Sabia que o mau humor pode ser doença? Entenda mais sobre a distimia

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 14/08/2017 às 9:15
Mau humor e irritabilidade extremos e frequentes no cotidiano podem ser sinal de distimia, distúrbio caracterizado como forma mais branda da depressão (Foto ilustrativa: Pixabay)
Mau humor e irritabilidade extremos e frequentes no cotidiano podem ser sinal de distimia, distúrbio caracterizado como forma mais branda da depressão (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: Mau humor e irritabilidade extremos e frequentes no cotidiano podem ser sinal de distimia, distúrbio caracterizado como forma mais branda da depressão (Foto ilustrativa: Pixabay)

Provavelmente você deve conhecer alguém com um temperamento forte. Em alguns casos, pessoas assim podem ser conhecidas por sua irritabilidade extrema e personalidade rabugenta. Mas e quando o mau humor é um traço contínuo no cotidiano da pessoa? Quando esses aspectos são habituais na rotina do ser humano, é importante ficar atento: pode ser sinal de doença. Pouco debatido na atualidade, o distúrbio atende pelo nome distimia, uma forma crônica e branda da depressão.

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A grande diferença entre as duas doenças é que a distimia não se instala de repente. Não há uma marca brusca no surgimento dos sintomas. Por isso, os especialistas tendem a confirmar o diagnóstico apenas se o quadro clínico perdurar por, no mínimo, dois anos. “As sensações devem ser contínuas para que o médico possa diagnosticar a distimia, que pode afetar tanto adultos como crianças. Nos pacientes maiores, o distúrbio pode interferir no apetite e no sono, por exemplo. Os indivíduos adultos, por conviverem com essas características, começam a ter dificuldade de concentração e na tomada de decisões, sintomas característicos da depressão. Já nas crianças, o humor fica muito mais irritadiço”, explica a psiquiatra Luciana Paes, doutora em neuropsiquiatria e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Diferentemente de outros transtornos mentais, geralmente desenvolvidos mais tardiamente, os sintomas da distimia podem surgir ainda na infância. Dessa forma, as características são associadas à personalidade da pessoa. “Normalmente os sintomas da distimia começam desde idades mais precoces e são incorporadas ao longo da vida do indivíduo. Essas pessoas chegam no consultório médico mais velhas e relatam essas sensações como se fossem características normais da sua personalidade, quando, na verdade, configuram um tipo de depressão. Os sintomas não são tão graves como a depressão clássica, mas podem prejudicar significativamente várias áreas, como aspectos pessoais e profissionais, de acordo com o tempo em que perduram na vida do paciente”, esclarece a médica.

A boa notícia é que a doença tem tratamento, focado principalmente na psicoterapia, importante aliada na intervenção terapêutica de distúrbios mentais. “A psicoterapia é essencial para readaptar o paciente a outro nível de entendimento das coisas. A pessoa reaprenderá a viver de forma mais habilidosa com relação ao que acontece em sua volta. Com o tratamento e medicações adequadas, o paciente passa a ter uma vida com muito mais qualidade de vida”, pontua.

Na terapia, os especialistas agem em diferentes frentes para ajudar o paciente a identificar os padrões distorcidos aos quais está acostumado e trabalhar intensamente para mudar o quadro. “Usamos a psicoeducação para levar a pessoa a compreender essa condição de humor e identificar que não é normal. Depois fazemos com que o paciente compreenda a relação entre os pensamentos e emoções e a existência de padrões de distorções cognitivas”, explica a psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental (TCC) Luciana Gropo, membro da Associação de Terapias Cognitivas de Pernambuco e uma das coordenadoras da primeira especialização em TCC na infância e na adolescência no Recife.

Lente distorcida

Como os pacientes com distimia costumam enxergar o mundo com uma “lente distorcida”, as atividades de lazer geralmente são colocadas em segundo plano. Uma das intervenções dos psicólogos é fazer com que o prazer volte a ser um dos protagonistas no cotidiano. “Os pacientes começam a entender que essa 'lente distorcida' é a real e, então, já nem lembram mais do tempo em que foram felizes. Uma das estratégias é fazer com que esse indivíduo estabeleça rotinas mais prazerosas, com atividades de lazer que essas pessoas geralmente vão abrindo mão ao longo dos anos”, explica a psicóloga.

Por último, os treinos de assertividade e solução de problemas contribuem para a melhora da qualidade de vida. “No primeiro, trabalhamos a capacidade do paciente em falar o que ele pensa no momento em que precisa ser dito. Muitas pessoas vão se escondendo atrás da dificuldade em falar o que estão pensando e esse hábito interfere na satisfação do paciente com a vida no geral. Na solução de problemas, o objetivo é que a pessoa analise de que forma seus pensamentos interferem no humor e aprendam estratégias para experimentar mais regularmente sensações de bem-estar”, pontua Gropo.