EUA começam a testar uma só vacina contra zika e dengue em humanos

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/09/2018 às 15:34
A primeira fase do estudo clínico está em andamento nos Estados Unidos e inclui 28 adultos saudáveis entre 18 e 50 anos: 20 receberão uma dose única subcutânea da vacina experimental e, nos outros 8 participantes, será aplicada uma injeção de placebo (Foto ilustrativa: Freepik/Banco de Imagens)
A primeira fase do estudo clínico está em andamento nos Estados Unidos e inclui 28 adultos saudáveis entre 18 e 50 anos: 20 receberão uma dose única subcutânea da vacina experimental e, nos outros 8 participantes, será aplicada uma injeção de placebo (Foto ilustrativa: Freepik/Banco de Imagens) FOTO: A primeira fase do estudo clínico está em andamento nos Estados Unidos e inclui 28 adultos saudáveis entre 18 e 50 anos: 20 receberão uma dose única subcutânea da vacina experimental e, nos outros 8 participantes, será aplicada uma injeção de placebo (Foto ilustrativa: Freepik/Banco de Imagens)

O Instituto Nacional de Saúde (NIH, sigla em inglês) dos Estados Unidos inicia o primeiro teste, em humanos, de uma vacina pentavalente, que tem como alvo oferecer proteção contra os quatro tipos de vírus da dengue (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4) e o da zika. A informação é do médico e sociólogo Ricardo Palácios Gomez, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan (SP), que tem parceria de colaboração com o NIH para desenvolver, no Brasil, uma vacina contra os vírus da dengue. Os detalhes foram compartilhados durante o 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop), que terminou, na quarta-feira (5), no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. “Nossos colegas do NIH começaram, na última semana, um teste clínico de um quinto componente: uma quimera (combinação de genes de múltiplos vírus) que usa o DEN-4 e, dentro dele, os genes das proteínas estruturais do zika. Os resultados dos estudos pré-clínicos (em modelos animais) foram favoráveis”, frisa Ricardo Palácios Gomez.

Leia também:

‘Cartão amarelo’ para a vacina da dengue faz questionar: há riscos para quem já se imunizou?

Pesquisadores monitoram gestantes expostas ao zika vírus e outras arboviroses

A primeira fase do estudo clínico está em andamento nos Estados Unidos e inclui, segundo comunicado do NIH, 28 adultos saudáveis entre 18 e 50 anos: 20 receberão uma dose única subcutânea da vacina experimental e, nos outros 8 participantes, será aplicada uma injeção de placebo (substância com as mesmas características da vacina, mas sem efeito). Os voluntários do estudo e os pesquisadores não saberão quem recebe nem o placebo. “Será estudada uma população que nunca teve contato com zika nem com dengue. Assim, é possível ver a resposta imune (do imunizante) o mais pura possível. Em seguida, pode-se avaliar a vacina em outras populações.” O NIH informa que, ao longo de seis meses após a vacinação, os participantes continuarão sendo avaliados e submetidos a exames. Os pesquisadores analisarão amostras de sangue para ver se voluntários desenvolverão anticorpos (contra dengue e zika) em resposta à vacina experimental. A expectativa é que esse etapa do estudo dure um ano.

Para Ricardo Palácios Gomez, é provável que o Brasil seja convidado para participar da fase 2 dos testes da vacina pentavalente, assim como ocorreu com a vacina contra dengue, criada originalmente pelo NIH e que hoje está na fase 3 dos estudos, sob condução do Instituto Butantan. O Instituto Aggeu Magalhães, unidade da Fiocruz em Pernambuco, coordena os testes no Estado. “Possivelmente o nosso centro é referência para se fazer testes de uma vacina pentavalente (contra dengue e zika), pois atualmente é o que mais concentra estudos clínicos epidemiológicos em arboviroses no mundo”, destaca o pesquisador Ernesto Marques Júnior, do Departamento de Virologia e Terapia Experimental (Lavite). Ele coordenou a mesa-redonda, no MedTrop, que detalhou as pesquisas sobre as vacinas contra dengue.

"Precisamos investigar as possíveis interações entre dengue e zika. Será que imunizar contra dengue interfere na resposta clínica de uma infecção (natural) por zika? Ou o contrário: uma possível infecção por zika alteraria a forma como o organismo se comporta diante da vacina?", questiona Ernesto Marques Júnior, reforçando o quanto os testes são complexos (Foto: Filipe Jordão/JC Imagem)

Para Ernesto, os estudos são essenciais para responder inquietações relacionadas à imunização. “É preciso saber se a vacinação contra dengue altera a forma como o organismo responde a uma possível infecção pelo zika após a imunização. Particularmente acredito que a vacina contra dengue pode causar uma proteção temporária contra zika”, diz Ernesto, com a certeza de que a expertise pernambucana é valiosa para ajudar a controlar os efeitos de futuras epidemias.