Negligência: 'Tracoma é algo para nos envergonhar', diz subdiretor da Opas

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/09/2018 às 16:51
O tracoma, causado pela bactéria Chlamydia trachomatis, causa alterações na córnea capazes de levar à cegueira. O mau controle da doença está relacionado a precárias condições de saneamento (Foto: Freepik)
O tracoma, causado pela bactéria Chlamydia trachomatis, causa alterações na córnea capazes de levar à cegueira. O mau controle da doença está relacionado a precárias condições de saneamento (Foto: Freepik) FOTO: O tracoma, causado pela bactéria Chlamydia trachomatis, causa alterações na córnea capazes de levar à cegueira. O mau controle da doença está relacionado a precárias condições de saneamento (Foto: Freepik)

A declaração acima foi feita pelo subdiretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, durante o 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop), que terminou, na quarta-feira (5), no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. “O Brasil evoluiu muito em relação à prevenção do tracoma. Contudo, enquanto a doença não for eliminada, corre-se sempre o risco de problemas (como a cegueira) virem a suceder. Não adianta ensinar a criança a lavar as mãos se ela não tem acesso a água nem a sabonete. E a prevenção (do tracoma) vem de medidas fáceis de ser implantadas”, disse Jarbas, destacando que o mau controle da doença está relacionado a precárias condições de saneamento.

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Segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco, foi realizado um inquérito do tracoma este ano em 64 escolas, em 24 municípios, mais Fernando de Noronha. Foram examinados 18.798 estudantes. Entre eles, 726 apresentaram diagnóstico positivo. Doença inflamatória ocular, o tracoma é causado pela bactéria Chlamydia trachomatis, que causa alterações na córnea capazes de levar à diminuição da acuidade visual e cegueira.

Jarbas Barbosa destaca que o mau controle do tracoma está relacionado a precárias condições de saneamento (Foto: Antonio Fuchs/INI-Fiocruz)

Saiba mais

Tracoma é uma doença inflamatória de evolução crônica e recidivante, também conhecida como conjuntivite granulomatosa. Em áreas com grande quantidade de casos ocorre um maior risco de reinfecções. Infecções repetidas da doença produzem cicatrizes na conjuntiva do olho, que podem levar ao entrópio (pálpebra em posição defeituosa com margem para dentro do olho) e triquíase (cílios em posição defeituosa nas bordas da pálpebra, tocando o globo ocular). O atrito do cílio sobre o globo ocular causam alterações na córnea que podem provocar a diminuição da acuidade visual até à cegueira.

O tracoma é responsável por prejuízos visuais em 1,9 milhões de pessoas, das quais 450 mil apresentam cegueira irreversível. Estima-se que 190,2 milhões de pessoas vivem em áreas endêmicas com risco de cegueira por tracoma. O tracoma é um problema de saúde pública em muitos países pobres e em áreas remotas de 42 países da África, Ásia, América Central e do Sul e Oriente Médio, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

O diagnóstico é essencialmente clínico e realizado por meio de exame ocular externo, utilizando lupa binocular de 2,5 vezes de aumento. O diagnóstico laboratorial deve ser utilizado para a constatação da circulação da bactéria causadora do tracoma na comunidade, e não para a confirmação de cada caso, individualmente. A técnica laboratorial padrão, para o diagnóstico das infecções por Chlamydia trachomatis, bactéria causadora do tracoma, é a cultura, porém não vem sendo utilizada como rotina nos laboratórios de saúde pública. Para diagnosticar o tracoma, é preciso diferenciá-lo de outras conjuntivites.

O tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde é a azitromicina, administrada sob supervisão médica. O objetivo do tratamento é a cura da infecção. Em nível populacional, o objetivo é interromper a cadeia de transmissão da doença e diminuir a circulação do agente etiológico na comunidade, o que leva à redução da frequência das reinfecções e da gravidade dos casos.