Lapsos de memória: até que ponto devemos nos preocupar? Geriatra diz o que faz bem à mente

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/07/2017 às 22:23
As nossas inquietudes da vida frenética e cheia de responsabilidades contribuem para a mente perder energia, a ponto de entrar em exaustão, e não arquivar recordações (Foto: Pixabay)
As nossas inquietudes da vida frenética e cheia de responsabilidades contribuem para a mente perder energia, a ponto de entrar em exaustão, e não arquivar recordações (Foto: Pixabay) FOTO: As nossas inquietudes da vida frenética e cheia de responsabilidades contribuem para a mente perder energia, a ponto de entrar em exaustão, e não arquivar recordações (Foto: Pixabay)

Entre tantas outras definições, o cérebro pode simbolizar um arquivo de recordações que tem como inimigas a ansiedade e a zona de conforto. De um lado, as nossas inquietudes da vida frenética e cheia de responsabilidades contribuem para a mente perder energia, a ponto de entrar em exaustão, e não arquivar recordações. De outro ângulo, ao desempenharmos multitarefas, podemos nos tornar reféns da rotina sem nos darmos conta de que alimentamos uma zona de conforto e abrimos mão de ocupações extracarreira valiosas para manter a memória viva.

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“É importante dirigir estímulos para o cérebro com algo que não tenha relação com atividades profissionais. Quem só lê livros com temáticas associadas ao trabalho, por exemplo, tem um fator de risco para desenvolver problemas cognitivos. Por outro lado, pessoas dedicadas a fazer coisas diferentes no tempo livre estimulam várias áreas do cérebro. Isso é um fator de proteção”, esclarece o geriatra Daniel Kitner, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

Correr atrás de resguardos para evitar falhas de memória, contudo, não é o suficiente para afastar todos os riscos de desenvolver algum tipo de demência, como Alzheimer. Se houver um determinismo genético para a doença, segundo Daniel Kitner, recorrer à estimulação da memória não será o bastante para reprimir a chance de adoecimento. Nem por isso as pessoas devem deixar de lado atitudes que incitam os neurônios a processarem informações. “Atualmente percebemos que muita gente tem se queixado de perda de memória associada à ansiedade ou à distração. Isso faz o cérebro ficar assoberbado de informações, o que dificulta a lembrar as coisas. Nem sempre isso evoluiu para demência”, explica.

"Para quem é cronicamente esquecido, é importante anotar as tarefas e os compromissos. Ou seja, pessoas com esse perfil precisam ter um bom nível de organização para evitar o esquecimento”, salienta o geriatra Daniel Kitner (Foto: Filipe Jordão/JC Imagem)

O geriatra acrescenta que o sinal de alerta deve ser acendido quando as falhas de memória fogem do padrão de cada pessoa. Muitas pessoas distraídas, de acordo com Daniel Kitner, passam a impressão de ser desmemoriadas. Na realidade, isso pode ser um traço de personalidade. “No entanto, se os esquecimentos são progressivos, comprometem o dia a dia, a qualidade de vida, a vida pessoal e social, como também as atividades profissionais, é importante procurar um geriatra, capaz de definir se a perda de memória é patológica ou não”, frisa o médico.

Somente um especialista tem habilidade para avaliar vários fatores que podem influenciar a memória, como visão audição, atenção, concentração, motivação, humor e, até mesmo, aptidões natas que cada indivíduo tem, como a facilidade para se lembrar de rostos e nomes, por exemplo. Uso de medicamentos e algumas doenças crônicas, como depressão, também podem prejudicar a cognição. É todo esse conjunto em harmonia que faz necessário para manter a mente ativa.

Percepção

No consultório, Daniel Kitner acrescenta que percebe frequentemente insatisfação das pessoas em relação à capacidade de conservar lembranças. A maioria dos pacientes representa queixas subjetivas (percepções individuais em relação ao desempenho da memória), especialmente numa faixa etária abaixo dos 55 anos.

“Quando vamos investigar a fundo os casos, não detectamos um comprometimento objetivo (avaliado a partir de observação clínica e testes neuropsicológicos). Comumente não encontramos doença, e muitos dos pacientes não evoluem para demência”, destaca Daniel Kitner, que sublinha um detalhe importante: “Se rotineiramente a pessoa é capaz de se lembrar daquilo que esqueceu, provavelmente não existem grandes problemas”.

Paulo Guimarães, 69 anos, lê, faz palavras-cruzadas e navega pela internet. "Tenho certeza que as atividades que realizo me ajudam a conservar as lembranças", conta (Foto: Filipe Jordão/JC Imagem)

O contador Paulo Guimarães, 69 anos, sabe bem como é importante manter a mente viva. “Sempre faço palavras-cruzadas e jogo dos erros, navego pela internet, leio notícias e livros frequentemente. Tenho ‘olho biônico’ e memória fotográfica: vejo muita coisa e gravo tudo. Tenho certeza que as atividades que realizo me ajudam a conservar as lembranças”, relata. Ele tem até livros com dicas que ajudam a estimular o cérebro. “Tenho um que traz exercícios muito bons para a memória”, acrescenta Paulo, que não duvida de que ativar a mente na dose certa é o melhor recurso para renovar a capacidade de conversar as melhores das lembranças.