Recusa de famílias para doação de órgãos ainda é um entrave para transplantes

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 27/09/2017 às 11:00
Lançada pela Secretaria de Saúde de Pernambuco, campanha quer ajudar a salvar mais vidas (Foto: Guga Matos/JC Imagem)
Lançada pela Secretaria de Saúde de Pernambuco, campanha quer ajudar a salvar mais vidas (Foto: Guga Matos/JC Imagem) FOTO: Lançada pela Secretaria de Saúde de Pernambuco, campanha quer ajudar a salvar mais vidas (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

Este ano, até agosto, foram realizadas 129 doações de órgãos (coração, fígado, rim e pâncreas) em Pernambuco, o que corresponde a um acréscimo de 35% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 94 doações. Mas esse número poderia ser bem maior se a taxa de recusa (um dos principais entraves para a efetivação dos transplantes) não fosse tão alta no Estado. A taxa, até agosto, foi de 46% – das 238 famílias entrevistadas sobre a possibilidade de autorizarem a doação, 109 disseram ‘não’ ao procedimento, mesmo após a morte encefálica dos parentes.

É um dado que chama a atenção neste Dia Nacional da Doação de Órgãos, quando o Ministério da Saúde lança campanha para sensibilizar a população. Ontem, em evento para marcar a data, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) reforçou a necessidade de se criar ações para aumentar o número de vidas salvas pela doação de órgãos.

Durante lançamento de campanha em Pernambuco, Noemy Gomes detalhou o cenário das doações de órgãos e transplantes em Pernambuco (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

“Se fizermos uma pesquisa na rua, vamos perceber que a população é solidária (concorda em ser doadora de órgãos). Então, algo acontece durante a experiência hospitalar que faz a família ser contra a doação. Estamos levando o assunto para ser discutido nos hospitais e, dessa maneira, profissionais são sensibilizados a lidar com a família e passam a conhecer melhor o processo”, esclarece a coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE), Noemy Gomes. Ela destaca a necessidade de se habilitar equipes da assistência hospitalar, como intensivistas, neurologistas e emergencistas, para notificação de possíveis doadores.

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“A falta de capacitação profissional impacta diretamente na decisão (da família), que pode ser construída desde o início da internação”, diz Noemy Gomes. Ela acrescenta que, quando há acolhimento adequado por parte dos profissionais, as famílias sentem-se mais seguras para ter condições de autorizar ou não a doação de órgãos do parente com morte encefálica.

Programação

Em Pernambuco, a programação da campanha de doação de órgãos vai até o próximo sábado. Hoje, das 9h às 11h, para chamar a atenção da população, será realizada panfletagem e trabalho de sensibilização em frente ao Hospital da Restauração, no bairro do Derby, área central do Recife. Também haverá ações em instituições e unidades de saúde. Na sexta-feira (29), acontecerá o 1º Simpósio de Enfermagem em Transplantes na Universidade de Pernambuco (UPE), das 8h às 18h.

“Somos referência em transplantes e sabemos que o tema da doação de órgãos está vinculado a uma mudança de paradigmas. Alcançamos boas estatísticas, e isso depende do entendimento do ato solidário de doar”, reforça o secretário de Saúde de Pernambuco, Iran Costa.