Nem doenças nem morte; é a solidão que mais aflige os brasileiros diante da velhice

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 11/11/2017 às 21:04
Viúva há 27 anos, Walnita Tiago Vasconcelos contrariou a visão da maioria. Com os filhos independentes, passou a fazer parte de um grupo de idosos, fez novos amigos e encontrou companhia (Foto: Guga Matos/JC Imagem)
Viúva há 27 anos, Walnita Tiago Vasconcelos contrariou a visão da maioria. Com os filhos independentes, passou a fazer parte de um grupo de idosos, fez novos amigos e encontrou companhia (Foto: Guga Matos/JC Imagem) FOTO: Viúva há 27 anos, Walnita Tiago Vasconcelos contrariou a visão da maioria. Com os filhos independentes, passou a fazer parte de um grupo de idosos, fez novos amigos e encontrou companhia (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

Por Luiza Freitas, repórter do Jornal do Commercio 

SÃO PAULO – Nem doenças nem morte. É a solidão o que mais aflige os brasileiros diante do envelhecimento. O medo de estar sozinho foi apontado por 29% dos entrevistados na capital pernambucana (mesma média nacional) em pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia/Regional São Paulo (SBGG-SP), em parceria com a Bayer, em todo o País. O retrato recifense tem o mesmo percentual nacional de um problema que não demanda remédios, apenas a mudança na forma de encarar a passagem do tempo e o cultivo, durante toda a vida, de bons relacionamentos.

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O levantamento da SBGG-SP/Bayer, que teve como objetivo compreender a visão dos brasileiros sobre a velhice, teve seus resultados apresentados recentemente durante evento em São Paulo.

A dona de casa Lilete Coelho, 80 anos, sempre gostou de fazer amigos. “O que a gente leva da vida é isso: os amigos e os lugares que conhecemos. Ter amigos jovens permite uma troca, eles me trazem muitas novidades, fazem com que a gente não se isole”, garante (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

A recomendação foi seguida à risca pela dona de casa Lilete Coelho, 80 anos, que sempre gostou de fazer amigos. “O que a gente leva da vida é isso: os amigos e os lugares que conhecemos. Ter amigos jovens permite uma troca, eles me trazem muitas novidades, fazem com que a gente não se isole”, garante. Ter contato com outras gerações é uma das recomendações médicas para enfrentar o envelhecimento.

Para o médico gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional da Longevidade no Brasil, o contato de idosos com jovens e adultos é essencial para transmitir respeito e cuidado. “Sou otimista e acredito que, com um mundo mais envelhecido, teremos sociedades mais voltadas para a harmonia intergeracional, mais humanas e harmoniosas”, diz. O especialista destaca ainda que as relações sociais devem fazer parte do planejamento para a velhice tanto quanto saúde, educação e finanças.

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A mesma pesquisa revela que, quando perguntados sobre o que estão fazendo para se manterem saudáveis, apenas 4,5% mencionaram atividades sociais e 41% afirmaram nunca participar de eventos. Ou seja, apesar de temer a solidão, apenas uma pequena parte busca algo concreto para evitá-la.

Para muitos, a ideia de solidão na velhice está relacionada à perda do companheiro. Entre as mulheres, com expectativa de vida sete anos maior que os homens, o medo é ainda mais intenso. Viúva há 27 anos, Walnita Tiago Vasconcelos contrariou a visão da maioria. Com os filhos independentes, passou a fazer parte de um grupo de idosos, fez novos amigos e encontrou companhia.

“Já viajei para a Europa, fiz dois cruzeiros, fui duas vezes a Gramado, no Rio Grande do Sul, e também a Minas Gerais. Nunca tinha viajado para fora do País e ainda me descobri mais expansiva e sociável”, conta. Os encontros do grupo Reflorescer acontecem uma vez por semana, em Olinda, com direito a música, lanche e muita conversa.

A repórter viajou a convite da Bayer