Número de transplantes cresce em PE, mas quase metade das famílias diz 'não' à doação de órgãos

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 26/09/2017 às 12:18
A doação de órgãos é um ato de solidariedade que salva vidas (Foto ilustrativa: Pixabay)
A doação de órgãos é um ato de solidariedade que salva vidas (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: A doação de órgãos é um ato de solidariedade que salva vidas (Foto ilustrativa: Pixabay)

Nos últimos meses, Pernambuco tem se destacado no cenário de doação de órgãos e tecidos e atingiu, em agosto, a maior taxa de doadores efetivos por milhão de habitantes desde 2011. Naquele ano, o número de doadores era de 7,6 por milhão de habitantes no Estado. No mês passado, foi alcançada a taxa de 20,6 por milhão – um aumento de 171%. Outro destaque é a posição de Pernambuco no cenário geral, ao ocupar o 4º lugar no ranking dos transplantes no País, atrás somente de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Nos recortes de procedimentos de coração, o Estado também avança: até agosto, o total de transplantes cardíacos já era de 40 – número que ultrapassa todo o volume de 2016, quando foram feitos 38 procedimentos.

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Na contramão, o Brasil apresenta queda nesse tipo de cirurgia. Pela primeira vez, desde 2011, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o transplante cardíaco deixou de crescer no âmbito nacional, com queda de 3,6% no primeiro semestre. Só o Distrito Federal e Pernambuco realizaram mais do que cinco transplantes por milhão de habitantes, de acordo com a entidade.

Essa distinção será apresentada hoje à tarde durante a abertura da Campanha Nacional de Doação de Órgãos, na sede da Secretaria Estadual de Saúde (SES), no bairro do Bongi, Zona Oeste do Recife. Para reforçar a mobilização, a programação da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE) segue até o próximo sábado (30), com ações de sensibilização e incentivo para a população pernambucana, além de palestras em hospitais e unidades de saúde.

"O transplante de medula óssea é a última chance de cura. Poder doar é uma oportunidade que nos é dada para salvar alguém. Isso dá mais sentido à vida", conta o jornalista Romero Rafael, 31 anos

“Cada vez mais, temos conseguido superar o número de doações. A taxa de doadores efetivos de órgãos, que já chegou à meta que traçamos para 2018 (20,6 por um milhão de habitantes), é um exemplo de que recuperamos a queda de 18 por um milhão, em 2015, para 15 por milhão em 2016”, destaca a coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE), Noemy Gomes.

Negação

Apesar do crescimento nas doações e nos transplantes de órgãos e tecidos observado especialmente no primeiro semestre deste ano em Pernambuco, ainda há muito a se avançar. No Estado, a taxa de recusa (da doação de órgãos dos potenciais doadores) continua bastante alta: 46%, segundo a ABTO, de janeiro a junho deste ano. É um índice que se assemelha ao nacional, de 43% – um percentual inaceitável no que tange à saúde pública. No Brasil, a menor taxa de recusa é a do Distrito Federal (30%); a maior, a do Maranhão (69%). É essa negação da doação de órgãos pelas famílias que faz a fila de espera pelo transplante crescer. Apenas em Pernambuco, 1.005 pacientes estão à espera do procedimento. Além de 776 que aguardam um rim, há outros 125 esperando uma córnea, 69 um fígado, cinco um coração e um espera um rim/pâncreas.

Medula óssea

Também há 29 pessoas, no Estado, que esperam pelo transplante de medula óssea – um tipo de tratamento proposto para algumas doenças que afetam as células do sangue, como as leucemias e os linfomas. O fator que mais dificulta a realização do procedimento é a incompatibilidade, já que as chances de o paciente encontrar um doador compatível são de 1 em cada 100 mil pessoas. O jornalista Romero Rafael, 31 anos, passou a fazer parte do grupo de brasileiros que se sentem felizes por terem dado a chance de renascimento a pessoas que têm o transplante de medula óssea como última possibilidade de tratamento.

“Fiz o cadastro (no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) em 2008. Fui contactado em setembro do ano passado como possível doador compatível para um paciente. Em março deste ano, foi feita a doação. Fui a São Paulo para realização do procedimento. Foi tudo bastante tranquilo. Fiquei muito animado por pensar na possibilidade de ter salvo a vida de outra pessoa”, relata Romero Rafael.