Chá de canela-de-velho é milagroso para tratar artrose e dores nas juntas? Especialista responde

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 19/06/2018 às 18:53
Especialista alerta sobre a qualidade dos produtos comercializados para o preparo dos chás de canela-de-velho (Foto ilustrativa: Freepik)
Especialista alerta sobre a qualidade dos produtos comercializados para o preparo dos chás de canela-de-velho (Foto ilustrativa: Freepik) FOTO: Especialista alerta sobre a qualidade dos produtos comercializados para o preparo dos chás de canela-de-velho (Foto ilustrativa: Freepik)

A Miconia albicans, planta conhecida como canela-de-velho, tem sido procurada para combater dores e inflamações nas articulações. Mas será que o uso da planta, através de chás, é eficaz? “Penso que é cedo demais para adotar essa planta na prática clínica”, responde o farmacêutico Leandro Medeiros, professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

O especialista ainda reflete sobre a qualidade dos produtos comercializados para o preparo dos chás. “Será que é realmente essa espécie que é comercializada?”, questiona. Um alerta acende: antes de usar qualquer produto, é essencial ter o aval de um especialista e, claro, não deixar de lado o tratamento convencional por conta própria.

Confira a opinião de Leandro Medeiros no Instagram:

Já ouviu falar de alguém que fez chá de canela de velho para tratar alguma dor/inflamação? Ou recebeu no consultório alguma dúvida sobre ela (se realmente funciona e se é segura)? . Pois é. Sem dúvidas, essa planta tem sido realmente procurada pela população, como mais uma opção para tratamento de problemas de saúde, especialmente quadros inflamatórios. Mas o que temos de embasamento científico ou tradicional? . • 1) É importante definir o nome científico antes de mais nada, para uma pesquisa mais adequada e que neste caso, trata-se da Miconia albicans. Mas é importante salientar que existem outros termos tratados como sinônimos (segundo a base de dados Tropicos, existem mais 3 sinonímias para esta espécie); • 2) Em bases de dados biomédicas, encontramos apenas poucos ensaios pré-clínicos, de caráter botânico, fitoquímico, toxicológico e farmacológico, com este último, exibindo resultados ainda conflitantes sobre seu efeito antinociceptivo/anti-inflamatório. • 3) Não há a citação em literatura reconhecida (RDC 26/2014) sobre sua existência em sistemas médicos tradicionais/uso tradicional reconhecido, não sendo possível confirmarmos sua efetividade e segurança. . Portanto, trata-se de uma espécie que requer maior e melhor investigação para seu uso de forma mais segura. Até então, os compostos que mais se destacam e que apresentam resultados promissores são o ácido usrólico e o ácido oleanoico, havendo também dados preliminares de que outros fitoquímicos gerem sinergismo sobre efeitos antinociceptivos (PMID: 16989305). . Um aspecto que me chama atenção também é quanto à qualidade dos produtos já comercializados no Brasil, para o preparo dos chás. Será que é realmente esta espécie que está sendo comercializada? . Para maiores informações, consultem os trabalhos feitos pelo grupo de pesquisa da Universidade de Franca-SP (Vasconcelos e cols.) e a revisão sistemática feita por Almeida (2016), disponível no repositório da UFS. Como conclusão, com todo respeito às práticas populares já existentes, penso que é cedo demais para adotar esta planta na prática clínica. #Fitoterapia #FitoterapiaRacional #EducacaoEmSaude #FalandoSobreFitoterapia

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