungunha, especialmente”, frisa Cynthia Braga. Ela reforça que o levantamento será capaz de identificar os segmentos da população recifense mais vulneráveis a arboviroses, de acordo com o sexo, faixa etária e condição socioeconômica.

"Das 800 pessoas que já entrevistamos, 200 são casos sugestivos de arboviroses. A confirmação será dada pelos exames, que começam a ser processados esta semana", diz Cynthia Braga (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

A pesquisadora explica que é essencial identificar a proporção de pessoas susceptíveis ao adoecimento (aquelas que nunca tiveram zika, chicungunha e/ou dengue) porque se trata de um grupo que não desenvolveu imunidade e, na presença de nova epidemia, pode ser infectado. “A partir desse estudo, saberemos quem é essa população. Isso ajuda o governo a formular políticas de enfrentamento das arboviroses e a fazer uma vigilância mais precisa.”

Além de realizarem entrevistas, os pesquisadores coletam amostra de sangue em quem não apresenta sintomas de arboviroses no momento da visita. Já os participantes que tiverem sinal de alguma das doenças, durante a entrevista (ou nos últimos 30 dias), são submetidos a testes de saliva, urina e fio de cabelo para um diagnóstico confiável. No fim do estudo, todos terão acesso aos exames. A previsão é de que, em dois meses, sejam liberados os resultados dos testes.