Aedes aegypti: como Pernambuco se prepara para enfrentar o inimigo em 2018

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 29/11/2017 às 11:48
Só em 2017, até o momento, o Aedes aegypti já foi responsável pelo adoecimento de mais de 5 mil pessoas, se forem considerados os casos de dengue e chicungunha (Foto: Rodrigo Lôbo/Acervo JC Imagem)
Só em 2017, até o momento, o Aedes aegypti já foi responsável pelo adoecimento de mais de 5 mil pessoas, se forem considerados os casos de dengue e chicungunha (Foto: Rodrigo Lôbo/Acervo JC Imagem) FOTO: Só em 2017, até o momento, o Aedes aegypti já foi responsável pelo adoecimento de mais de 5 mil pessoas, se forem considerados os casos de dengue e chicungunha (Foto: Rodrigo Lôbo/Acervo JC Imagem)

A redução este ano de cerca de 90% das notificações das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti (dengue, chikungunya e zika) em Pernambuco, em relação ao mesmo período de 2016, não é motivo para baixar a guarda contra as arboviroses, que causam surtos de forma cíclica. A questão que o problema exige prevenção constante. Para evitar uma nova onda de epidemias e que os cenários de 2015 e 2016 (com explosão de casos das arboviroses e da síndrome congênita do zika) não se repitam, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) lançou, na terça-feira (29/11), o Plano de Enfrentamento das Arboviroses para 2018. O documento traz ações que serão desencadeadas e intensificadas para o controle das doenças nos eixos de Gestão, Vigilância Epidemiológica, Controle Vetorial, Atenção à Saúde, Apoio Diagnóstico e Mobilização Social, além de estratégias para implantação da vigilância da febre amarela em primatas e humanos.

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"Em 2015, tivemos um choque (por causa da mudança no padrão de ocorrência da microcefalia, a manifestação mais conhecida da síndrome congênita do zika). A zika trouxe uma tragédia humanitária, enquanto que a chicungunha se tornou uma doença devastadora (também) para o sistema de saúde", enfatizou o secretário estadual de Saúde, Iran Costa, sobre a necessidade de as ações de combate ao mosquito não perderem força.

"A intenção para 2018 é melhorar a organização da assistência aos pacientes e promover a capacitação em todos os níveis de Atenção à Saúde, apoiando os municípios, intensificando as ações de vigilância e ações de comunicação, educação em saúde e mobilização social. A contínua redução dos números é uma meta importante para o próximo ano", acrescentou o secretário.

"A zika trouxe uma tragédia humanitária, enquanto que a chicungunha se tornou uma doença devastadora (também) para o sistema de saúde", destaca o secretário de Saúde de Pernambuco, Iran Costa (Foto: Miva Filho/SES/Divulgação)

Também para o plano do ano que vem, foram traçados, segundo a secretária-executiva de Vigilância em Saúde da SES, Luciana Albuquerque, indicadores e metas a serem monitoradas, além da definição dos responsáveis de cada setor da Secretaria de Saúde do Estado na execução do plano, de acordo com o objeto de cada área técnica. "Não restam dúvidas de que é necessário um grande esforço intersetorial e interinstitucional, aliado ao comprometimento maciço da população, bem como a continuidade de um conjunto de ações já realizadas na rotina, para que se consiga efetividade na execução desse plano e redução no impacto da dengue e outras arboviroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti no Estado", pontua Luciana.

Aplicativo

Em 2018, a SES vai usar, no trabalho de enfrentamento às arboviroses, um aplicativo, em parceria com a secretaria de Saúde do Mato Grosso do Sul, para auxiliar o trabalho dos agentes de endemias. Por meio do sistema online instalado nos smartphones, os agentes municipais fornecerão, em tempo real, os dados de cada imóvel visitado e a existência de criadouros, além de registrá-los em fotos. A intenção é que, dessa maneira, ações imediatas sejam tomadas, os pontos críticos e depósitos de água não eliminados.

O sistema ainda permite o acompanhamento do índice de infestação predial e o mapeamento dos imóveis com moradores que apresentam sintomas das arboviroses. As informações ficarão disponíveis para o município, e o Estado terá acesso aos dados de todas as cidades que aderirem ao novo sistema, que está em uso no Mato Grosso do Sul desde 2015.

Esclarecimento dos óbitos

A SES também elabora um Protocolo de Vigilância dos Óbitos Suspeitos por Arboviroses. O objetivo é padronizar as informações para a investigação das mortes suspeitas e, com isso, agilizar o fechamento dos casos. Já sobre o diagnóstico laboratorial, a SES está fechando uma parceria com o Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para a implantação do diagnóstico laboratorial de óbitos suspeitos de arboviroses, usando a técnica de imunohistoquímica. Hoje, esse tipo de diagnóstico é feito no Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará.

"O diagnóstico laboratorial positivo dos óbitos, para qualquer uma das arboviroses, não necessariamente confirma esta arbovirose como causa do óbito. Essa avaliação, para confirmação ou descarte, depende de minuciosa investigação domiciliar e hospitalar do óbito e das informações complementares dos aspectos clínicos epidemiológicos do paciente. Todos esses dados subsidiam a discussão de cada caso no Comitê Estadual de Discussão de Óbitos por Dengue e outras Arboviroses e, por isso, a importância desse comitê e da continuidade das ações", avalia a gerente de Controle das Arboviroses da SES, Claudenice Pontes.

Exames

O Laboratório Central de Pernambuco (Lacen-PE) e todas as 12 Gerências Regionais de Saúde (Geres) já fazem, atualmente, a análise laboratorial (sorologia) para confirmar ou descartar os casos de dengue e chicungunha. O Lacen também faz a análise (PCR) para dengue, zika e chicungunha. Recentemente, também incluiu a sorologia para zika, priorizando as gestantes e os casos graves.

Educação em saúde

Para mobilização da sociedade, a SES fará campanhas educativas focadas nos alunos da rede estadual de ensino. Para isso, serão distribuídos gibis que abordam, de forma lúdica, formas de evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti.

Dados

Em 2017, até o dia 25 de novembro, Pernambuco notificou 15.321 casos de dengue (4.658 confirmados), 4.498 de chicungunha (1.013 confirmados) e 722 de zika. Também foram notificados 113 óbitos, com três confirmações (dois para dengue e um para chicungunha).