Em São José do Rio Preto, bebês expostos ao zika não tiveram microcefalia

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 08/06/2017 às 14:49
Grupo tem acompanhado 55 mulheres que tiveram diagnóstico de zika na gestação. Cerca de 28% dos bebês nasceram com alterações neurológicas leves, mas nenhum caso de microcefalia foi registrado (Foto: Wikimedia Commons)
Grupo tem acompanhado 55 mulheres que tiveram diagnóstico de zika na gestação. Cerca de 28% dos bebês nasceram com alterações neurológicas leves, mas nenhum caso de microcefalia foi registrado (Foto: Wikimedia Commons) FOTO: Grupo tem acompanhado 55 mulheres que tiveram diagnóstico de zika na gestação. Cerca de 28% dos bebês nasceram com alterações neurológicas leves, mas nenhum caso de microcefalia foi registrado (Foto: Wikimedia Commons)

Da Agência Fapesp de notícias

Pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) têm acompanhado há cerca de um ano um grupo de 55 mulheres que tiveram diagnóstico confirmado de zika durante a gestação. Todas levaram a gravidez até o final. Os bebês nasceram vivos e nenhum caso de microcefalia ou de qualquer alteração neurológica grave foi identificado. Os dados foram apresentados pelo professor da Famerp Maurício Lacerda Nogueira, em 31 de maio, durante o evento São Paulo School of Advanced Science in Arbovirology, que está sendo realizado com apoio da FAPESP entre os dias 29 de maio e 9 de junho.

“Cerca de 28% dos bebês apresentaram alguma alteração no nascimento, como pequenas calcificações no cérebro, pequenas lesões em vasos cerebrais, surdez unilateral ou danos à retina. Alguns deles apenas tinham o vírus no organismo, mas não apresentavam sintomas. E nenhuma alteração neurológica mais grave foi observada”, disse Nogueira em entrevista à Agência FAPESP.

Como pontuou o pesquisador, todas a crianças incluídas no estudo teriam sido consideradas normais pelos serviços de saúde e não teriam os sintomas identificados se não estivessem participando de um protocolo de pesquisa. O padrão observado em São José do Rio Preto, segundo Nogueira, é muito diferente do que tem sido verificado em estados da região Nordeste ou mesmo no Rio de Janeiro.

Um estudo publicado em 2016 no New England Journal of Medicine por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constatou que 39,2% das grávidas infectadas com o vírus no Rio de Janeiro tiveram bebês com alterações neurológicas importantes e 7,2% das gestações não chegaram ao fim – totalizando 46,4% de desfechos adversos. Foram incluídas nesse estudo 125 gestantes com diagnóstico confirmado de zika. Quatro bebês nasceram com microcefalia, pouco mais de 3% da amostra estudada.

“O estudo feito no Rio foi a primeira descrição de zika em gestantes. Agora, estamos adicionando uma nova população, em um novo ambiente, e os resultados são muito diferentes. Estamos mostrando um novo quadro da infecção por zika na gravidez”, comentou Nogueira. Dados da cidade de Salvador (BA) foram apresentados também durante a São Paulo School of Advanced Science in Arbovirology por Albert Icksang Ko, pesquisador da Universidade Yale (Estados Unidos) que tem trabalhado em parceria com um grupo da Fiocruz na Bahia.

O pesquisador e seus colaboradores acompanharam todos os nascimentos ocorridos em um hospital público da capital baiana durante o pico da epidemia de zika no estado – nos meses de novembro e dezembro de 2015. Nesse estudo, portanto, foram incluídas também mulheres sem diagnóstico confirmado da doença. “Encontramos um quadro completamente diferente do observado em São José do Rio Preto. Cerca de 10% dos bebês nasceram com alterações congênitas graves, entra elas microcefalia”, disse Ko.

Em busca de respostas

De acordo com Nogueira, a primeira hipótese aventada para explicar desfechos gestacionais tão discrepantes foi a existência de populações do vírus geneticamente diferentes no Brasil. “Essa hipótese já foi afastada, pois trabalhos recentes mostraram que a diversidade do zika ainda é pequena nas América. Basicamente, o vírus que circula aqui em Rio Preto é o mesmo encontrado na Bahia ou no Rio de Janeiro. Portanto, se a diferença não está no vírus, deve estar no hospedeiro humano. Algum fator genético pode estar conferindo proteção a certas pessoas ou, talvez, a exposição prévia a outros vírus”, disse o professor da Famerp.

Dados do trabalho feito por Ko na Bahia sugerem que a presença de anticorpos contra o vírus da dengue nas gestantes avaliadas foi associada a um menor risco de microcefalia nos filhos. Novos estudos precisam ser feitos para confirmar esse achado preliminar.

Para Paolo Zanotto, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), uma das possibilidades a ser investigada é a ocorrência de coinfecção materna como fator de risco para microcefalia e outras alterações congênitas graves.

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