Imagens revelam efeitos da depressão pós-parto no cérebro

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 12/09/2017 às 9:55
Resultados de pesquisa abrem caminho para estudo de novos alvos para agentes terapêuticos e desenvolvimento de novas intervenções para tratar o transtorno (Foto: Visualhunt)
Resultados de pesquisa abrem caminho para estudo de novos alvos para agentes terapêuticos e desenvolvimento de novas intervenções para tratar o transtorno (Foto: Visualhunt) FOTO: Resultados de pesquisa abrem caminho para estudo de novos alvos para agentes terapêuticos e desenvolvimento de novas intervenções para tratar o transtorno (Foto: Visualhunt)

Do Jornal da USP

Imagens feitas por ressonância magnética em pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP revelam as alterações no cérebro causadas pela depressão pós-parto. O trabalho identificou mudanças na concentração de substâncias metabólicas relacionadas ao funcionamento de regiões cerebrais responsáveis pelo processamento e regulação dos estímulos afetivos, assim como na cognição, que acabam comprometidos em casos de depressão. O estudo realizado pelo médico Carlos Eduardo Rosa envolveu especialistas e pesquisadores de psiquiatria, neurorradiologia, ginecologia e obstetrícia, pediatria, engenharia e física médica.

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“A depressão pós-parto é um subtipo de transtorno depressivo maior, subdiagnosticada e altamente prevalente, acometendo cerca de 19% das mulheres. Ela acarreta um significativo sofrimento para a mulher, sua criança e toda a família”, explica o médico. Segundo ele, em casos raros, quando uma depressão pós-parto severa não é detectada, e sobretudo se progride para uma psicose pós-parto, podem ocorrer abortamento induzido, suicídio e até homicídio do bebê pela mãe.

De acordo com o pesquisador, ao contrário dos casos de transtorno depressivo maior, estudos de neuroimagem na depressão pós-parto são escassos, sobretudo os que utilizam o método da ressonância por espectroscopia de próton. “Esta técnica faz o estudo neuroquímico do tecido cerebral e fornece informações similares às de uma biópsia, sem ser invasiva”, aponta. “Os resultados obtidos permitem inferir o dano, a proliferação e renovação da membrana plasmática das células, metabolismo e o acoplamento entre neurônios e células gliais (outras células do sistema nervoso), além da neurotransmissão.”

Depressão pós-parto é um subtipo de transtorno depressivo maior que acomete cerca de 19% das mulheres (Imagem: Divulgação)

A ressonância por espectroscopia de próton possibilitou obter dados metabólicos e neuroquímicos de regiões específicas do cérebro em casos de depressão pós-parto. De acordo com o médico, tais regiões “participam de circuitos de sistemas que processam e regulam os estímulos afetivos e estão envolvidos na fisiopatologia da depressão”. Além disto, uma das regiões estudadas tem importante papel nas funções executivas (relacionadas a adaptação e flexibilidade para lidar com novas contingências, resolução de problemas, respostas de movimentos e verbais a estímulos externos, ativação de memórias remotas e ao direcionamento do comportamento) e na cognição, que ficam comprometidas em estados depressivos.

Diagnóstico

As participantes foram recrutadas no estudo Brazilian Ribeirão Preto and São Luís prenatal cohort (Brisa), que avaliou 1.370 gestantes de Ribeirão Preto, realizado pelos professores Ricardo Cavalli, Marco Antonio Barbieri e Heloisa Bettiol. “Após o parto, foram realizadas entrevistas por telefone com 199 participantes selecionadas, para uma triagem de sintomas depressivos”, relata o pesquisador. “Posteriormente, 184 mulheres foram convocadas para uma detalhada avaliação clínica presencial, envolvendo entrevistas estruturadas, aplicação de escalas e instrumentos de avaliação, que selecionou 36 mulheres com depressão pós-parto, predominantemente livres de medicações, e outras 25 sem problemas psiquiátricos relevantes.”

O estudo detectou alterações neuroquímicas em região cerebral relacionada com a depressão pós-parto, como a redução do “complexo de glutamato” (glutamato mais glutamina). “Esta substância participa da neurotransmissão dos neurônios do córtex cerebral, da plasticidade e da formação de novas ligações entre células nervosas (sinapses). A redução sugere disfunção metabólica no acoplamento entre células, evolução para dano neuronal e baixa atividade funcional e metabólica”, diz o médico. Outra diminuição importante é a do “complexo do NAA” (N-acetil-aspartato mais N-acetil asparto-glutamato), que indica disfunção metabólica e perda da integridade dos neurônios. “Ambas estão associadas a alterações no metabolismo que resultam em comprometimento.”

Confira a matéria completa no site do Jornal da USP.