Zika: os três primeiros anos da epidemia associada à microcefalia

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 16/07/2018 às 11:51
Matheus, 2 anos e 10 meses (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)
Matheus, 2 anos e 10 meses (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem) FOTO: Matheus, 2 anos e 10 meses (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)

Não restam mais dúvidas de que a associação entre zika e microcefalia escreve, a cada dia, novos capítulos na história da medicina. Os registros feitos na literatura científica ultrapassam (e surpreendem) até a expectativa dos mais renomados pesquisadores. “Vencemos tantos obstáculos... Escutamos, em várias ocasiões, que os bebês nem chegariam ao primeiro ano de vida. E hoje vemos muitos deles alcançando os 3 anos”, relata a bancária Isabel Albuquerque, 40 anos, mãe de Matheus, 2 anos e 10 meses, que nasceu com microcefalia.

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O depoimento dela só reforça como a medicina não é uma ciência exata. Por mais que se tentasse prever, no último trimestre de 2015 (quando se percebeu o aumento incomum de recém-nascidos com microcefalia, que se tornou a malformação congênita mais associada ao zika), como as crianças poderiam se desenvolver, nada seria perfeitamente fiel às evidências.

Mesmo hoje, três anos após o nascimento dos primeiros bebês da era zika, pesquisadores carregam interrogações. A sociedade também. Em entrevista ao programa Casa Saudável, da TV JC, na quinta-feira (12), o diretor da Fiocruz Pernambuco, Sinval Brandão Filho, reforçou que muito ainda falta se conhecer sobre uma síndrome com um espectro tão amplo. Mais respostas para as dúvidas serão debatidas durante o 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop), em setembro, no Centro de Convenções de Pernambuco. Pesquisas que foram iniciadas em 2015 terão alguns de seus desfechos revelados durante o evento.

O infectologista Demócrito Miranda Filho, integrante do Grupo de Pesquisa da Epidemia da Microcefalia (Merg), do qual fazem parte profissionais ligados a instituições de Pernambuco, de regiões dos Estados Unidos e da Inglaterra, apresentará como estão as crianças, em acompanhamento por profissionais de várias especialidades da saúde, após três anos da identificação da mudança de padrão da ocorrência microcefalia.

A mãe de Matheus sabe bem o quanto a assistência oferecida, ao longo desses três anos, funciona como uma espécie de empurrãozinho para o cérebro entender melhor os estímulos socioafetivos, cognitivos e motores. “É necessário agora mudar o foco do tratamento. Todas as crianças com zika precisam ter direito a terapias mais modernas na rede pública. Falta uma inclusão de verdade. Vamos continuar a lutar por isso”, diz Isabel, que não deixa dúvidas de que temos o poder de transformar os desafios, trazidos pelo zika, em resiliência.