Pesquisadora que confirmou relação causal entre zika e microcefalia vence o Prêmio Péter Murányi

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/02/2018 às 15:21
Celina Turchi (ao centro) já foi entrevistada pelas repórteres Cinthya Leite, à esq., e Mariana Barros, à dir., na TV JC (Foto: André Nery/Acervo JC Imagem)
Celina Turchi (ao centro) já foi entrevistada pelas repórteres Cinthya Leite, à esq., e Mariana Barros, à dir., na TV JC (Foto: André Nery/Acervo JC Imagem) FOTO: Celina Turchi (ao centro) já foi entrevistada pelas repórteres Cinthya Leite, à esq., e Mariana Barros, à dir., na TV JC (Foto: André Nery/Acervo JC Imagem)

Levantamento inédito que comprovou a associação do surto de zika vírus com os bebês nascidos com microcefalia é o vencedor da 17ª edição do Prêmio Péter Murányi, conforme decisão do júri anunciada na quinta-feira (8). O trabalho, coordenado pela médica goianiense Celina Turchi, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, revelou ainda a relação do vírus com o aumento da mortalidade de fetos.

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O estudo epidemiológico, o primeiro que estabeleceu a associação entre microcefalia e infecção pelo zika, acompanhou, de janeiro a novembro de 2016, a gestação de mulheres atendidas em oito maternidades públicas do Recife. Durante o período, 32 recém-nascidos foram diagnosticados com microcefalia. Testes laboratoriais apontaram a presença de infecção por zika vírus em 13 deles.

Assista ao programa na TV JC com Celina Turchi:

De acordo com Vera Murányi Kiss, presidente da Fundação Péter Murányi, entidade organizadora da premiação, estudos como esse mostram a importância do trabalho dos pesquisadores brasileiros para preservar o futuro das próximas gerações.

“Essa votação foi uma das mais emocionantes de que já participei, devido ao nível dos finalistas. Todos são muito impactantes. Era impossível não pensar no tamanho do benefício que os trabalhos ofereciam à população, conforme íamos analisando os três estudos”, relata. Vera sinalizou também que essa perplexidade para escolher a colocação de cada concorrente é motivo de orgulho, pois significa que cumpriram, com louvor, os critérios de avaliação.

Consequências

Os resultados apontados pelo grupo de estudos chefiado pela doutora Celina permitiram que fossem criadas medidas de combate ao mosquito transmissor do zika por parte do poder público, como a distribuição de repelentes para grávidas moradoras de áreas de risco para a doença, o acompanhamento das crianças com microcefalia e o auxílio na análise clínica das infecções.

"É uma doença que gerou intensa comoção social, e isso evidencia a gravidade desses eventos ligados à saúde reprodutiva da mulher, o desconhecimento sobre a causa e transmissão da infecção e dos possíveis fatores de risco expostos. Podemos dizer que esse estudo, realizado por pesquisadores brasileiros, moveu a fronteira do conhecimento científico e hoje é referência nos guias de manejo da síndrome do Ministério da Saúde e também é utilizado como fonte de orientação para os Estados Unidos", relata Celina.

Reconhecimento internacional

O trabalho resultou na inclusão de sua coordenadora, a médica epidemiologista Celina Turchi, entre as 100 pessoas mais influentes do mundo eleitas em 2017 pela revista americana Time. A cientista brasileira foi a responsável por formar uma rede internacional, com cerca de 30 profissionais de diversas especialidades e instituições, reunidos no Microcephaly Epidemic Research Group (Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia), que conseguiu, em apenas três meses, identificar como o zika e a microcefalia estavam associados --os estudos começaram em janeiro de 2016 e, em abril, já havia fortes indícios dessa relação.

Inscrições

Para esta edição, focada em saúde, o Prêmio Péter Murányi recebeu 225 trabalhos, vindos de toda a América Latina, recorde de inscritos em toda a história da premiação.

O trabalho vitorioso foi selecionado por um júri composto por representantes de entidades nacionais e internacionais ligadas à área da saúde, integrantes de universidades federais, estaduais e privadas, personalidades de renome e membros da sociedade.

O Prêmio Péter Murányi é realizado anualmente, com temas que se alternam a cada edição: Saúde, Ciência & Tecnologia, Alimentação e Educação - cada tema é revisitado a cada quatro anos. O valor total é de R$ 250 mil, divididos entre o vencedor (R$ 200 mil), o segundo (R$ 30 mil) e o terceiro colocados (R$ 20 mil). A entrega ocorrerá em abril, durante a festa de premiação.

A premiação conta com o apoio das seguintes entidades: CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola); Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo); Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior); Anpei (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras); SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência); Aciesp (Academia de Ciências do Estado de São Paulo); ABC (Academia Brasileira de Ciências), Aconbras (Associação dos Cônsules no Brasil) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).