Campanha alerta para acidentes de trânsito relacionados a distúrbios do sono

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 15/03/2017 às 21:36
Estatísticas apontam o sono e o cansaço como responsáveis por cerca de 20% dos acidentes de trânsito no mundo (Foto: Pixabay)
Estatísticas apontam o sono e o cansaço como responsáveis por cerca de 20% dos acidentes de trânsito no mundo (Foto: Pixabay) FOTO: Estatísticas apontam o sono e o cansaço como responsáveis por cerca de 20% dos acidentes de trânsito no mundo (Foto: Pixabay)

Para alertar a sociedade sobre o perigo que o cansaço e distúrbios de sono podem representar no trânsito, a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) lançará uma campanha nacional sobre o tema. Para ter uma ideia, estatísticas apontam o sono e o cansaço como responsáveis por cerca de 20% dos acidentes de trânsito no mundo. A iniciativa conta com o apoio da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), do Conselho Regional de Medicina de São Paulo e da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).

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O lançamento oficial será nesta quinta-feira (16), em São Paulo. As ações começarão a partir da sexta-feira (17), data em que se destaca o Dia Mundial do Sono. A partir de então, a campanha se estenderá por vários estados, com peças publicitárias, divulgação em redes sociais e ações em espaços públicos, como estradas, parques e outros pontos. Haverá distribuição de materiais informativos à população, intervenções em pedágios e orientação por parte de médicos especialistas.

A campanha da ABN surgiu a partir da constatação de que o olhar das autoridades está focado somente em outras causas de acidentes, como bebidas alcoólicas e uso de aparelho celular. "Queremos chamar atenção não apenas do motorista, mas, também, dos órgãos reguladores, uma vez que a distração causada pelos smartphones desvia o foco da mesma forma que a sonolência. Ou seja, condução do veículo, trajeto, velocidade e estrada são relegadas ao segundo plano", esclarece Gilmar Fernandes do Prado, presidente da ABN.

Normalmente, a resposta a um estímulo acontece por volta de 100 a 250 milisegundos – em caso de sonolência, varia para 150 a 500 milisegundos. Quando em velocidades mais altas, essa diminuição de reflexo eleva o risco de acidentes fatais. “Se o indivíduo é privado de sono ou é portador de um distúrbio, tem chance muito maior de causar um acidente, próximo ao que acontece com o álcool”, alerta José Heverardo da Costa, presidente da Abramet.

Montal ressalta, ainda, que a união das instituições ligadas ao tráfego e à neurologia será capaz de promover conscientização de maneira efetiva e enfática, abordando as diferentes esferas do problema. "A população deve compreender que o sono é um fenômeno indispensável à saúde humana. Logo, se você está programando uma viagem, é preciso separar um tempo para descansar e recuperar a energia", pontua.

Apneia

Resultado da maior resistência nas vias aéreas, a apneia obstrutiva do sono dificulta a passagem de ar durante o sono. Acarreta maior incidência de hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e alterações metabólicas e hormonais, causa sonolência diurna, irritabilidade e cansaço.

Reconhecer e tratar a AOS é importante, pois indivíduos com AOS apresentam risco de acidentes de trânsito 2 a 7 vezes maior. No Brasil, segundo o presidente da ABN, uma barreira no combate ao problema é o desconhecimento, o que gera a falta de pressão popular para o desenvolvimento de medidas preventivas. "Isso provoca dificuldade de patrocínio para ações que visem à conscientização. Ou seja, a gravidade da apneia não é reconhecida pela sociedade em geral, impactando na prevenção, no diagnóstico e no tratamento", lamenta Gilmar Fernandes do Prado.

O resultado é que os acidentes de tráfego ocasionados pelo distúrbio não são reconhecidos, uma vez que seus principais sintomas, como ronco e sonolência diurna, são mascarados pelos pacientes.

“Não há um medidor de sono que qualifique a apneia, como o bafômetro indica o nível do álcool. Já existem alguns aparelhos que funcionam como marcadores de sonolência, porém, inacessíveis à Polícia Federal. A alternativa seria criar um marcador que identifique a quantidade de amilase presente na saliva, uma vez que a sonolência eleva a presença dessa enzima. Porém, concomitantemente precisaria ser feita uma escala para contar essa quantidade em distúrbios de sono, pois seu aumento pode ser decorrente de outros fatores”, finaliza.

Legislação

Graças à Resolução nº 452/2012 do Departamento Nacional de Transito (Denatran), o exame médico para emissão e renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) está mais rígido. Todos os candidatos precisam passar por testes específicos para detectar possíveis distúrbios de sono – além das avaliações cardiológica, neurológica, oftalmológica e auditiva.

Na consulta, são avaliados alguns fatores de risco, como o grau de sonolência diurna através da escala de sonolência de Epworth. Caso sejam identificados indícios de apneia de sono, o médico de tráfego pode encaminhar ao especialista, que indicará a polissonografia para confirmação diagnóstica e planejamento terapêutico.