Pesquisadores da USP testam técnica de estimulação cerebral para combater a obesidade

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 04/07/2017 às 17:02
Estimulação transcraniana por corrente contínua apresentou bom desempenho no controle do desejo de alimentos e do apetite (Foto ilustrativa: Pixabay)
Estimulação transcraniana por corrente contínua apresentou bom desempenho no controle do desejo de alimentos e do apetite (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: Estimulação transcraniana por corrente contínua apresentou bom desempenho no controle do desejo de alimentos e do apetite (Foto ilustrativa: Pixabay)

Com informações do Jornal da Universidade de São Paulo (USP)

Quando falamos em obesidade, o melhor remédio para reverter o quadro continua sendo a mudança no estilo de vida. Os caminhos principais são a alimentação saudável e a prática regular de atividades físicas. Mas o que acontece quando os meios mais eficazes não surtem o efeito desejado? Uma técnica de estimulação cerebral desenvolvida na Europa e Estados Unidos surge como uma nova esperança. Agora, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) testam o método no Brasil.

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Já usada em pesquisas de curta duração para tratar enfermidades neuropsiquiátricas e outras doenças, a técnica, que consiste na estimulação (não invasiva) transcraniana por corrente contínua, o método apresentou um bom desempenho no controle do desejo de alimentos e do apetite. No Brasil, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP iniciou no mês de junho pesquisa para análise da efetividade desta técnica no controle da obesidade.

No País, o estudo, segundo os pesquisadores, será mais amplo. “Será um passo mais adiante do que foi feito até agora, que é entender melhor o potencial da eficácia da estimulação para a perda de peso no contexto clínico da obesidade. Cerca de dez estudos estão sendo feitos em outras partes do mundo, mas todos de curta duração, com número de sessões muito limitado”, destacou ao jornal da USP o professor Miguel Alonso, diretor do laboratório Bariatric and Nutritional Neuroscience, Beth Israel Deaconess Medical Center, Harvard Medical School e parceiro dos pesquisadores brasileiros da FMRP.

Em um dos estudos já realizados nos Estados Unidos, os voluntários perderam 1% de peso por semana. O que se recomenda para as dietas hipocalóricas é a redução de peso de 0,5 a 1 kg por semana. A técnica afeta os mecanismos que ajudam a reduzir o desejo de alimentos e a ingestão alimentar. Segundo os pesquisadores, o método ajudar a "melhorar os processos cognitivos, que são chave para a autorregulação do comportamento alimentar."

Na FMRP, o presente estudo randomizado, duplo-cego e controlado (quando nem pesquisadores nem pacientes sabem quem está tendo o tratamento testado e quem está recebendo apenas placebo), tem como finalidade avaliar os efeitos da estimulação transcraniana por corrente contínua, isoladamente e em combinação com uma dieta hipocalórica no peso corporal. O objetivo é de auxiliar a perda de peso e evitar a recuperação de peso ao longo do tempo.

A pesquisa na FMRP incluirá mulheres de 20 a 40 anos com índice de massa corpórea (IMC) entre 30 e 35 kg/m2 e consistirá em uma sessão inicial de estimulação cerebral não invasiva. Na segunda fase, as participantes receberão um total de dez sessões de estimulação cerebral durante o período de duas semanas. Na terceira fase, será iniciada uma dieta hipocalórica individualizada associada a mais duas semanas de estimulação cerebral.

Os resultados deste estudo devem levar a estudos maiores a longo prazo para avaliar essa intervenção de neuromodulação não invasiva. Colaboram com o estudo, o professor Júlio Sérgio Marchini, da FMRP, a pesquisadora Sai Krupa Das, da Tufts University, e os pesquisadores Miguel Alonso e Greta Magerowski, da Harvard Medical School, dos Estados Unidos.