Gestantes devem ser testadas mais de uma vez para a presença do zika vírus

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 03/10/2017 às 9:30
Estudo feito na Famerp acompanhou 13 mulheres com diagnóstico confirmado da doença e detectou carga viral na urina por até sete meses, mas de forma intermitente (Foto ilustrativa: Pixabay)
Estudo feito na Famerp acompanhou 13 mulheres com diagnóstico confirmado da doença e detectou carga viral na urina por até sete meses, mas de forma intermitente (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: Estudo feito na Famerp acompanhou 13 mulheres com diagnóstico confirmado da doença e detectou carga viral na urina por até sete meses, mas de forma intermitente (Foto ilustrativa: Pixabay)

Da Agência Fapesp

Testes moleculares para detecção do zika vírus, que permitem identificar o material genético do patógeno em fluidos como sangue, urina, sêmen e saliva durante a fase aguda da infecção, têm sido usados rotineiramente no pré-natal de gestantes com sintomas da doença. Apesar disso, um novo estudo sugere que o resultado negativo obtido em um único exame pode não ser suficiente para tranquilizar famílias e médicos. Feito no Brasil, o trabalho será publicado em novembro na revista Emerging Infectious Diseases.

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“Acompanhamos um grupo de gestantes com diagnóstico confirmado de zika e testamos sua urina ao longo de vários meses, com intervalos de aproximadamente uma semana. Em algumas dessas mulheres, a carga viral na urina sumia e depois voltava a aparecer”, disse o professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), Maurício Lacerda Nogueira, e coordenador da pesquisa apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O trabalho incluiu 13 mulheres em diferentes estágios da gestação (de 4 a 38 semanas), atendidas no Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.

Segundo Nogueira, em uma das voluntárias foi possível detectar o vírus na urina por até sete meses. Em cinco mulheres, o resultado voltou a dar positivo para a presença do vírus mesmo após a carga ter zerado em exames anteriores. Em todos os casos, o patógeno desapareceu do organismo logo após o parto.

“Esses dados sugerem que, durante a gravidez, o vírus continua se replicando na criança ou na placenta, que servem de reservatório para o patógeno. Porém, a carga viral nos fluidos maternos é intermitente e muito baixa, quase no limiar da detecção”, disse Nogueira.

De acordo com o pesquisador, nos casos em que o resultado do teste molecular dá negativo, o ideal seria repetir o exame pelo menos mais duas vezes, com intervalos não inferiores a uma semana.

“Costumamos fazer esse tipo de exame com amostras de urina por ser mais fácil de obter e também porque no sangue a carga viral é ainda mais baixa e desaparece mais rapidamente”, disse.

Três das mulheres acompanhadas no estudo tiveram bebês com complicações provavelmente causadas pelo zika – dois apresentaram alterações nos testes de audição e um nasceu com um cisto no cérebro.

Não foi possível estabelecer uma correlação entre o número de vezes que o vírus foi detectado na mãe e a ocorrência de desfechos adversos. “Para isso serão necessários novos estudos com um número maior de participantes”, disse Nogueira.

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