Setembro amarelo alerta contra o suicídio

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/09/2017 às 10:37
Em 2016, Pernambuco registrou 623 casos de suicídios. Já em relação ao número de mortes, foram 314 óbitos no Estado em 2015 (Foto ilustrativa: Pixabay)
Em 2016, Pernambuco registrou 623 casos de suicídios. Já em relação ao número de mortes, foram 314 óbitos no Estado em 2015 (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: Em 2016, Pernambuco registrou 623 casos de suicídios. Já em relação ao número de mortes, foram 314 óbitos no Estado em 2015 (Foto ilustrativa: Pixabay)

Por Mariana Dantas

Do SJCC

Após 17 anos de um casamento feliz, Fernanda* não soube lidar com a dor da separação.  Ver a tristeza do casal de filhos, na época com 12 e 16 anos, aumentou seu sofrimento. Quatro anos após o divórcio, a filha mais nova resolveu morar com o pai.  O vazio do lar também tomou o coração de Fernanda, que entrou em depressão. Não queria mais viver. E, por isso, tentou se matar mais de 15 vezes, misturando álcool com remédios de tarja preta. Na última vez ingeriu chumbinho. Foi parar na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

Se você, caro leitor, ao ler o parágrafo acima concluiu que Fernanda não queria morrer, mas apenas chamar atenção ou acredita que, se ela quisesse mesmo se matar teria pulado de um prédio, sinto informar, você sabe muito pouco (ou quase nada) sobre suicídio. Se o filho de Fernanda não tivesse compreendido que, na verdade, a sua mãe precisava de ajuda, talvez hoje ela não estivesse viva.

Assista ao programa da TV JC, desta sexta-feira (1º/9/17), sobre o tema: 

“Eu não queria chamar atenção. Queria morrer mesmo. Sentia uma dor tão insuportável que nem morfina resolvia”, afirma Fernanda, que com o incentivo do filho, buscou ajuda psiquiátrica. “Aprendi a me amar e hoje sou feliz ao lado da minha família. Trabalho na mesma clínica onde fiquei internada por nove meses, de maio de 2012 a janeiro de 2013. Busco dar força aos que estão enfrentando o que passei”, afirma Fernanda, 52 anos.

Para ajudar tantas outras “Fernandas e Fernandos” que precisam de apoio para superar o sofrimento, a Organização Mundial de Saúde (OMS) instituiu o Setembro Amarelo. Durante todo o mês, entidades não-governamentais promovem ações para mostrar que é possível prevenir contra o suicídio, hoje considerado um problema de saúde pública.

“O tema é tratado como tabu e isso só corrobora para aumentar os casos. Precisamos alertar a população para o problema. Um simples gesto de ouvir e ajudar a quem precisa pode salvar uma vida”, afirma Karina Soares, coordenadora do Centro de Valorização da Vida (CVV) em Pernambuco. O serviço funciona 24h pelo telefone 141.

Como ajudar

A maioria das pessoas que pensa em cometer suicídio dá sinais que não devem ser ignorados por amigos e familiares, alerta a OMS. Doenças psíquicas como depressão estão associadas a muitos casos. "Mesmo que a pessoa não expresse claramente que pensa em se matar, é possível detectar algumas mudanças de comportamento. A depressão, por exemplo, altera a maneira de o paciente enxergar o mundo, mexe com sua cognição. Sentimentos de tristeza, pessimismo e angústia são constantes", explica o psiquiatra Everton Botelho, afirmando também que o uso de álcool e outras drogas são fatores de risco por serem “depressores”.

O médico explica ainda que a primeira tentativa de suicídio deve ser considerada um pedido de ajuda. "Ao conversar com a pessoa, você não deve fazer críticas e nem julgamentos. Mostrar apenas que está disposto a ajudá-la e incentivar que procure um psiquiatra", orienta. Em relação à idade, os grupos de risco são jovens entre 15 e 29 anos e idosos com mais de 65 anos. “Os jovens têm mais dificuldade de enfrentar as cobranças de um mundo competitivo como o nosso. Já os idosos se deprimem com a solidão ou quando são acometidos de doenças crônicas e passam a achar que a vida não vale mais a pena”, explica o médico.

Outros sintomas, considerados mais diretos e preocupantes, também podem ser percebidos através de conversas. “Valorizar demais o passado, se desfazer de objetos de valor sentimental, organizar a vida financeira e ligar para os amigos para se despedir são comportamentos de pessoas que podem estar perto de praticar o ato”, explica a jornalista Paula Fontenelle.  Após a morte do pai em 2005 por suicídio, a jornalista passou três anos buscando respostas que resultaram no livro “Suicídio: o futuro interrompido”. A obra traz opinião de especialistas, psicólogos, psiquiatras e relatos de famílias que perderam parentes e, ainda, de pessoas que reencontraram razões para viver.

 * Fernanda - Para preservar a verdadeira identidade da entrevistada, o NE10 criou um nome fictício

Matéria publicada no Portal NE10 em setembro de 2015