Envelhecimento: médico alerta para falta de políticas públicas

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 15/10/2018 às 8:01
Kalache acredita que o planejamento do envelhecimento pode contribuir para uma velhice com mais qualidade de vida. Foto: divulgação
Kalache acredita que o planejamento do envelhecimento pode contribuir para uma velhice com mais qualidade de vida. Foto: divulgação FOTO: Kalache acredita que o planejamento do envelhecimento pode contribuir para uma velhice com mais qualidade de vida. Foto: divulgação

SÃO PAULO - Em 2065, a previsão é que o Brasil tenha 78 milhões de pessoas acima dos 60 anos de vida, o que representará 33,9% do total da população. O número alto de idosos que o País terá em breve acende o alerta dos cuidados que são necessários a essas pessoas no que diz respeito ao envelhecimento saudável.

Durante o evento Diálogos da Longevidade, na última quarta-feira (10), em São Paulo, o médico e gerontólogo Alexandre Kalache, presidente da Global Alliance of Longevity Centres e do Centro Internacional de Longevidade Brasil, ressaltou o problema da falta de políticas públicas voltadas para os idosos. O encontro foi promovido pela Bradesco Seguros.

“Eu manifesto a minha indignação. Eu não vi nenhum candidato nessas eleições falar de envelhecimento. Está fora da pauta. Nós precisamos abrir os olhos para nos preparar, inclusive porque o futuro é de vocês, mais jovens hoje, envelhecidos amanhã”, comentou.

Kalache apresentou ainda os capitais que ajudariam em um bom processo de envelhecimento: capital de saúde, capital de conhecimento, social e capital financeiro. O primeiro é a busca pelo cuidado com o próprio corpo, o segundo com a procura pela sabedoria, o terceiro as relações interpessoais feitas ao longo da vida e, o último, os bens que se adquiriu. "Quanto mais cedo acumularmos melhor. É preciso ter propósito de vida", afirmou.

O especialista mostrou que quatro fatores de risco - sedentarismo, má alimentação, uso excessivo do álcool e do tabaco - podem contribuir para as doenças crônicas que são um grande problema na busca pela longevidade. "Elas podem matar prematuramente. Então, quanto mais cedo você se preparar, melhor."

Jovens precisam se preocupar com longevidade

O médico psiquiatra Jairo Bouer, que também participou da palestra, também endossou o discurso de Kalache no sentido de impulsionar os jovens a se preocupar com o futuro. Ele percebe na geração mais nova, que é hiperconectada na internet e nas redes sociais, um distanciamento de cuidados com a própria saúde.

"Há uma tendência, muitas vezes, de substituir a preocupação com saúde pela preocupação com a aparência, com a imagem", disse. O especialista acredita que isso contribui também para o desenvolvimento de doenças que possuem índices mais altos de incidência entre os jovens, como distúrbios de aparência e até o suicídio.

Outro ponto levantado pelo psiquiatra sobre o comportamento de risco do jovem e a diferença entre a prevenção com a saúde entre homens e mulheres.

"Classicamente a garota se cuida mais que o garoto. Ao final da infância, a menina começa a procurar o ginecologista, a fazer acompanhamentos periódicos. Ela tem, no campo da saúde, com quem falar. Já o menino, uma vez que ele deixou o pediatra, dificilmente ele volta pro médico, pro serviço de saúde. A cultura da prevenção não é comum para o menino", afirmou Bouer. Ele citou ainda as altas taxas de mortalidade de homens vítimas da violência e de acidentes.

Jairo Bouer reforçou a importância de se enxergar a saúde como parte de um projeto de vida das pessoas. "A gente precisa fazer com que esse jovem passe a olhar a saúde como um valor. Se a família têm essa tradição no investimento em saúde, na possibilidade de viver mais, elas podem trabalhar isso desde mais cedo com seus filhos."

*A repórter viajou a convite da Bradesco Seguros