Síndrome do túnel do carpo pode surgir com a chicungunha? Médica responde essa e outras dúvidas

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 04/09/2017 às 11:04
Entre os sintomas da síndrome do túnel do carpo, estão sensação de formigamento nas mãos e de dormência (Foto: Pixabay)
Entre os sintomas da síndrome do túnel do carpo, estão sensação de formigamento nas mãos e de dormência (Foto: Pixabay) FOTO: Entre os sintomas da síndrome do túnel do carpo, estão sensação de formigamento nas mãos e de dormência (Foto: Pixabay)

O elo entre chicungunha e reumatismo foi tema abordado aqui no blog, na TV JC e no Jornal do Commercio nos dias 25, 26 e 27 de agosto. Sobre o assunto, vários leitores e internautas enviaram perguntas ao longo dos últimos dias. Selecionamos os principais relatos e convidamos a reumatologista Lilian Azevedo, coordenadora do Ambulatório de Acometimento Articular da Chicungunha do Hospital Getúlio Vargas (HGV), para tirar as dúvidas.

Confira:

– Tive chicungunha em março de 2016 e fiquei com muitas dores em meus pés. Parei de usar saltos porque doíam demais e passei a usar rasteiras. Senti melhoras após evitar os saltos, mas infelizmente agora estou com problema nas mãos; acredito que está relacionado à chicungunha porque os meus punhos começaram a inchar, meus dedos formigam e ficam dormentes 24 horas. Estou com suspeita da síndrome do túnel do carpo. Antes só sentia dores nos punhos; agora estou com todos esses desconfortos. Agora preciso fazer eletroneuromiografia pra comprovar a síndrome do túnel do carpo e, segundo o ortopedista, fazer uma cirurgia nas mãos. Necessito de mais informações e ajuda.

Lilian Azevedo: A síndrome do túnel do carpo é a neuropatia (condição que afeta os nervos periféricos) mais frequente da chicungunha; pode surgir com ela ou simplesmente ser agravada (pelo vírus). É preciso ver o exame e o paciente para se analisar se há necessidade de indicação de cirurgia. A pessoa com a síndrome do túnel do carpo geralmente sente bastante dormência nas mãos, principalmente à noite. O sintoma pode ser acompanhado de uma diminuição da força, relatada frequentemente ao se abrir portas, garrafas e torneiras. Quando a síndrome do túnel do carpo está associada à infecção por chicungunha, é preciso acompanhar o paciente para ver se os sintomas desaparecem com o tempo. Caso não, um ortopedista precisa avaliar se existe necessidade de cirurgia.

* Saiba mais: a síndrome do túnel do carpo é uma neuropatia causada pela compressão do nervo no canal do carpo, localizado entre a mão e o antebraço

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"A epidemia de chicungunha deu uma acalmada, mas a gente vive atenta por causa da possibilidade de um segundo surto", alerta a reumatologista Lilian Azevedo (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem)

– Mesmo que demore, os sintomas passam e/ou tem cura? Ou a pessoa vai sentir as dores para sempre?

Lilian Azevedo: Sim, há estudos que falam em até dois anos de sintomas.

– Além da fisioterapia, a acupuntura é uma opção para o paciente durante e pós-chicungunha?

Lilian Azevedo: Sim, em todas as fases.

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– E a osteopatia ajuda no tratamento?

Lilian Azevedo: Não muito, pois a osteopatia corrige mais transtornos posturais.

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– Para quem tem fibromialgia, as dores ainda são piores, pois parecem um agravamento, que mexe com o emocional do paciente. É isso mesmo?

Lilian Azevedo: Infelizmente é isso mesmo, pois a fibromialgia intensifica as dores.

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Assista ao programa sobre o tema na TV JC: 

– Estou há um ano e nove meses de muito sofrimento, peregrinando pelos reumatologistas, ortopedistas, fisioterapeutas, médicos de mãos... E a resposta deles: ‘não sabemos tratar da doença como um todo. É tudo muito novo’. Nunca tive artrite, artrose ou qualquer doença reumática. Até minha visão está comprometida. Minhas mãos já não fecham mais; tenho dores horríveis em todas as articulações. Não consigo andar direito. E agora? O que será que devo fazer? Ficar sofrendo o resto da minha vida? Me ajudem, por favor!

Lilian Azevedo: Difícil esse caso... Cada reumatologista tem uma experiência diferente. Na minha prática clínica, tem sido mais animador o curso dessa doença.

– Meu pai desenvolveu a síndrome de Haglund quando adquiriu a chicungunha. Há dias que, ao acordar, para sair da cama, sente muitas dores. Nesses dias, não pode dirigir. Há relatos dessa síndrome pós-chicungunha?

Lilian Azevedo: Há relatos sim, mas é uma complicação ainda mais rara.

– Eu tive e ainda sinto dores nos pés. Uma dúvida: ainda podemos adoecer novamente, em caso de um novo surto?

Lilian Azevedo: Não. A pessoa só tem chicungunha uma vez. Pelo menos, não se identificou uma mutação do vírus, como foi com a dengue.

– Eu tinha dores nas pernas e tomo o cloreto há um mês, e as dores sumiram. O que dizer do cloreto de magnésio?

Lilian Azevedo: Não existe evidência sobre o cloreto para doença alguma. Não é recomendado.

Chicungunha é uma das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

– Eu não aguento tanta dores; só Deus sabe o que passo. Sou uma pessoa sem perspectiva de vida. Afetou até a minha visão. Os olhos podem ser afetados pela chicungunha?

Lilian Azevedo: Podem ser sim. Existem vários relatos de acometimento ocular. A pessoa deve ser acompanhada por um oftalmologista especialista no assunto.

– Tive a chicungunha em dezembro de 2015 e pensei que fosse ficar debilitada para o resto da vida. Em setembro do ano passado, em exames de rotina, descobri que precisava tomar vitamina D diariamente. Depois de um tempo tomando, as dores que sentia de manhã ao levantar e também as dores nas mãos sumiram. A vitamina D ajuda?

Lilian Azevedo: A vitamina D tem um importante papel no sistema imunológico. Então, ela pode ter sido útil sim.