Corrente do bem: página na web viraliza com tirinhas contra o suicídio

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 20/09/2017 às 19:18
Fanpage no Facebook com quase 1 milhão de seguidores compartilha mensagens positivas em homenagem ao Setembro Amarelo (Ilustração: Raquel Segal / Reprodução)
Fanpage no Facebook com quase 1 milhão de seguidores compartilha mensagens positivas em homenagem ao Setembro Amarelo (Ilustração: Raquel Segal / Reprodução) FOTO: Fanpage no Facebook com quase 1 milhão de seguidores compartilha mensagens positivas em homenagem ao Setembro Amarelo (Ilustração: Raquel Segal / Reprodução)

Se digitarmos a palavra suicídio no Google, os resultados mais bem ranqueados no buscador demonstra um esforço em incentivar aqueles que passam por uma fase complicada a procurar ajuda especializada. O empenho mostra que é possível, sim, transformar o mundo virtual em terreno fértil para atitudes positivas sobre um assunto que ainda é tabu. Se bem utilizadas, endossam os especialistas, essas plataformas digitais podem servir como importante apoio de pacientes que sofrem com ideações suicidas.

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Entre inúmeros projetos nas redes sociais, uma iniciativa vem chamando atenção neste Setembro Amarelo por usar o poder da “viralização” para compartilhar mensagens positivas em diferentes mídias. É o caso do Aquele Eita, fanpage criada pela publicitária carioca Raquel Segal, 22 anos, há menos de um ano para compartilhar com internautas tirinhas sentimentais. Neste mês, no entanto, a jovem decidiu fazer diferente. Com o apoio de uma amiga que convive com depressão, Raquel abraçou a causa da campanha trazida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O resultado não poderia ser diferente.

"Eu não imaginei que as pessoas fossem gostar tanto. Os seguidores me mandam mensagens e perguntam se podem imprimir as imagens para colar nos cantos. Algumas prefeituras inclusive entraram em contato e me perguntaram se podiam compartilhar o trabalho. O feedback está sendo muito positivo", conta a carioca. Até o fechamento desta reportagem, a primeira tirinha em homenagem ao Setembro Amarelo - Continue Vivo - compartilhada na fanpage do Aquele Eita no Facebook tinha sido visualizada quase 5 milhões de vezes. Cerca de 35 mil pessoas reagiram de alguma forma à publicação. E foram mais de 75 mil compartilhamentos. Podemos dizer que esta é uma verdadeira corrente do bem.

Para o psiquiatra Antonio Peregrino, doutor em medicina tropical e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), tais iniciativas podem ajudar os pacientes que convivem com algum transtorno mental a ter a noção de que os distúrbios têm tratamento. "Técnicas de psicologia positiva podem gerar uma boa resposta no paciente. Saber que essas sensações fazem parte dos sintomas (de várias doenças) e de que há alternativas e tratamento podem ajudar a diminuir os pensamentos suicidas", comenta o especialista.

A primeira tirinha em referência ao Setembro Amarelo teve quase 5 milhões de visualizações - A primeira tirinha em referência ao Setembro Amarelo teve quase 5 milhões de visualizações
As imagens sempre orientam o internauta a buscar apoio no Centro de Valorização à Vida - As imagens sempre orientam o internauta a buscar apoio no Centro de Valorização à Vida
Algumas mensagens foram baseadas em trechos do livro "Reasons to Stay Alive", de Matt Haig - Algumas mensagens foram baseadas em trechos do livro "Reasons to Stay Alive", de Matt Haig
Algumas mensagens foram baseadas em trechos do livro "Reasons to Stay Alive", de Matt Haig - Algumas mensagens foram baseadas em trechos do livro "Reasons to Stay Alive", de Matt Haig
Cor original das tirinhas já era amarelo, facilitando a identificação visual - Cor original das tirinhas já era amarelo, facilitando a identificação visual
Este é o primeiro ano que o projeto Aquele Eita se dedica a marcar o Setembro Amarelo - Este é o primeiro ano que o projeto Aquele Eita se dedica a marcar o Setembro Amarelo

Ainda segundo Peregrino, a internet pode servir como importante ferramenta na divulgação de informações importantes na prevenção ao suicídio, um problema de saúde pública. "Antigamente as pessoas ou não falavam sobre suicídio ou tocavam no assunto como se fosse algo muito grave (e, teoricamente, sem solução). Hoje, a partir do momento que se aborda o tema já se apresenta alternativas. A internet pode vir como um aspecto positivo na diminuição do risco de suicídio", pontua o médico.

Este é um dos objetivos da publicitária Raquel, dona do projeto Aquele Eita: mostrar que as pessoas não estão sozinhas em suas ‘batalhas’. “Muitas pessoas me mandam mensagens dizendo que estão com problemas e que precisam de ajuda. As pessoas têm muito medo em falar sobre assunto tão delicado, mas não é preciso ter medo. Eu não consigo ajudar diretamente porque não sou uma profissional (em saúde mental), mas penso que meu trabalho pode ajudá-las a entender que o que elas têm pode ter cura ou tratamento. Elas pensam que estão sozinhas e que seus problemas não têm solução, mas tem sim (solução)", conta a publicitária.

Psicoeducação

Buscar ferramentas de apoio não deve ser tarefa apenas da pessoa que convive com algum transtorno mental (uma das principais causas relacionadas a tentativas de suicídio). A família, principalmente de jovens pacientes, precisa agir como um importante aliado no tratamento. Quando o assunto é internet, a orientação é semelhante. Os familiares podem - e devem - estar próximos de quem necessita, buscando mídias digitais que auxiliem o paciente a entender seu tratamento. "O ponto principal no tratamento é a psicoeducação. Para prevenir o suicídio, os pais devem buscar informações para compreender a temática. A internet é um terreno neutro, o que vai ser colocado em pauta é o critério das pessoas", ressalta o psicólogo Igor Lins Lemos, especialista em terapia cognitivo-comportamental (TCC) certificado pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC).

O especialista ressalta que o tempo online deve ser usado de forma responsável. "Normalmente, ao navegar na internet os pais estão fazendo a mesma coisa que os filhos. Muitos não acessam as informações que deveriam buscar. Por isso que nos consultórios médicos vemos famílias totalmente adoecidas", alerta o psicólogo. A recomendação é buscar sites oficiais de entidades médicas e associações de profissionais que trabalham na área de saúde mental.

» Confira algumas páginas importantes: Associação Brasileira de Psiquiatria, Conselho Federal de Psicologia, Federação Brasileira de Terapias Cognitivas e Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio.