Estudo desvenda mecanismo que leva à imunossupressão após sepse

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 04/04/2017 às 13:43
Pesquisadores descreveram cascata de eventos que comprometem o equilíbrio a homeostase do sistema imune, elevando o risco de infeções recorrentes e de morte (Foto ilustrativa: Pixabay)
Pesquisadores descreveram cascata de eventos que comprometem o equilíbrio a homeostase do sistema imune, elevando o risco de infeções recorrentes e de morte (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: Pesquisadores descreveram cascata de eventos que comprometem o equilíbrio a homeostase do sistema imune, elevando o risco de infeções recorrentes e de morte (Foto ilustrativa: Pixabay)

Da Agência Fapesp de notícias

Pacientes que sobrevivem a quadros graves de sepse – condição popularmente conhecida como infecção generalizada – costumam apresentar nos anos seguintes à alta hospitalar uma queda acentuada na imunidade, ficando suscetíveis a patógenos oportunistas e, até mesmo, ao surgimento ou recaída de tumores.

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O mecanismo causador dessa disfunção no sistema imune foi descrito na revista Nature Communications por cientistas do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP. Esse conhecimento, segundo os autores do artigo, pode abrir caminho para intervenções capazes de amenizar o problema.

“Nos estágios mais graves de sepse, a inflamação exacerbada causa lesões em órgãos como pulmão, coração, rim e fígado. Nossos resultados indicam que o mecanismo disparado pelo organismo para promover o reparo desses tecidos também acaba levando à imunossupressão”, contou José Carlos Farias Alves Filho, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da Universidade de São Paulo (USP), e coordenador do estudo.

Como explicou o pesquisador, a sepse é caracterizada por uma inflamação sistêmica, geralmente desencadeada por uma infecção bacteriana localizada que saiu de controle. O quadro inclui mudanças na temperatura corporal, pressão arterial, frequência cardíaca, contagem de células brancas do sangue e respiração, podendo permanecer ativo mesmo após os patógenos terem sido eliminados. Nas formas mais graves, os pacientes desenvolvem lesões que comprometem o funcionamento de órgãos vitais.

“A falência orgânica pode ser agravada por uma queda acentuada na pressão arterial, que dificulta a irrigação dos tecidos. Esse é o estágio mais grave, conhecido como choque séptico, do qual apenas 50% dos pacientes escapam com vida. Aqueles que sobrevivem costumam apresentar sequelas neurológicas, cardiovasculares e imunológicas”, disse Alves Filho.

Dados da literatura científica indicam que a imunossupressão induzida pela sepse pode durar por até cinco anos, elevando o risco de infecções recorrentes e de morte. Em um estudo anterior, publicado na revista Critical Care Medicine, o grupo do CRID mostrou que 100% dos camundongos que sobrevivem à sepse grave morrem após serem contaminados com uma bactéria oportunista causadora de infecção respiratória.

Para induzir a sepse grave nos animais, os pesquisadores de Ribeirão Preto adaptaram um modelo clássico, conhecido como ligadura e perfuração cecal (CLP, na sigla em inglês), no qual uma abertura é feita no intestino de forma a permitir o extravasamento de fezes e de bactérias para a cavidade peritoneal. “Esse procedimento leva ao desenvolvimento de peritonite e simula o que ocorre em pacientes com apendicite supurada, por exemplo. Para induzir um quadro mais grave, fizemos quatro furos em vez de um, como tradicionalmente é feito, e usamos uma agulha mais grossa”, explicou Alves Filho.

O modelo foi padronizado no estudo anterior, no qual os pesquisadores mostraram que, após o tratamento com antibióticos, apenas 50% dos camundongos sobrevivem. O índice é semelhante ao de humanos acometidos por sepse grave. Ao avaliar o sistema imune dos animais 15 dias após o término da fase aguda, notaram que havia um aumento de mais de 30% na quantidade de linfócitos T reguladores (T-reg), um tipo de célula de defesa com ação imunossupressora.

“As células T-reg têm um papel importante, pois evitam que o sistema imune ataque tecidos do próprio organismo, desencadeando doenças autoimunes. Mas elas precisam existir em uma proporção adequada. Em um organismo sadio, representam entre 6% e 10% de todos os linfócitos do tipo CD4. Uma pequena variação nesse número, tanto para baixo como para cima, compromete o equilíbrio a homeostase do sistema imune”, explicou Alves Filho.

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