À primeira vista pode parecer inusitado, mas o transplante de fezes vem sendo alternativa para tratamento de problemas como doença inflamatória intestinal, infecções intestinais, obesidade e doenças como a artrite reumatoide, síndrome metabólica e púrpura (doença autoimune caracterizada por níveis baixos de plaquetas - células sanguíneas que previnem o sangramento), entre outras. Já ouviu falar dessa técnica? Sabe como ela é realizada? Vamos entender...
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Um indivíduo possui cerca de 100 trilhões de bactérias no intestino, que formam a flora intestinal. Mas, por algum motivo, essa flora pode se alterar e causar uma série de problemas. Assim, o transplante de fezes tem como objetivo regularizar a microbiota intestinal, transferindo bactérias “boas” para a flora “doente”.
Como funciona?
Qualquer pessoa já bebeu alguma vez na vida aquelas bebidas probióticas que contêm lactobacilos vivos. O transplante é similar. Ele é realizado pela infusão de uma solução composta de substrato fecal com bactérias boas. “Essa infusão é feita por via oral ou retal, utilizando-se sondas ou endoscópios. Também é possível realizar o transplante ingerindo uma cápsula contendo as bactérias desejadas”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), Henrique Fillmann.
Segundo o médico Henrique Fillmann, as reações adversas ao transplante são raras (Foto: Divulgação)
As fezes devem ser doadas por pessoas saudáveis (vários testes são realizados nos doadores para garantir um transplante saudável), evitando a transmissão de qualquer tipo de doença infecciosa. “As reações adversas são raríssimas e de pouco significado clínico, sendo o transplante normalmente muito mais seguro do que o uso de medicações”, afirma Fillmann.
Para quem é indicado?
Uma das indicações do transplante é para pessoas que sofrem com um tipo especial de infecção intestinal ocasionada por uma bactéria chamada Clostridium difficile. Em geral, o tratamento é realizado com antibiótico, mas alguns pacientes não respondem e, dessa maneira, o transplante passa a ser uma alternativa.
Nas doenças inflamatórias intestinais como a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, acredita-se que exista uma alteração na estrutura das bactérias que acabam influenciando no aparecimento e na manutenção da doença. O transplante de fezes tem se mostrado promissor no sentido de minimizar a inflamação e reduzir os sintomas. O mesmo acontece com a síndrome do intestino irritável. Por isso, as bactérias boas poderiam devolver o equilíbrio intestinal.
Em pacientes obesos, uma das explicações para o ganho de peso pode ser a flora intestinal alterada, que provoca desequilíbrio metabólico, mudança na absorção de substâncias pelo intestino e faz com que o organismo acumule gordura. Assim, o transplante de fezes traria benefícios ao paciente.
"É importante ressaltar que as alterações na flora bacteriana de indivíduos obesos parecem estar muito relacionadas a um estilo de vida caracterizado por uma dieta inadequada, sedentarismo e um ambiente familiar conivente", acrescenta Henrique Fillmann.