Cresce em 50% o número de transplantes de rim em PE, mas 768 pacientes ainda aguardam o órgão

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 20/03/2018 às 15:48
Em 2017, PE despontou em 1º lugar no Norte e Nordeste no número de procedimentos de coração, rim, pâncreas, córnea e medula óssea (Foto: Agência Brasil)
Em 2017, PE despontou em 1º lugar no Norte e Nordeste no número de procedimentos de coração, rim, pâncreas, córnea e medula óssea (Foto: Agência Brasil) FOTO: Em 2017, PE despontou em 1º lugar no Norte e Nordeste no número de procedimentos de coração, rim, pâncreas, córnea e medula óssea (Foto: Agência Brasil)

Indicado para pacientes com doença renal crônica avançada, o transplante de rim cresce, nos dois primeiros meses deste ano, em 50% em Pernambuco, em comparação com o mesmo período do ano passado. Em janeiro e fevereiro, foram 69 procedimentos (em 2017; 46). Paradoxalmente, o órgão é o primeiro na fila de espera: são atualmente 768 pacientes que aguardam esse tipo de transplante. No Estado, é uma intervenção realizada em três serviços pelo Sistema Único de Saúde (SUS): no Real Hospital Português, no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) e no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Este último só realiza o procedimento a partir de doadores vivos (é feito entre parentes, é permitido pela legislação brasileira até o quarto grau de parentesco).

Geralmente, os pacientes que se submetem ao transplante de rim têm uma maior sobrevida ao longo dos anos, mas a hemodiálise também pode ser indicada como tratamento da doença renal crônica. “É por isso que a mortalidade em lista de espera por um rim, em relação a outros órgãos, é seis vezes menor. Enquanto aguardam o procedimento, as pessoas permanecem em hemodiálise. Ou seja, há uma opção além do transplante nesses casos”, esclarece a coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE), Noemy Gomes.

A fila grande para receber um rim não é um cenário apenas do Estado, pois representa uma realidade nacional. A explicação é que, diferentemente dos transplantes de outros órgãos, como coração e fígado, o de rim depende (além da compatibilidade do grupo sanguíneo) de compatibilidade genética entre o doador e o receptor – um fator que trava ainda mais a realização do procedimento. “Quando o órgão aparece, logo se pensa no paciente mais compatível, que pode estar na lista de espera há menos tempo do que outro que está há mais tempo e que encontra dificuldade com a compatibilidade genética para receber o rim”, explica Noemy.

"Precisamos tirar dúvidas, derrubar mitos e quebrar preconceitos, além de saber que a doação de órgãos pode salvar muitas vidas", frisa Noemy Gomes (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

Outros fatores também são analisados para se autorizar o transplante renal, como a condição de saúde do doador. “Se ele tiver hipertensão e diabetes sem tratamento, a função renal pode estar afetada, o que pode invalidar o procedimento”, acrescenta a coordenadora de CT-PE. São esses detalhes para efetuação do procedimento que também exigem a manutenção do trabalho de conscientização da população e de mobilização dos profissionais de saúde.

“Permanentemente sensibilizamos os parentes dos potenciais doadores sobre esse ato de solidariedade. Também estamos focando nas capacitações dos profissionais de saúde para otimizar o trabalho de acolhimento das famílias e ações de manutenção do potencial doador e de todas as etapas para concretizar o transplante.”

Apesar de todo o empenho para conscientizar a sociedade, 21 das 43 famílias (de potenciais doadores) entrevistadas em Pernambuco, em janeiro e fevereiro deste ano, não autorizaram o procedimento. Ou seja, 48,8% dos casos foram impossibilitados da doação. “A população precisa saber que a doação de órgãos só ocorre quando há a efetiva morte do doador, que passa por uma série de avaliações e exames”, informa Noemy.

PEÇA

A temática da doação de órgãos será abordada na peça Começar Outra Vez, que aborda a importância do diagnóstico precoce da hepatite C, doença tratável que, sem a assistência devida, pode levar o paciente à fila de espera por um fígado. O espetáculotem apoio da CT-PE e das secretarias estaduais de Saúde, Cultura e Turismo, Esporte e Lazer, além da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), universidades, hospitais e instituições ligadas à doação de órgãos e tecidos e apoio aos pacientes.

O balanço de 2017 da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), divulgado este mês, mostra Pernambuco em primeiro lugar, no Norte e Nordeste, no número de procedimentos de coração, rim, pâncreas, córnea e medula óssea. Juntos, totalizam mais de 1,6 mil pessoas transplantadas no ano passado.