Exercício e controle da alimentação são o futuro da medicina preventiva, diz Drauzio Varella

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 28/04/2017 às 6:00
O médico cancerologista Drauzio Varella falou sobre prevenção de doenças e qualidade de vida em palestra no Recife (Foto: Tato Rocha / JC Imagem)
O médico cancerologista Drauzio Varella falou sobre prevenção de doenças e qualidade de vida em palestra no Recife (Foto: Tato Rocha / JC Imagem) FOTO: O médico cancerologista Drauzio Varella falou sobre prevenção de doenças e qualidade de vida em palestra no Recife (Foto: Tato Rocha / JC Imagem)

Do Jornal do Commercio

“Atividade física e controle da alimentação. Estas são as chaves para o futuro da medicina preventiva”. Foi com essa fórmula que o médico cancerologista Drauzio Varella, conhecido nacionalmente por suas contribuições médicas em trabalhos divulgados pela mídia brasileira, encerrou sua palestra sobre prevenção de doenças e qualidade de vida na tarde dessa quinta-feira (27) na capital pernambucana.

Formado pela Universidade de São Paulo (USP) e membro do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, o médico esteve no Recife em evento para marcar os cinco anos do Serviço de Oncologia do Real Hospital Português (RHP), no Paissandu, área central da cidade. Durante a conversa no auditório lotado pela equipe médica da unidade, pacientes, acompanhantes e demais interessados no tema, o especialista traçou as principais dificuldades enfrentadas pela sociedade atual em busca de uma vida saudável. “O Brasil enfrenta hoje dois problemas: a vida sedentária, fator de risco para o câncer, e a obesidade. Nunca se imaginou que a obesidade seria uma epidemia. Atualmente, 52% dos brasileiros estão acima do peso e 15% estão obesos. Vivemos em uma sociedade onde tudo é comemorado com comida”, ressaltou.

A prática regular de exercícios físicos foi um dos pontos principais defendidos pelo médico como aliado na melhora da qualidade de vida. “Nós aumentamos a expectativa de vida brutalmente. E esse aumento fez com que, para que o ser humano viva melhor precise se cuidar melhor. E só é possível de duas formas: ao controlar o peso e ao fazer atividade física. O problema é que todos sabem que o exercício físico faz bem, mas ninguém faz. E a explicação é biológica. O exercício físico é contra a nossa natureza. Nenhum animal gasta energia à toa. Mas o fato é que nós não podemos ficar o dia todo sentado. O corpo humano é uma máquina preparada para o movimento. E, ao contrário de outras espécies, se aprimora a medida que se movimenta”, defendeu.

O cenário atual do Sistema Único de Saúde (SUS) e os obstáculos enfrentados por quem precisa usar os serviços da rede pública também estiveram na pauta do encontro, transmitido em tempo real pela fanpage do hospital no Facebook. “Apesar de todos os problemas, sobrecarga e má gestão do SUS, temos alguns programas que são citados internacionalmente, como nossos programas de vacinações e transplantes de órgãos. Nosso programa de tratamento da Aids, por exemplo, revolucionou o tratamento da doença no mundo inteiro. Mas, atualmente, a rede pública tem que lidar com doenças muito mais complexas. Uma coisa é tratar um paciente com pneumonia. Ele vai uma vez ao hospital, é tratado e não volta mais. Outra coisa é tratar um paciente com uma doença crônica. São doenças comuns e gravíssimas que comprometem a qualidade de vida da pessoa, além de atrapalhar seriamente a demanda no sistema público de saúde”, pontuou o médico.

Imagem do médico José Fernando do Prado Moura (Foto: Tato Rocha / JC Imagem) "Queremos compreender o paciente como um todo e não apenas a doença. Entender suas emoções, crenças e medos", defendeu o médico do RHP José Fernando do Prado Moura

"Muita gente pensa que o serviço de oncologia é só para tratar com quimioterapia os pacientes com câncer. Nós prestamos um serviço à comunidade, não só aos pacientes. A visão de que o médico só trata a doença é uma visão arcaica. O especialista não apenas trata, mas também orienta a prevenção. Nós estamos há cinco anos não só tratando quem precisa, mas também prevenindo, com um cuidado humanizado. Queremos compreender o paciente como um todo e não apenas a doença. Entender suas emoções, crenças e medos", ressalta o diretor médico do Real Instituto de Oncologia do RHP, José Fernando do Prado Moura.

Imagem do médico cancerologista Drauzio Varella (Foto: Tato Rocha / JC Imagem) "Ou nós estabelecemos a prática regular de atividade física como uma necessidade absoluta ou nunca vamos fazer exercícios", defendeu o médico durante encontro (Foto: Tato Rocha / JC Imagem)

As inscrições para a palestra, com 280 vagas, com Drauzio Varella foram rapidamente encerradas. "O doutor Drauzio Varella é um grande formador de opinião. Nós sabemos que a obesidade aumenta o risco de várias doenças. E sabemos também que o sedentarismo é um fator de risco para câncer e também risco de reincidência para quem já tratou a doença. A mensagem que ele passou é que a informação que é dada muitas vezes não é cumprida. A ideia foi trazer uma pessoa que pudesse levar essa informação à multidão", pontuou Moura.

Entrevista

Em sua passagem pelo Recife, Drauzio Varella respondeu às perguntas do Jornal do Commercio sobre microcefalia, Aedes aegpyti e o Sistema Único de Saúde (SUS). Confira:

JC – Em relação ao SUS, na sua opinião, quais são as maiores dificuldades enfrentadas atualmente?

DRAUZIO VARELLA – Existem duas dificuldades grandes. Uma é a de o médico conseguir fazer o diagnóstico. Por exemplo, ele atende uma mulher com um nódulo no seio. Até encaminhar para biópsia, a paciente tem que entrar numa fila e demora a fazer o exame. Depois, demora para sair o resultado. Em segundo, quando o médico tem os dados na mão, o paciente tem que conseguir lugar para fazer a cirurgia ou a quimioterapia. Quer dizer, o sistema é muito emperrado. Não é um problema só. Médicos e pacientes vão somando esses pequenos atrasos e, no fim, todos sofrem.

JC – Contextualizando para uma realidade mais local. Em relação ao boom de notificações dos primeiros casos de microcefalia em 2015 e ao cenário atual, o senhor enxerga alguma diferença?

DRAUZIO – Acho que a dificuldade agora é o governo dar assistência a essas crianças. Elas irão demandar assistência para sempre. E essa é uma assistência demorada, especializada, uma área que o SUS tem muita dificuldade de atendimento, que é a de fisioterapia, neuroestimulação, acompanhamento do desenvolvimento dessas crianças. E aqui, em Pernambuco, foram muitas, e crianças espalhadas por esse interior, por cidades pequenas que não têm condições de oferecer tratamento adequado.

JC – Como estrela da campanha de combate ao Aedes aegpyti promovida pelo governo federal, o senhor vê avanço nessa área?

DRAUZIO – Acho que sim. A dengue diminuiu no País inteiro. A chicungunha e a zika também diminuíram. O Estado de São Paulo, por exemplo, teve queda brutal no número de casos registrados. Quero crer que é o resultado dessa conscientização de toda a população.

Confira a palestra completa no live transmitido pelo Facebook: