Conheça a história de cientista PhD que superou preconceitos e melhorou a qualidade de vida das pessoas

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 27/05/2018 às 12:11
Com pós-doutorado em química em Harvard, nos EUA, ela é responsável por dezenas de pesquisas e tem uma equipe com alunos de 14 a 18 anos. “O preconceito pode ser uma ferramenta para cérebros pensantes”, diz Joana, filha de uma empregada doméstica e um curtumeiro (Foto: Divulgação)
Com pós-doutorado em química em Harvard, nos EUA, ela é responsável por dezenas de pesquisas e tem uma equipe com alunos de 14 a 18 anos. “O preconceito pode ser uma ferramenta para cérebros pensantes”, diz Joana, filha de uma empregada doméstica e um curtumeiro (Foto: Divulgação) FOTO: Com pós-doutorado em química em Harvard, nos EUA, ela é responsável por dezenas de pesquisas e tem uma equipe com alunos de 14 a 18 anos. “O preconceito pode ser uma ferramenta para cérebros pensantes”, diz Joana, filha de uma empregada doméstica e um curtumeiro (Foto: Divulgação)

Por Angela Belfort, repórter do Jornal do Commercio

SÃO PAULO – Quebra de paradigmas foi o mote da conferência TEDxSãoPaulo, realizada este mês, no Memorial da América Latina, na capital paulista. Não faltaram exemplos de pessoas que têm construído uma perspectiva otimista para a saúde no Brasil. Na ocasião, a pesquisadora e química Joana Félix falou sobre inventos que saíram do laboratório da Escola Técnica Estadual (ETE) de Franca, a 400 quilômetros da cidade de São Paulo. Na instituição, foram desenvolvidos uma pele humana artificial (capaz de chegar a 100% de compatibilidade com o corpo humano), um sapato antimicrobiano e um cimento que pode ser usado em transplante de osso.

Leia também:

Curativo da pele de tilápia pode se tornar antibiótico natural contra bactérias perigosas

TEDMED: referência em zika e saúde ocular, Camila Ventura participa de conferência mundial

Do laboratório, saíram invenções que resultaram em 15 patentes registradas em 30 países. Uma parte disso ocorreu porque Joana conseguiu bolsas de iniciação científica para os estudantes. Com pós-doutorado em química em Harvard, nos EUA, ela é responsável pelas pesquisas e tem uma equipe com alunos de 14 a 18 anos. “O preconceito pode ser uma ferramenta para cérebros pensantes”, diz Joana, filha de uma empregada doméstica e um curtumeiro. A mãe a levava para o trabalho e tentava entretê-la com jornais.

Resultado: aos 4 anos, Joana aprendeu a ler. Aos 14, concluiu o ensino médio. E três anos depois, passou no vestibular em três universidades. Escolheu a de Campinas (SP), a 300 quilômetros da sua casa. O pai pagava a hospedagem, e ela fazia as refeições no restaurante universitário. No fim de semana, ela ganhava pãezinhos, que sobravam na sexta. “Os funcionários do refeitório me davam até dez unidades”, recorda.

No segundo semestre do curso, conseguiu uma bolsa de iniciação científica e, assim, começou a ganhar dinheiro. Enviava parte para a família. Passada a graduação, conseguiu uma bolsa de mestrado na Carolina do Sul (EUA), numa cidade super-racista. Negra, Joana foi e diz ter sido o “pior ano da sua vida”. Voltou com o título de mestre. Daí em diante, a carreira só prosperou com cursos no exterior, até a morte da irmã e do pai. Joana decidiu voltar ao Brasil. Em Franca, fez concurso e passou a ser professora da ETE. Na iniciação científica da escola, foram contemplados alunos em situação de vulnerabilidade, como uma menina que era garota de programa, um rapaz com problemas associados a drogas e outro que já tinha cometido assassinato. Todos viraram pesquisadores de química.

“Investir em educação cientifica é a peça-chave para a sociedade democrática, economicamente produtiva, mais humana e sustentável.” Se mais escolas técnicas do Brasil fizessem o mesmo, quantos produtos inovadores poderiam ser capazes de melhorar a saúde de milhares de brasileiros? Fica a reflexão.

A repórter Angela Belfort viajou a convite Medley