Grupo da USP cria coleção de células-tronco com características genéticas brasileiras

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 03/11/2016 às 15:53
Material sobre células-tronco poderá ser usado em terapia, desenvolvimento de novos medicamentos e estudos de doenças (Foto ilustrativa: Free Images)
Material sobre células-tronco poderá ser usado em terapia, desenvolvimento de novos medicamentos e estudos de doenças (Foto ilustrativa: Free Images) FOTO: Material sobre células-tronco poderá ser usado em terapia, desenvolvimento de novos medicamentos e estudos de doenças (Foto ilustrativa: Free Images)

Da Agência Fapesp de notícias

Uma coleção de células-tronco pluripotentes capaz de refletir a mistura genética da população brasileira foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) vinculados ao Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionária (LaNCE). Resultados da pesquisa, que contou com apoio da FAPESP, foram publicados na revista Scientific Reports, do grupo Nature.

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“Além do uso em terapias, essas células-tronco poderão ser úteis no desenvolvimento de novos medicamentos – complementando ou até mesmo substituindo testes em animais e aumentando a segurança dos ensaios em humanos. Também poderão auxiliar no estudo de doenças comuns em nossa população”, disse Lygia da Veiga Pereira, coordenadora do LaNCE, em entrevista à Agência FAPESP.

A equipe de Pereira já vinha cultivando há alguns anos linhagens de células-tronco embrionárias derivadas de embriões congelados durante procedimentos de fertilização in vitro. No entanto, segundo a pesquisadora, análises genômicas revelaram que essas linhagens não eram representativas da população brasileira, pois apresentavam mais de 90% de ancestralidade europeia.

“Esses embriões vinham de clínicas privadas, às quais apenas uma pequena parcela da população tem acesso. Os serviços públicos não congelam os embriões excedentes por uma questão de custo. Decidimos então firmar parceria com o grupo do ELSA-Brasil [Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto]."

Financiado pelos ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o ELSA é um estudo multicêntrico que vem sendo realizado desde 2008 em seis universidades brasileiras de diferentes estados. Ao todo, são acompanhados 15.105 homens e mulheres entre 35 e 74 anos, sendo 5 mil deles no Hospital Universitário (HU) da USP, sob coordenação de Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina.

Os voluntários passam por exames periódicos com o objetivo de se identificar o risco de doenças cardiovasculares e diabetes. De acordo com Lotufo, no primeiro exame foram colhidas e guardadas amostras biológicas, que posteriormente serviram de base para a criação da nova biblioteca de células-tronco.

Reprogramação celular

A equipe do LaNCE fez uso de uma técnica premiada com o Nobel de Medicina em 2012 e descrita em 2006 por Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, no Japão. O método consiste em inserir na célula adulta – nesse caso, células do sangue periférico dos voluntários do ELSA – certas proteínas capazes de reprogramar o genoma celular.

Esses fatores de transcrição, como são conhecidos, ativam genes relacionados ao estágio embrionário da célula e desligam outros genes que deveriam estar ativos após o amadurecimento. São criadas assim células-tronco pluripotentes induzidas (IPS) que podem, com o devido estímulo, se diferenciar nos mais diversos tecidos do corpo humano.

“Criamos uma biblioteca inicial com 23 linhagens celulares apenas como prova de conceito. Mas temos amostras de 1.872 indivíduos e podemos criar novas linhagens de acordo com a demanda da comunidade científica ou de laboratórios farmacêuticos”, afirmou Pereira.

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